08/10/2020 09:00 - G1 SP
A cidade de São Paulo instituiu seu próprio Plano de Mobilidade (PlanMob) em fevereiro de 2016, conforme as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), que determinou o planejamento de um desenvolvimento urbano sustentável, priorizando o transporte coletivo, público e não motorizado, em detrimento do particular, individual e motorizado.
A capital, no entanto, ainda enfrenta desafios para a efetiva implementação do projeto, que tem 2030 como prazo para cumprimento de todas as metas. A Prefeitura de São Paulo ficou 3 anos sem ampliar a malha cicloviária; as vias não são considerada acessíveis pelos paulistanos e para pessoas com deficiência, e apontam que as calçadas são escolhidas arbitrariamente para reformas.
O cumprimento do PlanMob consta em praticamente todos os planos de governo dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, especialmente a atenção que se pretende à mobilidade atividade (pedestres e ciclistas), com padronização das calçadas, construção de áreas exclusivas para pedestres em regiões de maior fluxo, e ampliação e integração da malha cicloviária.
Outra proposta que permeou os programas se refere à necessidade de acelerar a renovação da frota de ônibus municipais por veículos que poluam menos. Ônibus e caminhões movidos à diesel representam 5% do total de veículos que circulam em São Paulo, mas são responsáveis pela emissão de 47% da poluição do ar na cidade.
O G1 SP resumiu os principais pontos das propostas de governo para a área da mobilidade e transportes dos 14 candidatos à Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2020. Veja abaixo (os nomes estão em ordem alfabética).
Andrea Matarazzo (PSD)
Resumo: As propostas de Andrea Matarazzo para a mobilidade na capital incluem a união das secretaria de Transportes com a de Desenvolvimento Urbano a fim de, por exemplo, expandir as Operações Urbanas para criar novos centros, e adotar o conceito de “Ruas Completas”, ampliando calçadas e criando rotatórias em determinadas vias para influenciar o deslocamento e a interação com o ambiente.
O candidato do PSD cita a atenção que gostaria de dar aos diferentes modais do transporte: para o pedestre, o “aprimoramento do Plano Emergencial de Calçadas”; para os ciclistas, consultas públicas para novas ciclovias e a articulação delas com o transporte público; para os passageiros de ônibus, a revisão dos corredores, transformando alguns deles em BRT; para os motoristas, há expectativa de implantação de semáforos inteligentes e aplicação do conceito de traffic calming (tranquilização do tráfego).
Matarazzo também fala em parcerias com o setor privado para qualificação dos perímetros em torno de terminais e de estacionamentos em áreas públicas, e aborda a questão ambiental, prometendo a progressiva substituição dos ônibus à diesel por tecnologias menos poluentes.
Antônio Carlos (PCO)
Resumo: O plano de governo divulgado pelo PCO não contemplava propostas para o transporte público na cidade de São Paulo até a publicação desta reportagem.
Arthur do Val (Patriota)
Resumo: O candidato do Patriota tem como principal proposta para o transporte público da capital paulista a mudança nos contratos com as empresas de ônibus, que seriam divididos em dois tipos, conforme o risco a que as concessionárias estão submetidas: o risco de capital e o risco operacional.
Em seu plano de governo, Arhur do Val argumenta que o risco de capital consiste em um grande investimento por parte das empresas para adquirir garagens e equipamentos, de modo que elas só têm compensação financeira a longo prazo. Simultaneamente, há um segundo risco, segundo ele, operacional e “expressivamente menor”, relacionado ao pagamento de funcionários e outras atividades administrativas.
O “novo modelo de licitação”, em sua visão, permitiria a redução da tarifa, o aumento da eficiência do serviço e também da concorrência.
Bruno Covas (PSDB)
Resumo: As propostas para o transporte municipal apresentadas pelo prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas visam a expansão da rede e a integração entre os diferentes modais, priorizando antigas demandas da população, como a duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e a conclusão do complexo viário Pirituba-Lapa.
