Dentista triatleta morre atropelado por ônibus em Ipanema

01/05/2013 08:30 - O Globo

RIO - O delegado Rodolfo Waldeck, titular da 14ª DP (Leblon), confirmou na tarde desta terça-feira que as imagens registradas pela câmera do ônibus da Linha 433 (Leblon X Vila Isabel) mostram o momento em que o triatleta Pedro Nikolay foi atropelado. Segundo o delegado, no entanto, as cenas estão escuras e com pouca nitidez, por isso não foi possível identificar se o coletivo avançou o sinal. Ainda de acordo com o Waldeck, no momento do acidente a câmera interna do coletivo mostra que o motorista não esboça nenhuma expressão, o que indicaria que ele realmente não percebeu o atropelamento. A trocadora do coletivo é esperada para prestar depoimento.

O motorista Onofre Marques dos Santos, suspeito de atropelar e matar o dentista e triatleta Pedro Nikolay, de 31 anos, na manhã desta terça-feira, em Ipanema, depôs na tarde de ontem (30/04). Ele chegou por volta das 16h20m e negou que tenha avançado o sinal no cruzamento da Avenida Vieira Souto e Rua Henrique Dumont. Em depoimento ele disse que não percebeu que havia atropelado uma pessoa. Acompanhado de um representante da Viação Vila Isabel, onde trabalha, o motorista contou que parou no sinal, que estava fechado, e só voltou a andar depois que ele abriu. Segundo site da Secretaria municipal de Transportes, o ônibus que atropelou Nikolay registrou 19 multas nos últimos dois anos: cinco são por excesso de velocidade, sete por transitar fora da faixa exclusiva criada pela prefeitura para os coletivos, duas por avanço de sinal e uma por estacionar em local proibido.

O ônibus também tem duas multas administrativas, dadas pela secretaria para a Transportes Vila Isabel, por não informar o real infrator responsável pelas autuações. Há ainda duas multas por usar o ônibus para bloquear via pública. Ainda de acordo com o site da secretaria, as multas por avanço de sinal foram na aplicadas na esquina das Ruas Visconde de Pirajá e Teixeira de Mello, e na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Do total de infrações, nove foram pagas pela empresa, três ainda estão com recurso em análise, duas foram alvo de notificação da empresa e uma teve o recurso indeferido. Outras quatro multas aparecem com o status de inadimplente, com bloqueio do veículo no Detran.

A polícia já periciou o ônibus da linha 433 (Leblon x Vila Isabel) e recebeu as imagens do circuito interno do veículo. O delegado disse que aguarda as imagens de outro ônibus, que trafegava logo atrás do que se envolveu no atropelamento. Ele espera ainda o depoimento de uma senhora que teria visto o momento exato do acidente.

— As imagens que obtivemos até agora não flagraram o instante em que a vítima foi atropelada. O depoimento dessa senhora seria fundamental para esclarecer o caso — disse o delegado, fazendo um apelo para que a testemunha compareça à delegacia.

Segundo o delegado, a polícia está com dificuldades de encontrar testemunhas porque o acidente aconteceu pouco antes do amanhecer. A polícia também espera a perícia na bicicleta de Pedro Nikolay, que estaria com colegas da vítima.

Duas testemunhas ouvidas no inquérito contaram que pedalavam a cerca de cem metros da vítima e não conseguiram ver se o veículo avançou o sinal. Mais cedo, um triatleta que estava no grupo de Nikolay havia dito que o motorista não respeitou a sinalização. Policiais também buscam imagens de câmaras de segurança de prédios da região que possam ajudar a verificar se realmente houve a irregularidade. O corpo de Nikolay já foi levado do Hospital Miguel Couto, na Gávea, para o Instituto Médico-Legal (IML).

