Câmara aprova marco que autoriza ferrovias privadas no Brasil

14/12/2021 10:30 - O Estado de SP

O novo Marco Legal das Ferrovias teve o texto-base aprovado pela Câmara ontem em por votação simbólica e sob oposição de partidos de esquerda. O avanço da matéria dá segurança a potenciais projetos ferroviários que envolvem R$ 150 bilhões de investimentos privados.

Os deputados analisarão em outra sessão as sugestões de mudança no texto, os chamados destaques. Se alguma alteração for aprovada, a matéria precisará voltar para a análise dos senadores. Do contrário, poderá seguir para sanção presidencial.

A principal novidade do marco legal é liberar um novo regime ferroviário no País, chamado de autorização. Nele, novos traçados são construídos exclusivamente pelo interesse da iniciativa privada, sem licitação. Comum em países como Estados Unidos e Canadá, o modelo nasce para atender demandas específicas de transporte de cargas, identificadas pelos próprios produtores e empresas.

Com uma regulação mais branda, o regime é baseado nos princípios da livre concorrência e da liberdade de preços – ou seja, sem intervenção do poder público na definição das tarifas de transporte.

Com isso, o novo sistema permitirá que, depois de mais de 100 anos, o Brasil volte a ter ferrovias privadas. As regras eram discutidas pelo Senado desde 2018, mas só foram votadas pela Casa em outubro. Os trâmites de votação foram acelerados após o governo Bolsonaro editar uma medida provisória com conteúdo similar ao do projeto, e que liberou o novo regime. Como o movimento do Planalto irritou os senadores, um acordo prevê que o Congresso deixe a MP perder a validade após seu prazo de 120 dias, o que acontece em fevereiro.

INTERESSE. Desde que o governo editou a MP, em agosto, empresas já manifestaram interesse em construir pelo menos 36 novas ferrovias. São projetos que totalizam R$ 150 bilhões de investimentos privados, em 11.142 quilômetros de trilhos que cortam 14 unidades da Federação. Nove desses traçados já foram autorizados pelo governo federal, que assinou os primeiros contratos de ferrovias privadas, envolvendo mais de R$ 50 bilhões, na quinta-feira da semana passada.

O modelo de concessão ferroviária – que viabilizou as operações atuais – continuará existindo, por exemplo, para grandes projetos que envolvem mais de uma carga (de minério e grãos, por exemplo) e cujo traçado corta mais de um Estado.

Nesses casos, há um interesse do Estado, fazendo com que a concessão – com regras mais rígidas, mas também com compartilhamento de riscos com o poder público (União) – seja mais interessante.

O marco também prevê situações em que as atuais concessionárias poderão migrar para o novo modelo de operação. s empresas que administram concessões hoje poderão pedir ao governo a adaptação do contrato para o regime de autorização.