20/09/2014 08:20 - O Globo
NITERÓI - Sexta-feira, por volta das 21h, o morador de
Icaraí George Gomes tenta agendar, para a manhã do dia seguinte, um táxi para
ir de sua casa até a Rodoviária Roberto Silveira, no Centro. Liga para a
cooperativa Lig Tenha, e a resposta é negativa. A explicação? Problema no
sistema. Tenta uma outra, a Cooptax, sem sucesso: agenda cheia, não há carros
disponíveis. Busca uma terceira, a Real Táxi, nada. Sem sequer dar uma
desculpa. Indignado, ele muda a estratégia: liga para as duas primeiras
cooperativas e pede um táxi para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro,
nas mesmas data e horário. Gomes fica surpreso e revoltado com a resposta: o
problema no sistema parecia resolvido e não havia mais agenda cheia.
Alertada pelo leitor, a equipe de reportagem do
GLOBO-Niterói repetiu os pedidos de Gomes, planejando os mesmos percursos. O
resultado foi igual em duas das cooperativas, a Lig Tenha e a Cooptax. Na
primeira ligação não havia disponibilidade para a viagem curta em Niterói, mas
o segundo pedido, para atravessar a Ponte, poderia ser agendado. Na Real Táxi,
o primeiro pedido desta vez foi atendido.
PREFEITURA PREVÊ MULTA
Moradora do Ingá, Camila Esposte afirma que o problema não
ocorre só na hora do agendamento em cooperativas. Ela conta que recentemente
tentou pegar um táxi na rua, perto de sua casa, para ir a Icaraí e o motorista
alegou que não a levaria porque a distância era muito curta.
— Ele disse que não valeria a pena. Tive que esperar outro
carro vazio — lembra.
De acordo com a assessoria da prefeitura, a recusa em marcar
corridas curtas é passível de multa e até suspensão. Ela pede que que as
denúncias contra cooperativas sejam encaminhadas ao Setor de Táxi da
Subsecrataria de Trânsito e Transporte pelo telefone 2717-3155, das 9h às 17h.
Se a recusa ocorrer na rua, a prefeitura informa que o passageiro deve anotar a
hora, placa e autonomia (número do lado da porta) para fazer a queixa.
Sem fazer referência às negativas às corridas de curta
distância, Paulo Roberto Andrade, diretor da Cooptax, alega que, por medida de
segurança, o sistema não consegue agendar pedidos em grande quantidade. Ele diz
que o número de habitantes da cidade cresceu muito e que a frota de táxi não
acompanhou esse crescimento. Andrade explica que a Cooptax conta com 112
carros, mas como o trabalho é dividido por turnos, não há veículos suficientes
para atender a todos os pedidos. Por isso, diz, alguns volta e meia são
recusados. Além disso, lembra que a Cooptax tem contrato com empresas que usam
vouchers, que acabam recebendo prioridade na hora de agendar corridas.
Na Lig Tenha, não foi encontrado um responsável para
responder às queixas.
OUTRAS QUEIXAS
Moradores de Niterói têm outras críticas contra táxis da
cidade. Eles dizem que os motoristas estão aplicando películas escuras demais,
inclusive no vidro dianteiro, fora das especificações permitidas,
impossibilitando até que os passageiros vejam se o veículo está ocupado ou não.
E apontam grande quantidade de carros em mau estado de conservação. Bancos
rasgados e ar-condicionado quebrado são as principais reclamações.
— Outro dia, durante uma corrida, um taxista disse que há
400 autonomias aguardando a liberação do prefeito. Segundo ele, é promessa de
campanha presa por pressão dos taxistas com autonomia. Assim falta táxi na
cidade — afirma Gomes, mais indignado ainda. — E para piorar há vários táxis
bandalhas, em sua maioria velhos, rodando em Niterói, graças à pouca
fiscalização. O taxista falou em quase 300.
A prefeitura esclarece que o cumprimento das normas do
Conselho Nacional de Trânsito (Contram) é verificado nas vistorias anuais
válidas para todos os veículos (táxis ou não). Se a película estiver fora dos
padrões, o motorista é obrigado a retirá-la. E avisa que não serão distribuídas
novas autonomias na atual gestão. Segundo a prefeitura, esse quadro só será
alterado se for realizado um estudo de mobilidade urbana que comprove a
necessidade de mais táxis no município.
Questionado sobre as recusas de cooperativas e taxistas para
pequenos percursos, Carlos Eduardo Machado, presidente da Associação dos
Taxistas de Niterói (Astan), pegou um caminho longo para fugir da explicação
direta. Ele disse que o grande problema enfrentado pelos taxistas em Niterói é
o mesmo de todo morador: o trânsito. Machado se queixa que os motoristas perdem
mobilidade, e não conseguem chegar a tempo aos destinos. Para piorar, segundo
ele, muitas vezes é impossível parar em frente aos prédios, principalmente na
maioria das vias da Zona Sul, o que faz com que clientes desistam de corridas
agendadas e tentem pegar táxis na rua.
Machado também critica o insulfilm porque, segundo ele,
facilita a atuação de táxis piratas, levando perigo aos passageiros.
— No vidro de trás do meu táxi, uso um adesivo que diz:
"Atrás de um vidro escuro, tudo é permitido” — afirma Machado.
O presidente da associação concorda que é preciso tentar
tirar de circulação os táxis em estado precário que ainda rodam na cidade.
— A vistoria anual da prefeitura e a verificação das
cooperativas devem estar falhando — lamenta ele.