Mais cedo, a prefeitura do Rio, por meio da Secretaria municipal de Transportes, notificara o consórcio Intersul para que fossem identificados o veículo e o motorista que mataram o dentista. O condutor foi identificado pela própria Viação Vila Isabel, proprietária do ônibus. A prefeitura também havia determinado que a empresa guardasse o veículo na garagem, para que ele passasse por perícia e fosse fiscalizado pela secretaria. Por meio de nota, o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que entrou em contato com o subchefe da Polícia Civil, delegado Sérgio Caldas, para oferecer todos os dados e estruturas da prefeitura que possam auxiliar as investigações e o inquérito policial.

Atropelamento em Ipanema

Pedro foi atropelado por volta de 6h na esquina da Avenida Vieira Souto com a Rua Henrique Dumont. Bombeiros socorreram o rapaz, que foi levado para o Hospital municipal Miguel Couto, mas não resistiu aos ferimentos. O ciclista, que era solteiro e não tinha filhos, teve fraturas múltiplas e sofreu perfuração do pulmão.

Nikolay estava participando de um treinamento com outros 20 atletas quando foi atingido pelo coletivo. Pedro treinava com a equipe do triatleta e técnico Raul Furtado. Ele se preparava para participar do Campeonato Mundial de Ironman, que será realizado na Espanha em duas semanas. Colegas disseram que o socorro dos bombeiros chegou em 20 minutos. Já o triatleta Rafael Braune de Castro, de 34 anos, contou que o ônibus ultrapassou o sinal vermelho.

— O ônibus avançou o sinal vermelho e atropelou o Pedro, que estava na área dedicada ao treinamento de ciclistas. Pessoas que estavam no ponto de ônibus chegaram a gritar para o motorista que ele havia atropelado um ciclista, mas ele seguiu em frente e não prestou socorro — contou Rafael.

Para o técnico de triatlo Walter Tuche, as mudanças no trânsito no Leblon e Ipanema para obras da Linha 4 do metrô tornaram mais perigoso o cruzamento onde o dentista triatleta foi atropelado. Segundo Walter, a partir de 5h45m, quando aumenta o movimento de ônibus, circular pelo local fica muito arriscado:

— Todas as quartas e sextas-feiras, a partir de 5h45m, eu mesmo passo a controlar o trânsito no cruzamento, para dar segurança à passagem dos ciclistas.

Walter afirmou ainda que era previsível um acidente no local. Ele lamentou a morte de Pedro Nikolay, a quem conhecia havia pelo menos dez anos.

— Ele era um rapaz tranquilo e de bem com a vida. Isto é uma tragédia. Só espero que isto sirva pelo menos para que haja uma mudança. Estamos sempre discutindo segurança dos atletas e a falta de educação no trânsito é um problema muito sério — afirmou.

Ônibus matou diretora de TV no início do mês

No dia 1º deste mês, a diretora e editora de cinema e televisão Gisela Matta, de 36 anos, morreu vítima depois de também ter sido atropelada por um ônibus. Ela passeava de bicicleta pelas ruas do Leblon quando foi atingida por um coletivo na esquina das avenidas General San Martin e Bartolomeu Mitre. Ela foi socorrida e chegou a ficar internada com politraumatismo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Miguel Couto, mas não resistiu.

Em depoimento na 14ª DP (Leblon), Benedito Rocha Silva, motorista do ônibus da linha Praça Quinze-Cidade de Deus (da Transportes Futuro Ltda), contou que estava na General San Martin, parado no sinal de trânsito. Ele disse que só ouviu o barulho vindo da parte de trás do veículo quando virou à direita para entrar na Bartolomeu Mitre, quando o sinal abriu. Naquele trecho, segundo o motorista, não há ciclovia.

Reportagem do último dia 5 do GLOBO mostrou que o desrespeito e a falta de informações são os principais desafios para quem utiliza a bicicleta para circular pela cidade. A morte de ciclistas não entra em qualquer estatística sobre acidentes envolvendo o meio de transporte. Isso porque a Secretaria municipal de Saúde, a secretaria estadual de Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros não têm dados sobre isso.

De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, apenas este ano as principais emergências na cidade passaram a detalhar o número de ciclistas envolvidos em acidentes. Como não há base de comparação, tais dados ainda não estão disponíveis para consulta.

