14/05/2015 07:30 - Estado de Minas
Uma das justificativas mais comuns para explicar o trânsito
infernal que o belo-horizontino tem enfrentado nos horários de pico, sobretudo
quando chove, era que o grande número de veículos em circulação é incompatível
com a geometria das ruas e avenidas. Pela primeira vez em 15 anos, a frota de
BH apresentou recuo, de 0,3%, passando de 1.664.487 veículos em fevereiro do
ano passado para 1.660.154 no mesmo período deste ano, mas o tráfego continua
carregado. Só na semana passada, foram dois grandes engarrafamentos que
travaram as vias da capital após chuvas fortes. O primeiro, no dia 5, às 9h,
chegou a 122 quilômetros, e o segundo, com 170 quilômetros, às 18h do dia 6. As
informações são do portal Maplink, que tem parcerias com clientes que fornecem
dados de seu deslocamento em todo o Brasil. O recorde de lentidão na capital
foi registrado em 2013, e passou de 240 quilômetros (veja o quadro ao lado).
Para melhorar esse problema, especialistas cobram obras estratégicas da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), estado e governo federal, prometidas em
anos anteriores, mas até hoje não cumpridas.
A capital mineira registrou os mais longos engarrafamentos
em 2013, sendo que o dia que mais carros ficaram travados foi 4 de outubro
daquele ano, às 18h44, quando 240,52 quilômetros de vias estavam
congestionadas. Naquela tarde, uma sexta-feira, a capital enfrentou chuva
forte, queda de árvores e os congestionamentos se alastraram pelas avenidas
Amazonas, Barão Homem de Melo, Carlos Luz, Cristiano Machado, do Contorno,
Gonçalves Dias, Raja Gabáglia, Tereza Cristina, no Complexo da Lagoinha, Praça
7 e Anel Rodoviário.
Se fosse posicionada em linha reta essa fileira de veículos
seria o pesadelo de qualquer viajante, podendo por exemplo congestionar a
BR-040 entre o Centro de BH e quase chegar na cidade de Juiz de Fora, na Zona
da Mata, que fica a 255 quilômetros da capital. A pior marca do ano passado foi
de 205,14 quilômetros, no dia 28 de novembro, às 18h31, de acordo com a
Maplink. Uma distância próxima a que se percorre pela BR-381 até Ipatinga, no
Vale do Aço, que fica a 209 quilômetros de BH.
Solução na gaveta
Enquanto a PBH, o governo estadual e o Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transporte (Dnit) não desengavetarem projetos como o
Programa de Estrutura Viária de Belo Horizonte (Viurbs), apelidado de "Corta
caminhos”, a ampliação do Anel Rodoviário e a construção dos contornos
metropolitanos Norte, Sul e Leste, a tendência é que problemas crônicos de
trânsito continuem a atrasar os compromissos de quem circula pelas ruas e
avenidas da cidade. A avaliação é do especialista em transporte trânsito
Frederico Rodrigues. "Em BH temos um grande problema com o tráfego de passagem.
Metade dos veículos que chegam ao Centro da cidade não têm aquela região como
destino, mas não têm outra opção de caminho. Enquanto for obrigatório se
transitar pelo Centro, aquela será uma região sensível e vulnerável”, afirma.
O Viurbs é um conjunto de propostas que prevê 148
intervenções para criar alternativas transversais de trânsito de uma região a
outra, descongestionando o Hipercentro da capital. Entre as travessias
propostas está a Via 710 (Cristiano Machado/Andradas), Via 681 (Barão Homem de
Melo/Teresa Cristina) e Via 590 (Avenida Várzea da Palma). Os contornos
metropolitanos são estradas que desviariam o tráfego de passagem que é injetado
dentro do município pelas rodovias que chegam a BH. O contorno Norte ligaria
Betim a Sabará, o contorno Sul, Betim a Nova Lima e o Leste ainda não tem
traçado definido, mas estudos apontam uma rota de conexão entre Nova Lima e
Sabará. Com essa obra o Anel Rodoviário de BH poderia ser desafogado e
ampliado.
