Formigueiro. Passageiros se espremem nas plataformas da Estação São Cristóvão da SuperVia: um dia após descarrilamento, a 700 metros da Central do Brasil, trens circularam com intervalos irregulares, e estações ficaram lotadas
O Rio viveu ontem um dia de caos nos trens. A queda de um
homem que viajava numa composição superlotada e com a porta aberta expôs mais
uma vez o grau de insegurança no transporte público da cidade, encerrando de
forma preocupante duas semanas de sofrimento para os passageiros. Nesse
período, houve um caso de estupro de uma turista numa van irregular, a queda de
um ônibus de um viaduto na Avenida Brasil (acidente que matou sete pessoas), a
invasão de um posto de gasolina em Quintino por um coletivo desgovernado e três
descarrilamentos de trens - o último deles na noite de anteontem.
A queda do passageiro, na manhã de ontem, entre as estações
de Deodoro e Vila Militar, tumultuou ainda mais o dia que já começara
complicado, devido ao descarrilamento ocorrido na véspera, às 21h50m, a 700
metros da Central do Brasil. O acidente, que causou pânico entre os
passageiros, paralisou temporariamente a circulação de trens. O sistema só foi
normalizado depois do meio-dia, quando foi liberada a linha do ramal de Santa
Cruz, que havia sido interditada.
Trens circularam com
horários irregulares
Durante toda a manhã de ontem, estações lotadas e trens com
horários irregulares dificultaram a ida para o trabalho de centenas de milhares
de usuários.
- Ele escorregou e caiu na caixa de areia que fica na beira
da linha do trem. Deve ter se machucado, porque o trem estava andando bem -
contou o confeiteiro Sidney das Chagas de Tiago, de 38 anos, sobre o passageiro
que despencou, acrescentando que havia outras pessoas penduradas na porta. - Há
15 anos ando de trem, e a situação só piora. O governo não investe no
transporte público. E ainda querem acabar com o transporte alternativo. Como é
que vamos ficar?
Sidney pegou o trem em Bangu e desceu em São Cristóvão.
Passageiros reclamaram de muito calor nas composições e disseram que algumas
pessoas passaram mal.
A assistente comercial Simone Pinheiro, de 27 anos, disse
que demorou uma hora na estação de Madureira para conseguir entrar num trem,
pois todos passavam muito cheios.
- O trem já chegava lotado. No trajeto, parou a toda hora no
meio do nada, esperando sinalização. Aconteceu tudo: demora, confusão entre as
pessoas entrando e saindo do trem, muito calor dentro dele, vagões de portas
abertas - contou a passageira.
Estação São Cristóvão
ficou lotada
Mais cedo, os trens do ramal de Deodoro só circulavam até a
estação São Cristóvão, que ficou superlotada. A estação Praça da Bandeira
permaneceu fechada para embarque e desembarque até o início da tarde. No começo
da manhã, os intervalos entre os trens chegavam a 30 minutos em todas as
estações, segundo a concessionária SuperVia. No entanto, houve relatos de que
os intervalos foram bem maiores. O passageiro Vagner Zampieri afirmou que os
trens diretos estavam demorando de 40 a 50 minutos de Madureira ao Centro. A
circulação nos ramais Japeri, Santa Cruz e Deodoro só foi normalizada às
12h32m.
A Agência Reguladora de Transportes (Agetransp) instaurou um
boletim de ocorrência para apurar o acidente de ontem e o descarrilamento de
quinta-feira. Em nota, o órgão informou que iniciou um levantamento dos trilhos
da SuperVia no pátio da Central do Brasil, para fazer um diagnóstico de todos
os 76 aparelhos de mudança de via naquele local. O objetivo é descobrir a causa
da sequência de descarrilamentos nos trilhos próximos à Central.
Já a SuperVia informou que criou uma comissão interna para
apurar, "imediatamente, as causas dos últimos descarrilamentos nas
imediações da Central do Brasil". A empresa informou ainda que já
identificou falha no procedimento de manutenção de via, o que pode ter sido a
causa dos recentes problemas, e providenciou "o desligamento" do
profissional responsável. "Um diagnóstico minucioso sobre os mais de 450
aparelhos que realizam a mudança de via está em curso, assim como a troca de
todo o estoque dos equipamentos da via férrea", conclui a nota da
SuperVia.
Empresa dá
assistência a passageiro
Sobre o passageiro Carlos Moraes Rosa, que caiu de uma
composição, sofrendo ferimentos na cabeça e na boca, a concessionária informou
que arcará com os custos de seu tratamento, prestando apoio a ele e à sua
família, por meio de assistentes sociais. Carlos Moraes foi medicado no
Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e liberado.
Ao comentar os últimos acidentes envolvendo os trens da
SuperVia, o governador Sérgio Cabral afirmou que o estado vive a transformação
de um sistema que durante décadas foi sucateado:
- É um momento de transição de um sistema totalmente
sucateado, ao longo de décadas, para equipamentos novos e modernos. Isso
aumenta a demanda.
Cabral defendeu ainda os investimentos que vêm sendo feitos
no setor:
- Em 2007, eram 370 mil passageiros. Hoje são 600 mil, um aumento de quase 100%. Quando eu cheguei ao governo, eram dez trens com ar-condicionado. Hoje são mais de 60, sendo que 50 são novos. Temos mais 60 trens encomendados que vão chegar a partir de abril ou maio do ano que vem.
Extra – RJ
O passageiro que caiu de um trem da SuperVia na manhã desta
sexta-feira encontra-se em estado grave. Carlos Alberto Moraes Rosa, de 38
anos, que ia para o trabalho pelo ramal de Santa Cruz rumo à Central, sofreu a
queda entre as estações da Vila Militar e de Deodoro. À noite, ele foi
transferido para o CTI do Hospital Bangu, com hemorragia interna e quatro ossos
fraturados. Segundo testemunhas, os vagões estavam lotados e com portas
abertas.
Após o acidente, Carlos Alberto foi levado para o Hospital
Albert Schweitzer, em Realengo, e, de acordo com a família, teve alta à tarde.
Como ainda sentia muitas dores, foi levado por parentes para a unidade
particular, onde se constatou que tinha fraturas em quatro ossos da face e uma
costela, que perfurou o pulmão.
- Ele costumava pegar o trem só quando estava atrasado,
porque é lotado. Hoje não conseguiram fechar a porta, quando o trem fez a
curva, ele se desequilibrou e foi empurrado para o lado de fora. Quebrou os
dentes, levou pontos no rosto, no braço e está cheio de dor. Ele teve alta no
Albert Schweitzer e agora está sendo internado no CTI. Ele sempre reclamou da
superlotação. Mas às vezes, como hoje, não tinha opção - contou Enilda Santos,
esposa de Carlos Alberto.
Procurada, a Secretaria estadual de Saúde não soube
informar, até o fim da noite, se o homem realmente havia tido alto do Hospital
Albert Schweitzer