Já a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros dizem que os casos envolvendo ciclistas são contabilizados como atropelamentos, sem distinção entre pedestres e ciclistas, o que torna praticamente impossível saber quantos ciclistas figuram entre os 5.615 atropelamentos registrados no Rio no ano passado.

Com 305 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, o Rio possui a maior malha cicloviária do país e a segunda da América Latina — só perde para Bogotá, na Colômbia. Para os amantes do veículo, entretanto, o desrespeito dos motoristas e a insegurança ainda são um obstáculo.

Acidentes envolvendo coletivos marcaram o mês

O mês de abril foi marcado por uma série de acidentes envolvendo ônibus no Rio e Região Metropolitana. O primeiro e mais grave aconteceu logo no dia 2 de abril, quando um ônibus da linha 328 (Castelo-Bananal) caiu do Viaduto Brigadeiro Tromposwski, na Avenida Brasil. Oito pessoas morreram. O acidente foi provocado pela briga entre o motorista do coletivo e um passageiro, acusado de agredir o condutor. No dia 10, o delegado José Pedro Costa da Silva, da 21ª DP (Bonsucesso), pediu ao Ministério Público a prisão preventiva do motorista André Luís Souza Oliveira, de 33 anos, e o estudante de engenharia da UFRJ Rodrigo dos Santos Freire, de 25, por homicídio doloso. Eles foram indiciados por homicídio doloso e responsabilizados pela queda do ônibus. O motorista, que estava internado no Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, recebeu alta no dia 9.

No dia 10, um ônibus da viação Rubanil invadiu um posto de gasolina, em Quintino, e atingiu quatro pessoas. Tatiana Ferreira Lúcio estava com os dois filhos, um de três meses e outro de três anos, quando foi atropelada. Ela teve as pernas amputadas e chegou a ficar internada, mas acabou morrendo. O delegado adjunto da 28ª DP (Campinho), Geovan Omena, informou que o motorista do ônibus, Hilderaldo Nascimento, vai responder por homicídio doloso (quando há a intenção de matar).

No dia 14, um acidente entre um ônibus e um carro de passeio deixou 29 feridos no Trevo das Margaridas, em Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o coletivo tombou após colidir com o carro. O acidente aconteceu na pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro. Todos os feridos sofreram ferimentos leves. O acidente chegou a interditar o acesso à pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro. No mesmo dia, um engavetamento feriu, pelo menos, três pessoas na Rua Francisco Cruz Nunes, Itaipu, em Niterói. O acidente foi entre um ônibus da Viação Pendotiba, que seguia para Piratininga, e outros três carros.

Dois dias depois, 22 pessoas ficaram feridas em um acidente envolvendo um ônibus na Rodovia Amaral Peixoto (RJ-104), na altura do Colubandê. O veículo da Linha 43 (Fórum-Arsenal), da Viação Rosana, tombou na pista sentido Alcântara. As vítimas foram levadas para os hospitais da região, nenhuma em estado grave, segundo bombeiros. Devido ao acidente, as pistas chegaram a ficar fechadas.

No dia seguinte, um coletivo da Linha 435 (Grajaú-Gávea), da Viação Estrela Azul, foi atingido por um carro, perdeu o controle, subiu a calçada, arrastou uma banca de jornal e entrou na portaria do prédio Aymara, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema. O coletivo e um carro de passeio colidiram na altura da Garcia D'Ávila, por volta das 7h. Durante parte da manhã, moradores dos 70 apartamentos do prédio só podiam sair por dentro do coletivo, já que ele bloqueava a passagem da portaria. Quatro pessoas ficaram feridas.

Em pouco mais de 24 horas, um ônibus do consórcio Transcarioca, da empresa Estrela, e um carro de passeio colidiram em Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio. O acidente foi no cruzamento das ruas das Rosas e Luiz Beltrão. De acordo com os bombeiros, duas pessoas ficaram feridas.