Entre as novidades, o programa “São Paulo Mais Ágil” prevê a implantação do Corredor Itaquera, o primeiro para a Zona Leste, um BRT na Avenida Aricanduva integrado ao Metrô, e o Aquático, sistema de transporte público por barcos nas represas da cidade, integrado ao Bilhete Único.
Para os ciclistas, o programa de governo também contempla a expansão da malha cicloviária para mais de 650 km, e, para os pedestres, existe a promessa de ampliar a requalificação de calçadas e das faixas de travessia.
Celso Russomanno (Republicanos)
Resumo: O candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo destaca entre as propostas para o transporte público municipal o “fortalecimento” da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) por meio de convênios com instituições de ensino para requalificação técnica da equipe, da modernização dos sistemas de sinalização e monitoramento de trânsito, e da ampliação do quadro de pessoal e dos equipamentos de operação e fiscalização.
Celso Russomano prioriza sugestões para melhorar o deslocamento nos ônibus, como a expansão de faixas exclusivas, terminais urbanos e acessibilidade nos coletivos, além de indicar o desejo de parcerias com a iniciativa privada para melhoria no entorno dos terminais urbanos.
Ele também também sinalizou a intenção de incentivar diferentes modais por meio de um Conselho Municipal de Transporte, que deve orientar a implantação do BRT e a integração do Plano Cicloviário ao Plano de Mobilidade do Pedestre. Há ainda a proposta de incentivar o uso de combustíveis alternativos ao diesel, e uma articulação com os municípios da Grande São Paulo para políticas de mobilidade na região.
Filipe Sabará (Novo)
Resumo: As propostas do candidato do Novo para o transporte público são permeadas pelo desejo de modernizar a gestão de tráfego e expandir o uso de plataformas digitais. Filipe Sabará fala em uma central que combine dados históricos e deslocamentos em tempo real, melhorar o atendimento pós-multa por meio de processos digitais, e o uso de plataformas integradas ao Bilhete Único, que incentivem o uso de diferentes modais.
O plano de governo também cita parcerias com a iniciativa privada para soluções de micro-mobilidade, e com munícipes, para melhoria de calçadas, por exemplo, permitindo que os cidadãos as reformem sem necessidade de prévia autorização.
O texto promete ainda colocar um “fim na ‘indústria de multas’” por meio da intensificação de ações educativas, e promover iniciativas que garantam a acessibilidade das pessoas com deficiência, com a implementação de semáforos sonoros e a capacitação de agentes públicos para atendimento.
Guilherme Boulos (PSOL)
Resumo: As propostas de Guilherme Boulos para o transporte público de São Paulo buscam priorizar o transporte público, coletivo e ativo (pedestres e ciclistas), sobre o automóvel. Para isso, ele destaca em seu programa de governo a busca pela Tarifa Zero, começando pelos desempregados e estudantes, e financiada por um fundo municipal com aportes de origens diversas.
O candidato do PSOL também destaca o investimento na implantação e integração de ciclovias, no alargamento das calçadas, na ampliação dos corredores, e defende a operação de ônibus noturnos. Se eleito, Boulos diz que vai acelerar a substituição da frota de ônibus por veículos movidos a energia limpa, e vai buscar a união dos municípios vizinhos pela criação de uma Autoridade Metropolitana de Transportes Urbanos da Grande São Paulo.
O plano também prevê a revisão dos contratos com as empresas de ônibus, e do serviço prestado pelas aplicativos de transportes junto aos seus colaboradores e em relação às taxas pagas por eles pelo uso do sistema viário.
Jilmar Tatto (PT)
Resumo: O plano de governo de Jilmar Tatto para o transporte público aposta no cumprimento da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que prioriza o transporte público e a mobilidade ativa (pedestres e ciclistas) sobre a motorizada. Para isso, o candidato promete implementar até o fim do mandato a Tarifa Zero, que seria subsidiada, por exemplo, pela cobrança de estacionamentos públicos, e afirma que, se eleito, vai investir fortemente na intermodalidade.