Sudecap destaca obras
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap),
que é a responsável pela implantação do Programa de Estrutura Viária de Belo
Horizonte (Viurbs), informou que até agora R$ 220,1 milhões foram investidos,
considerando o Boulevard Arrudas entre as ruas Barbacena e Extrema, cobertura
do ribeirão concluída em maio de 2013, e a Via 210, entre as avenidas Teresa
Cristina e Waldyr Soeiro Einrich (Via do Minério). Há, ainda, em andamento, as
obras da Via 710, inciadas em setembro do ano passado. Orçada em R$
66.180.007,36, a obra é executada com recursos do Programa de Aceleraçação do
Crescimento (PAC) e a conclusão está previsto para o primeiro semestre de 2016.
E também o Boulevard Arrudas entre as ruas 21 de Abril e Rio de Janeiro. São
cerca de 420 metros com previsão de término para o final do segundo semestre de
2015 e custo de R$29.508.280,58 – recursos provenientes do PAC.
Outra obra iniciada neste ano, em fevereiro, é a implantação
de um novo viaduto do Complexo da Lagoinha para ligar o corredor de ônibus da
avenida Cristiano Machado com o hipercentro e a implantação de um novo viaduto
de ligação do túnel superior da Cristiano Machado com o Viaduto Leste. A
expectativa é de conclusão no 1º semestre de 2016. O valor do financiamento é
de R$ 59.864.986,54, com recursos do PAC Mobilidade.
De acordo com a Sudecap, ainda se encontram em fase de
estudo a Via 220, um corredor viário de ligação do Barreiro a Venda Nova
(formado pelas Vias 210 e 220), incluindo pista exclusiva para o transporte
público (20 km). Só os projetos sairão por R$ 2milhões e as obras por R$ 20
milhões, mas ainda aguardam definição de recursos pelo Governo Federal. As vias
665, 680 e 681 estão sendo estudadas para permitir ligação viária entre o
Buritis/Estoril e a futura estação Salgado Filho do Metrô, incluindo faixas exclusivas
para o transporte coletivo (5 km).
Além dos projetos estruturadores do sistema de transporte
coletivo, baseados na expansão do Metrô e na estruturação de sistemas
integrados e BRTs, outras medidas são propostas no tocante aos serviços de
transporte coletivo. Para isso será necessário a implantação de túnel sob a
Avenida Raja Gabaglia (Via 665), ao custo de R$ 76 milhões, a interseção das
Vias 680, 681 e 665, que custará R$ 33,6 milhões. Todas ainda aguardam
definição de recursos de Brasília.
A Via 590 será feita num convênio com o governo estadual
para alargar a Av. Borba Gato (antiga MG- 05), entre a Avenida José Cândido da
Silveira e o Anel Rodoviário. O projeto já está em andamento e o custo de R$ 6
milhões é parcialmente financiado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
(BDMG. Outras obras importantes e que deveriam ter saído com a Linha Verde
também estão com seus projetos em conclusão em parceria com o estado, entre
elas as interseções das avenidas Waldomiro Lobo, Vilarinho e Sebastião de Brito
com a Avenida Cristiano Machado. A previsão de conclusão dos projetos é no 2º
semestre de 2015, sem previsão para início das obras.
De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes e Obras
Públicas (Setop), um grupo de trabalho, formado por técnicos da pasta, do
Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e do Departamento
nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) está trabalhando na revisão do
anteprojeto do Anel Rodoviário com o objetivo de licitar o empreendimento pelo
Regime Diferenciado de Contratação (RDC), ainda neste ano.
Sobre o Contorno Metropolitano Norte, a secretaria considera
"a opção pela construção importante para a mobilidade urbana na Região
Metropolitana de Belo Horizonte”, mas informou por meio de nota que a ação
ainda "permanece em análise. O valor do empreendimento licitado na modalidade
PPP (R$ 7,1 bilhões) pelo governo passado foi considerado incompatível com a
disponibilidade orçamentária do Estado”. O Dnit foi procurado para detalhar a
situação dos contornos metropolitanos Sul e Leste, mas não se posicionou até o
fechamento desta edição.