02/06/2021 07:00 - Valor Econômico
Por Stella Fontes — De São Paulo
Os primeiros veículos elétricos de pouso e decolagem vertical (eVTOLs) da Eve Urban Air Mobility entrarão em serviço em 2026 e, embora a primeira grande encomenda seja direcionada ao mercado internacional, o Brasil também está no radar da startup de “carros voadores” da Embraer. “É possível esperar novidades muito em breve”, disse ao Valor o presidente da empresa de soluções de mobilidade aérea urbana, André Stein.
A Eve foi lançada no ano passado como empresa independente pela EmbraerX, braço de inovação radical da fabricante de aeronaves brasileira, e anunciou ontem seu primeiro pedido, um dos maiores da indústria. Como parte de uma parceria mais ampla de desenvolvimento de produtos e serviços, o acordo com a Halo, líder em operações de táxi aéreo de helicóptero nos Estados Unidos e no Reino Unido, inclui 200 unidades do eVTOL que está em desenvolvimento há cerca de quatro anos.
O início das entregas está previsto para 2026. Num primeiro momento, o plano é produzir a aeronave em uma das fábricas brasileiras da Embraer - ainda não há decisão final sobre a unidade que vai sediar a montagem do veículo que promete quebrar paradigmas no transporte urbano, explicou Stein.
A cadência e o valor do contrato - avaliado como “considerável” - não foram divulgados por razões estratégicas. Mas, por se tratar de um mercado que pode chegar a 160 mil unidades em 2050 segundo pesquisa da Roland Berger apresentada no ano passado, espera-se que o ritmo seja maior do que normalmente visto na aviação.
Já o custo total do eVTOL corresponde a dois terços do custo de um helicóptero equiparável, como um biturbina que faz táxi aéreo em Nova York. A redução nos custos de manutenção também é considerável em relação ao helicóptero tradicional.
Conforme o executivo, a Eve já trabalhava com a perspectiva de início de operação do eVTOL em 2026, mas ainda não havia fixado uma data publicamente por se tratar de um programa novo, e de novas tecnologias. A expectativa é a de que a certificação junto às agências reguladoras - o foco inicial está nos Estados Unidos (FAA), na Europa (EASA) e no Brasil (Anac) - seja obtida em tempo hábil para que as entregas à Halo possam ser iniciadas num prazo de cinco anos a partir de agora. Há conversas também na Austrália, acrescentou Stein.
Na avaliação do executivo, o fato de o acordo englobar também um pedido firme significativo de aeronaves dá novo fôlego ao projeto. No Reino Unido, além da ordem da Halo, a Eve lidera um consórcio de empresas de mobilidade área e aeronáutica que trabalha em conjunto para integrar os eVTOLs ao espaço aéreo do Reino Unido.
Em nota, o diretor do Directional Aviation, fundo de investimento do qual a Halo faz parte, Kenneth C. Ricci, disse que a aeronave projetada pela Eve está “bem preparada para a certificação inicial e, além disso, apresenta um histórico comprovado de produção”. “O relacionamento entre a Embraer e a Eve criará uma das infraestruturas globais de suporte ao produto mais bem-sucedidas do setor”, afirmou, acrescentando que o trabalho que Eve e Embraer executaram em relação ao sistema de gerenciamento de tráfego contribuem para essa avaliação.
A parceria entre Eve e Halo também se estende ao desenvolvimento contínuo do sistema de gestão de tráfego aéreo urbano bem como nas ofertas de serviços e operações de frotas. “A força das operações internacionais da Halo, junto com o portfólio de UAM [mobilidade aérea urbana] da Eve, será uma demonstração importante de como essas parcerias podem aumentar a acessibilidade e viabilidade financeira, à medida que essas duas empresas trabalham para escalar com segurança as operações de UAM em todo o mundo”, informou a Embraer, em nota.
O eVTOL da Eve, cujo design é visto como simples e intuitivo, atingiu marcos como o primeiro voo do simulador de engenharia em julho de 2020 e modelo em escala em outubro. A startup conta com ainda com suporte da Atech, subsidiária da Embraer de gerenciamento de tráfego aéreo. (Colaborou Allan Ravagnani)