Acidente expõe caos no transporte de trens do Rio

13/04/2013 07:00 - O Globo

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Formigueiro. Passageiros se espremem nas plataformas da Estação São Cristóvão da SuperVia: um dia após descarrilamento, a 700 metros da Central do Brasil, trens circularam com intervalos irregulares, e estações ficaram lotadas


O Rio viveu ontem um dia de caos nos trens. A queda de um homem que viajava numa composição superlotada e com a porta aberta expôs mais uma vez o grau de insegurança no transporte público da cidade, encerrando de forma preocupante duas semanas de sofrimento para os passageiros. Nesse período, houve um caso de estupro de uma turista numa van irregular, a queda de um ônibus de um viaduto na Avenida Brasil (acidente que matou sete pessoas), a invasão de um posto de gasolina em Quintino por um coletivo desgovernado e três descarrilamentos de trens - o último deles na noite de anteontem.

A queda do passageiro, na manhã de ontem, entre as estações de Deodoro e Vila Militar, tumultuou ainda mais o dia que já começara complicado, devido ao descarrilamento ocorrido na véspera, às 21h50m, a 700 metros da Central do Brasil. O acidente, que causou pânico entre os passageiros, paralisou temporariamente a circulação de trens. O sistema só foi normalizado depois do meio-dia, quando foi liberada a linha do ramal de Santa Cruz, que havia sido interditada.

Trens circularam com horários irregulares

Durante toda a manhã de ontem, estações lotadas e trens com horários irregulares dificultaram a ida para o trabalho de centenas de milhares de usuários.

- Ele escorregou e caiu na caixa de areia que fica na beira da linha do trem. Deve ter se machucado, porque o trem estava andando bem - contou o confeiteiro Sidney das Chagas de Tiago, de 38 anos, sobre o passageiro que despencou, acrescentando que havia outras pessoas penduradas na porta. - Há 15 anos ando de trem, e a situação só piora. O governo não investe no transporte público. E ainda querem acabar com o transporte alternativo. Como é que vamos ficar?

Sidney pegou o trem em Bangu e desceu em São Cristóvão. Passageiros reclamaram de muito calor nas composições e disseram que algumas pessoas passaram mal.

A assistente comercial Simone Pinheiro, de 27 anos, disse que demorou uma hora na estação de Madureira para conseguir entrar num trem, pois todos passavam muito cheios.

- O trem já chegava lotado. No trajeto, parou a toda hora no meio do nada, esperando sinalização. Aconteceu tudo: demora, confusão entre as pessoas entrando e saindo do trem, muito calor dentro dele, vagões de portas abertas - contou a passageira.

Estação São Cristóvão ficou lotada

Mais cedo, os trens do ramal de Deodoro só circulavam até a estação São Cristóvão, que ficou superlotada. A estação Praça da Bandeira permaneceu fechada para embarque e desembarque até o início da tarde. No começo da manhã, os intervalos entre os trens chegavam a 30 minutos em todas as estações, segundo a concessionária SuperVia. No entanto, houve relatos de que os intervalos foram bem maiores. O passageiro Vagner Zampieri afirmou que os trens diretos estavam demorando de 40 a 50 minutos de Madureira ao Centro. A circulação nos ramais Japeri, Santa Cruz e Deodoro só foi normalizada às 12h32m.

A Agência Reguladora de Transportes (Agetransp) instaurou um boletim de ocorrência para apurar o acidente de ontem e o descarrilamento de quinta-feira. Em nota, o órgão informou que iniciou um levantamento dos trilhos da SuperVia no pátio da Central do Brasil, para fazer um diagnóstico de todos os 76 aparelhos de mudança de via naquele local. O objetivo é descobrir a causa da sequência de descarrilamentos nos trilhos próximos à Central.

Já a SuperVia informou que criou uma comissão interna para apurar, "imediatamente, as causas dos últimos descarrilamentos nas imediações da Central do Brasil". A empresa informou ainda que já identificou falha no procedimento de manutenção de via, o que pode ter sido a causa dos recentes problemas, e providenciou "o desligamento" do profissional responsável. "Um diagnóstico minucioso sobre os mais de 450 aparelhos que realizam a mudança de via está em curso, assim como a troca de todo o estoque dos equipamentos da via férrea", conclui a nota da SuperVia.

Empresa dá assistência a passageiro

Sobre o passageiro Carlos Moraes Rosa, que caiu de uma composição, sofrendo ferimentos na cabeça e na boca, a concessionária informou que arcará com os custos de seu tratamento, prestando apoio a ele e à sua família, por meio de assistentes sociais. Carlos Moraes foi medicado no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e liberado.

Ao comentar os últimos acidentes envolvendo os trens da SuperVia, o governador Sérgio Cabral afirmou que o estado vive a transformação de um sistema que durante décadas foi sucateado:

- É um momento de transição de um sistema totalmente sucateado, ao longo de décadas, para equipamentos novos e modernos. Isso aumenta a demanda.

Cabral defendeu ainda os investimentos que vêm sendo feitos no setor:

- Em 2007, eram 370 mil passageiros. Hoje são 600 mil, um aumento de quase 100%. Quando eu cheguei ao governo, eram dez trens com ar-condicionado. Hoje são mais de 60, sendo que 50 são novos. Temos mais 60 trens encomendados que vão chegar a partir de abril ou maio do ano que vem.

Extra – RJ

O passageiro que caiu de um trem da SuperVia na manhã desta sexta-feira encontra-se em estado grave. Carlos Alberto Moraes Rosa, de 38 anos, que ia para o trabalho pelo ramal de Santa Cruz rumo à Central, sofreu a queda entre as estações da Vila Militar e de Deodoro. À noite, ele foi transferido para o CTI do Hospital Bangu, com hemorragia interna e quatro ossos fraturados. Segundo testemunhas, os vagões estavam lotados e com portas abertas.

Após o acidente, Carlos Alberto foi levado para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e, de acordo com a família, teve alta à tarde. Como ainda sentia muitas dores, foi levado por parentes para a unidade particular, onde se constatou que tinha fraturas em quatro ossos da face e uma costela, que perfurou o pulmão.

- Ele costumava pegar o trem só quando estava atrasado, porque é lotado. Hoje não conseguiram fechar a porta, quando o trem fez a curva, ele se desequilibrou e foi empurrado para o lado de fora. Quebrou os dentes, levou pontos no rosto, no braço e está cheio de dor. Ele teve alta no Albert Schweitzer e agora está sendo internado no CTI. Ele sempre reclamou da superlotação. Mas às vezes, como hoje, não tinha opção - contou Enilda Santos, esposa de Carlos Alberto.

Procurada, a Secretaria estadual de Saúde não soube informar, até o fim da noite, se o homem realmente havia tido alto do Hospital Albert Schweitzer