15/12/2015 07:15 - Folha de SP
RODRIGO RUSSO
Usuários do transporte público paulistano têm enfrentado
prejuízos e longas filas após a recente decisão da Rede Ponto Certo de pôr fim
ao serviço de autoatendimento para recarga do Bilhete Único em estações de
metrô e terminais de ônibus. A empresa é líder do setor na cidade.
Nesta segunda-feira (14), a Folha percorreu diversos pontos
da rede de transporte e constatou a insatisfação dos passageiros com o
desligamento das máquinas para recarga. Das 61 estações de metrô, 21 têm pontos
de venda fora de funcionamento.
Na estação Palmeiras-Barra Funda, dez equipamentos estavam
fora de serviço –uma das máquinas fora inclusive danificada por vândalos.
Enquanto isso, só dois atendentes faziam o carregamento do Bilhete Único nos guichês
de bilheteria.
Em frente à fila que não se dissipava, mesmo na hora do
almoço, duas moças faziam publicidade de um aplicativo recém-lançado para
recarga on-line do cartão.
"Fica muito ruim, a pessoa se atrasa para o trabalho.
Eu já tive que ligar avisando meu chefe que ia demorar", afirmou Daniel,
19, que não quis informar o sobrenome.
Na estação Vergueiro, duas máquinas de outra empresa estavam
em funcionamento. Somente uma delas, contudo, aceitava pagamento em dinheiro
–quando aceitava. A ampliação das filas e a mudança de um ponto de recarga ao
outro após descobrir o problema eram inevitáveis.
Algumas pessoas desistiam do carregamento do cartão e
compravam o bilhete para a viagem na bilheteria do próprio Metrô. Com isso,
abriam mão do benefício de pagar menos pela integração com o ônibus, por
exemplo.
Recorrer à bilheteria tradicional também era a única opção
de quem passava pela estação Paraíso, onde não havia autoatendimento nem
guichês para o Bilhete Único.
De acordo com a Rede Ponto Certo, a suspensão das atividades
nos terminais de autoatendimento ocorreu porque a taxa bruta de remuneração
pelos serviços prestados é muita baixa e não estava sendo reajustada, apesar de
reuniões para renegociação. No mês de novembro, o índice foi de 1,82%.
Em comunicado, a empresa lamentou "ser obrigada a tomar
esta decisão" e afirmou que "estes órgãos [SPTrans e Metrô] estão
inviabilizando as redes atuais".
Para atuar, as empresas se credenciam na SPTrans (empresa
municipal de transportes), que gerencia o Bilhete Único e paga comissões
diferentes de acordo com o tipo de crédito: 3% para o comum, 2% para o
estudantil e 0,8% para o vale-transporte.
Caso desejem instalar guichês ou terminais de
autoatendimento no Metrô, as prestadoras de serviço precisam pagar aluguel pelo
espaço, segundo a metragem que ocupam nas estações, e oferecem um percentual
variável sobre as vendas.
"Não entendo. Está todo mundo recarregando, a fila é
sempre terrível, e as empresas dizem que a grana é baixa", observou Diogo
Jean Pedro, 30, desempregado, enquanto esperava sua vez de ser atendido na
Barra Funda.
A Ponto Certo seguirá com recargas na rede de pontos comerciais, como bancas de jornal, padarias e farmácias. Outras duas empresas, a Perto e a ProData, devem assumir os terminais no metrô.
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OUTRO LADO
Por ter abandonado o contrato de venda de créditos do
Bilhete Único nos terminais de autoatendimento dispostos em estações, fato que
prejudica milhares de usuários, a Rede Ponto Certo foi multada pelo Metrô em R$
508 mil.
Nas 21 estações em que o serviço não está disponível, a
companhia afirma que indica aos passageiros os pontos de venda mais próximos.
A decisão de abandonar os terminais sem aviso prévio foi
recebida com estranheza no Metrô, que informa que em outubro a empresa
manifestou interesse em continuar explorando o serviço nas estações nos
próximos dois anos.
No âmbito da SPTrans, que gerencia o transporte público da
cidade, a empresa não sofrerá punições.
O órgão municipal, sob responsabilidade da gestão Fernando
Haddad (PT), diz que, como o serviço é oferecido com base em sistema de
credenciamento, os interessados têm liberdade para tomar suas decisões
comerciais e deixar de operar sem necessidade de aviso prévio.
Há outras oito companhias nesse ramo em São Paulo, embora
nenhuma tenha o tamanho ou a capilaridade da Ponto Certo –que responde pela
arrecadação de 28% da recarga do Bilhete Único e detém 54,8% dos cerca de 10
mil pontos de atendimento ao usuário na cidade (inclui os localizados em pontos
comerciais, como padarias).
A SPTrans informa ainda que as máquinas de autoatendimento
operadas pela Ponto Certo nos terminais de ônibus estão sendo gradativamente
substituídas por equipamentos das outras empresas credenciadas.