Demolição de ciclovia é descartada

24/04/2016 09:11 - O Globo / Folha de SP

O prefeito Eduardo Paes descartou ontem a demolição da ciclovia da Avenida Niemeyer. Segundo ele, é necessária a criação de um plano de contingência para os dias de ressaca. A prefeitura informou que contratou especialistas para fazer uma auditoria sobre o acidente, que deverá prever ainda a elaboração de um procedimento para fechar a via quando o mar invadir a pista.

— Queremos manter a ciclovia. Vamos fazer os ajustes necessários para isso. Está claro que é necessário um plano de contingência para casos de ressaca, por exemplo — disse Paes.

O prefeito anunciou ainda que as famílias das vítimas do desabamento serão indenizadas. Segundo ele, a Procuradoria Geral do Município já foi acionada para avaliar o caso.

— A prefeitura tem consciência de sua responsabilidade. Claro que nada compensa a perda de uma vida, mas ao menos faremos nossa parte com o reparo material (às famílias). Conversei por telefone com o cunhado do Eduardo (de Albuquerque, morto no acidente), que me atendeu gentilmente. Ainda pretendo me encontrar com as duas famílias — afirmou.

Sobre as críticas feitas por amigos do gari Ronaldo da Silva, Paes disse que recebeu a informação com tristeza, mas que entende a indignação da família.

AMIGOS DE VÍTIMA DO ACIDENTE CULPAM EDUARDO PAES PELA MORTE

Gari comunitário, enterrado ontem, considerava orla quintal de sua casa

O prefeito Eduardo Paes garantiu ontem que a Ciclovia Tim Maia, que despencou matando duas pessoas, não será demolida. Segundo ele, após a reforma, será necessária a criação de um sistema de alerta para os dias de ressaca. Paes prometeu ainda que as famílias das vítimas serão indenizadas. Ontem, bombeiros suspenderam as buscas por supostos desaparecidos. Amigos do gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, morto na queda da Ciclovia Tim Maia, quinta-feira, fizeram duras críticas à prefeitura ontem, durante o enterro da vítima no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Colegas de trabalho xingaram e culparam o prefeito Eduardo Paes pela morte de Ronaldo. Muito abalada, a viúva não quis dar entrevistas.

— O prefeito devia saber : morreu um trabalhador. Para nós, ele é culpado pela morte de um trabalhador! Outros três amigos nossos iam caminhar com ele e desistiram, escaparam. Ia morrer mais gente — gritava o gari comunitário da Fábio Silva.

No velório, parentes contaram que Ronaldo morava na Rocinha desde criança e que passou a infância mergulhando, correndo e pescando naquele trecho da Praia de São Conrado. Ele considerava aquela parte da orla o “quintal” de sua casa. No dia em que morreu, tinha ido caminhar na orla. Estava preocupado com a saúde.

— Crescemos brincando ali. Nunca imaginei que um de nós dois no futuro ia morrer justamente naquele local — lamentou o taxista Ernani Silva, primo de Ronaldo.

Frequentadores da Igreja Batista, onde Ronaldo costumava assistir a cultos, estão preocupados com o futuro da viúva, Eliane Barbosa, que não tem emprego. Ela, que morava sozinha com o marido, soube da morte dele por um amigo.

— Só queremos que as autoridades olhem por ela, que ficou desassistida. Era Ronaldo quem cuidava dela, que agora ficou sozinha — disse Simone Ferreira, amiga da família.

A outra vítima do tragédia na Niemeyer, o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, foi cremada ontem no Cemitério Memorial do Carmo. A família evitou falar com a imprensa. Perto da sala onde o corpo era velado, a família afixou fotos de Eduardo em momentos felizes e deixou uma mensagem: “Lembrar sempre assim”.

FOLHA DE SP

Prefeitura do Rio usa empresa de ciclovia em emergências, não obras

As empresas Concremat, construtora da ciclovia que desabou na quinta (21), matando ao menos duas pessoas, são rotineiramente contratadas pela Prefeitura do Rio justamente para evitar tragédias. Em quase metade dos casos por emergência, sem concorrência.

Elas são responsáveis por identificar áreas de risco em favelas, realizar obras de contenção de encostas, reforçar a estrutura de viadutos e mapear o subsolo para evitar explosões de bueiros.

Do total de 54 contratos assinados com três empresas do grupo (Concremat, Contemat e Concrejato) na gestão Eduardo Paes (PMDB), iniciada em 2009, 24 foram firmados por dispensa de concorrência, em acordos emergenciais. Eles representaram 30% do faturamento da empresa com o município, de R$ 409,3 milhões.

Faz parte dessa lista o reforço na estrutura do elevado do Joá, que liga São Conrado à Barra da Tijuca. Em 2012, o centro de pesquisa Coppe, da UFRJ, apontou degradação estrutural do viaduto.

A Concrejato, braço de reforço estrutural do grupo, foi contratada sem concorrência para executar o serviço, pelo qual recebeu R$ 66,6 milhões, segundo site da prefeitura.

Paes afirmou que vai contratar empresas externas "para checar e rechecar todos os projetos, independente da empresa". Mas elogiou trabalhos anteriores do grupo.

"[A empresa] tem tradição nesse tipo de obra", disse.

A Secretaria Municipal de Obras afirmou, em nota, que a maior parte dos contratos emergenciais refere-se a contenções de encostas após as chuvas de 2010 e 2011.

"Este tipo de serviço é uma das principais expertises da empresa e quando há este tipo de contratação é feito levantamento entre as construtoras que têm em seu portfólio obras semelhantes e a escolha é com base no menor preço oferecido", diz a nota. A Concremat afirmou que não iria se manifestar.

A empresa foi contratada 14 vezes sem concorrência desde 2009 para contenção de encostas. Recebeu R$ 41 milhões por esses serviços.

Ela ganhou licitação para realizar um amplo levantamento de casas em favelas em áreas de risco, após deslizamentos em 2010 causarem uma série de mortes.

É, desde então, a responsável por identificar as moradias em áreas de risco e indicar a melhor solução -obras de contenção ou reassentamento das famílias. Recebeu ao todo R$ 28 milhões pelo trabalho.

O grupo Concremat pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo, que foi tesoureiro das últimas duas campanhas de Paes. Melo diz que nunca atuou pela empresa.

A prefeitura também recorreu ao grupo quando uma série de explosões de bueiros assustou a cidade em 2011. A Concremat foi contratada, sem concorrência, por R$ 2,8 milhões para mapear a rede das concessionárias no subsolo da cidade e detectar possíveis riscos de acidente.

A empresa foi responsável ainda por reforçar a estrutura de diversos viadutos e pontes no município.

O Concremat tem como negócio principal a elaboração de projetos, o gerenciamento de obras e consultorias. Está em segundo lugar na área, segundo a revista "O Empreiteiro".

A ciclovia da Niemeyer que desabou foi a única obra executada pela empresa, que não tem tradição como construtora -ela não está entre as 156 maiores do setor.