Compartilhar é preciso

25/01/2016 08:20 - O Estado de SP

EDISON VEIGA

A tecnologia ajuda a aproximar interessados em emprestar objetos, alugar o sofá ou dividir o carro; a chave está nas relações pessoa-pessoa, em que fornecedor e consumidor contratam-se diretamente

Compartilhar é preciso para viver no século 21. Do carro à panela de pressão, do livro ao sofá na hora de se hospedar. E a tecnologia ajuda a viabilizar essas redes de intercâmbio. "Estamos vivenciando uma mudança de mentalidade econômica em que a sustentabilidade é fundamental”, avalia a historiadora, socióloga e pedagoga Cláudia Coelho Hardagh, professora de Tecnologia Educacional da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Um exemplo é o site Tem Açúcar?, criado em dezembro de 2014 pela empreendedora social Camila Carvalho Vilela de Moraes, de 26 anos. "Estava estudando a economia de compartilhamento e pensei em uma solução para que as pessoas pudessem usar os recursos já existentes de forma mais sustentável e eficiente”, explica ela.

O serviço cria uma rede entre vizinhos, num raio de 8 quilômetros. Se alguém precisa de uma máquina de escrever, uma panela de pressão ou um aspirador de pó emprestados, ela posta e todos os moradores da região recebem o pedido. Aí, é só combinar como será o empréstimo, qual o prazo de devolução, etc. "Metade das solicitações é atendida”, afirma Camila. A base já tem 78 mil usuários – 25 mil em São Paulo. Por enquanto, tudo é feito pelo site e os pedidos chegam por e-mail. Mas em três meses deve ser lançado um aplicativo, facilitando a interação.

A economia do compartilhamento não necessariamente prescinde do dinheiro. A preferência pode ser por alugar, em vez de emprestar – mas não em comprar. E a chave está nas relações pessoa-pessoa, ou seja, em que fornecedor e consumidor contratam-se diretamente.

Em julho, o empresário Flavio Estevam, de 35 anos, fundou o Dinneer, um serviço de compartilhamento gastronômico. "Notei que nas redes sociais fotos de comida fazem sucesso, sempre com comentários de gente querendo experimentar”, diz. Então ele criou a plataforma, em que qualquer um pode vender um jantar em sua casa – o site fica com 10% do anfitrião e 10% do contratante. Por enquanto, a transação é feita pelo site, mas um aplicativo deve ser lançado. Já há 1,4 mil chefs caseiros cadastrados, 400 de São Paulo.

Estevam se inspirou no Airbnb, empresa fundada na Califórnia em 2008 e que hoje está presente em 35 mil cidades de 192 países. Por meio do serviço, as pessoas podem alugar seu apartamento – completamente ou parte dele – para receber gente de outros lugares. Sites e aplicativos de couchsurfing, que começaram a se popularizar há ao menos uma década, vão ainda mais fundo na ideia de compartilhamento. Neles, viajantes encontram anfitriões dispostos a emprestar o sofá. É o compartilhamento da residência, em um serviço que reinventa o conceito de hospedagem.

Também é possível compartilhar o carro particular. O Fleety, que chegou a São Paulo em fevereiro do ano passado, permite que qualquer pessoa deixe seu veículo disponível para que outro motorista alugue, por hora. Os valores variam de R$ 5 a R$ 50, conforme o modelo. A empresa cobra até 16% de taxa.

Com 20 milhões de usuários no mundo, a BlaBlaCar chegou ao Brasil há dois meses. O aplicativo viabiliza caronas em viagens – no bom e velho esquema em que todos ajudam a rachar os custos. Ele não permite, entretanto, que os usuários lucrem com o serviço. O próprio aplicativo calcula o gasto com combustível e pedágios, dividindo os custos entre os passageiros.