CCR garante mais 30 anos de concessão para a rodovia Dutra

01/11/2021 08:44 - Valor Econômico

Por Taís Hirata — De São Paulo

A CCR venceu com facilidade o leilão da nova concessão da rodovia Dutra e garantiu mais 30 anos de operação da estrada, que já é administrada pelo grupo desde 1996. A oferta vencedora prevê um desconto de 15,31% na tarifa de pedágio (o máximo permitido pelo edital) e outorga de R$ 1,77 bilhão. O único concorrente, a Ecorodovias, propôs um desconto de apenas 10,6% na tarifa, sem outorga - lance que ficou bem abaixo do esperado.

A nova concessão prevê cerca de R$ 15 bilhões de investimentos em obras e melhorias, além de custos operacionais estimados em R$ 11 bilhões, ao longo dos 30 anos de concessão. A disputa foi realizada na última sexta-feira (29), na sede da B3, em São Paulo.

A rodovia BR-116 (Dutra) é considerada um dos ativos de infraestrutura mais atrativos do país, devido a seu tráfego de veículos volumoso e já consolidado. Além disso, as receitas dos pedágios começarão a ser arrecadados desde o início do contrato - o que facilita a estrutura de financiamento. A estrada liga os dois maiores PIBs municipais do país (São Paulo e Rio) e em 2019, antes da pandemia, registrou receita bruta de R$ 1,43 bilhão.

A rodovia foi leiloada juntamente com um trecho da BR-101 (entre a zona oeste do Rio de Janeiro e Ubatuba), que ainda não é pedagiado e tem mais incertezas quanto à movimentação.

No mercado, já havia uma expectativa de competição limitada no leilão, devido ao porte e à complexidade operacional do projeto. Porém, a percepção de analistas é que a incerteza macroeconômica e a instabilidade política afastaram interessados. Outros grupos tradicionais no setor, como Arteris e Pátria, que vinham sendo apontados como candidatos, ficaram de fora.

Para Fernando Vernalha, do Vernalha Pereira Advogados, a expectativa era de mais disputa. “No leilão da BR-163 [realizado em julho deste ano, com apenas um interessado], a justificativa pela falta de competição era que o mercado estava esperando a Dutra. Então a perspectiva era de mais concorrência, inclusive porque a modelagem do projeto é boa e se trata de um ativo muito relevante”, afirmou.

O cenário macroeconômico afastou outros interessados, avalia Massami Uyeda Junior, sócio da Arap, Nishi & Uyeda Advogados. “O desafio deste leilão da Dutra talvez seja tão grande quanto era lá atrás [em 1995], quando foi licitado pela primeira vez. À época, havia mais incertezas regulatórias. Mas hoje há uma perspectiva de deterioração política e econômica.”

Após o resultado, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, minimizou a baixa competição. “Realmente o leilão da Dutra ficou entre os dois maiores operadores. É um leilão para bolso grande, estamos falando do maior leilão da nossa história, em termos de investimentos”, disse.

O ministro também afirmou que há novos grupos estrangeiros interessados no próximo projeto rodoviário do governo federal, a concessão da BR-381/262, entre Minas Gerais e Espírito Santo.

“O segredo para trazer novos ‘players’ é fazer bons projetos e acredito que vamos ver isso com clareza no leilão da BR-381. Estamos falando de uma quantidade interessante de grupos [interessados], inclusive que não estão presentes nas concessões hoje. Estamos confiantes de que teremos novos entrantes na BR-381 e nas novas concessões das rodovias do Paraná”, afirmou.

O leilão da BR-381 estava inicialmente previsto para este mês, mas foi remarcado para 20 de dezembro. Segundo fontes do setor, no mercado já há perspectiva de um possível novo adiamento do projeto para 2022, devido a seu porte e complexidade.

O grupo CCR tem sido o grande destaque nos leilões de infraestrutura deste ano. No primeiro semestre, a companhia arrematou a concessão de dois blocos regionais de aeroportos, além das linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). No início de outubro, a empresa ainda conquistou o aeroporto de Pampulha (MG).

Ainda assim, o grupo diz que há espaço para novos projetos. “A CCR tem um balanço saudável. A companhia encerrou o segundo trimestre com uma relação dívida líquida/Ebitda de 2,3 vezes. Temos uma política de alavancagem de até 3,5 vezes, sendo que podemos superar esse limite, com compromisso de retornar em até 24 meses. Então temos muita capacidade de contratar novos projetos”, afirmou.

“Temos caixa disponível da holding e capacidade de alavancagem. Então a companhia tem balanço, liquidez e capacidade de ser competitiva nos próximos leilões, mesmo com a conquista da Dutra”, completou.

Segundo ele, a companhia ainda estuda participar do leilão da BR-381/262, mas precisa de mais prazo para “calibrar os estudos”, diz Cauduro, “sobretudo em função do cenário recente macroeconômico e do aumento do preço dos insumos”, afirmou.