25/05/2016 07:54 - O Globo
A nota saiu no GLOBO de 31 de outubro de 1925: “A Empreza Guy Motors Limited, de Wolverhampton, assignou um contrato com a Rio de Janeiro Light and Power Company, para o fornecimento de auto-omnibus no valor de trinta a quarenta mil libras esterlinas”.
Dois andares. Com chassi inglês e carroceria construída no Rio, os ônibus Imperial circularam de 1928 a 1941. Logo foram apelidados de “Chopp duplo”
Hoje conhecida pela distribuição de energia, a Light já dominou os sistemas de gás e telefonia da cidade, além de operar os bondes e ônibus elétricos. Não à toa, a companhia fundada em Toronto, em 1899, era chamada de “o polvo canadense”.
Já a inglesa Guy Motors fez fama ao inventar, em 1924, o primeiro chassi rebaixado para ônibus. Isso modificou o jeito de se transportar passageiros: era mais fácil embarcar (bastava galgar um degrau), baixava-se o centro de gravidade e, consequentemente, obtia-se conforto e facilidade de dirigir.
Ao ganhar uma concessão para explorar ônibus convencionais, a Light quis criar um serviço de qualidade que superasse o amadorismo então vigente. Os dirigentes da empresa canadense ficaram impressionados com a solução técnica da Guy Motors e encomendaram 170 chassis aos ingleses. Em junho de 1926, a Light fundou a Viação Excelsior, “um serviço de autoomnibus de alto luxo”.
Os chassis vinham da Inglaterra e eram equipados com motores a gasolina, de 35cv a 90cv, fornecidos pela também britânica Daimler (que, a essa altura, já não tinha nada a ver com a homônima alemã). Já as carrocerias, de madeira, eram construídas nas oficinas da Light, na antiga Avenida Lauro Müller (ficava entre a Francisco Bicalho e a Praça da Bandeira).
Além dos ônibus comuns, com dois eixos e lotação de 32 passageiros, a Light passou a fazer um modelo com três eixos e dois andares. E o GLOBO de 27 de março de 1928 relatou:
“Examinámos o primeiro omnibus do tipo Imperial (...). Como se sabe, essa classe de veículos consta de dous pavimentos. No inferior vão distribuidos 12 bancos, oito dos quaes aos pares e quatro alinhados lateralmente (...). Na parte superior, isto é, na ‘imperial’, para onde se sobe por elegante escada de volta, há 17 bancos para dous passageiros (...). A instalação para o chauffeur é commoda e elegante. Como medida de previdencia, ha no vehiculo um extinctor de incendio”.
A estreia, na linha Estrada de Ferro-Lapa, foi um “successo de curiosidade”:
“Hontem, uma melindrosa encantadora, desejando viajar por cima dos outros, fez parar o Imperial, galgou os degráos e verificou que não havia um só logar. Todos os bancos estavam occupados por senhorinhas da élite (...)”, contava o GLOBO em 17 de abril de 1928.
O carioca logo pôs apelidos no ônibus. O que pegou foi “Chopp duplo”. Vinha do lunfardo portenho: em Buenos Aires, ao pedir uma tulipa grande, os boêmios diziam: “Garçom, um Imperial!”.
“Um passeio no Imperial vale uma festa!”, propagandeava a Light. No carnaval de 1932, o Chopp duplo tomou parte no corso da Avenida Rio Branco. Por módicos 400 réis, os passageiros podiam ver de cima, “com sensação de aeroplano”, as batalhas de confete e desfiles. E havia acidentes, como quando um Imperial perdeu o teto ao enfrentar um galho de árvore.
Em 6 de dezembro de 1941, O GLOBO anunciou o fim iminente dos Chopps duplos. Já considerados obsoletos e pesadões, estavam restritos às linhas Leopoldina-Arcos e Leopoldina-Clube Naval. Seus chassis passaram a vestir carrocerias convencionais e os motores foram convertidos ao gasogênio. Foi a saideira do double-decker carioca.