Ciclistas e pedestres têm destaque no projeto do candidato do PT. Para os primeiros, ele prevê a expansão da estrutura cicloviária, um sistema público de aluguel de bicicletas, políticas de incentivo à aquisição do veículo, e a regulamentação do Programa BikeSP, que deve repassar subsídios aos trabalhadores que adotarem a bicicleta; para os segundos, ruas exclusivas para pedestres em regiões como a 25 de Março e a Santa Ifigênia, e a padronização das calçadas dentro dos parâmetros de acessibilidade.
Entre as novidades, o projeto contempla a criação uma Empresa Pública Municipal de Transporte Coletivo, para operar todo o sistema, que deve ser fundamentado na energia limpa e renovável, a implantação de lugares para descanso, alimentação e uso de sanitários para motoristas de aplicativos, a “Linha da Saúde”, que vai oferecer transporte de pessoas com dificuldades para se locomover até a unidade de saúde, mediante agendamento por aplicativo, um programa de educação para a mobilidade nas escolas municipais, e a criação de “Zonas Calmas”, que permitam a travessia segura de idosos, crianças e pessoas com mobilidade reduzida.
Joice Hasselmann (PSL)
Resumo: As propostas de Joice Hasselmann para o transporte público visam ações que reduzam os congestionamentos, especialmente por meio da modernização do sistema semafórico e do investimento em mobilidade ativa (pedestres e ciclistas).
A candidata diz que, se eleita, vai transformar os semáforos em sensores com tecnologia 5G, que se adaptam ao tráfego do momento, que se integram aos sistemas de segurança, e que priorizam veículos de assistência e situações de emergência. Ela promete melhorar as calçadas, ampliar a malha cicloviária e expandir a cultura de empréstimo de bicicletas para que se tornem verdadeiros meios de transportes e, ao mesmo tempo, para desafogar a frota de ônibus e os gastos com subsídios.
Para o transporte público coletivo, Joice pretende rever os contratos com as empresas de ônibus e propor um novo modelo de concessão, que “rompa com o oligopólio”, que promova uma competição saudável e que alivie os cofres públicos. Ela deseja ainda implementar um “ousado programa para redução de combustíveis fósseis” e integrar a rede metropolitana.
Levy Fidelix (PRTB)
Resumo: O tema da mobilidade é destaque no plano de governo do candidato do PRTB, que, além do aerotrem, propõe uma série de grandes mudanças na infraestrutura urbana para acomodar os veículos motorizados. Levy Fidelix quer 100 km de aerotrem, deslocar a Rodoviária Tietê, a Ceagesp e o Aeroporto de Congonhas para regiões periféricas, implantar estacionamentos subterrâneos e em prédios desocupados do centro, e remodelar as vias marginais, canalizando o Tietê e o Pinheiros, suspendendo as pistas laterais, e construindo parques na parte central, com acessos para o monotrilho. Depois de pronto, o Boulevard do Aerotrem seria concedido para a iniciativa privada por 30 anos.
Para os passageiros dos ônibus, Fidelix quer proibir que as linhas cruzem os bairros entre as avenidas Paulista e Faria Lima, e introduzir os ônibus elétricos; para os táxis, ele propõe dobrar a frota, oferecer subsídio para o combustível, e criar táxis turísticos, com tarifa 30% mais cara, uso de uniforme, e capacitação dos motoristas em inglês e espanhol. Se eleito, o candidato quer que os veículos de carga rodem no centro expandido apenas entre 20h e 8h, e os motoristas contarão com 10 grandes estacionamentos com restaurante, hotel e posto de serviço no km 1 das maiores rodovias.
Levy Fidelix também fala em “acabar com a indústria da multa”, endurecendo a fiscalização e proibindo os veículos e motoristas multados de circular por determinado período, pavimentar novamente e instalar câmeras em todas as ruas da cidade até o fim do mandato, e remodelar a sinalização, trocando as placas de aço por plástico e incluindo o inglês naquelas instaladas nas regiões que mais recebem turistas.
Marina Helou (Rede)
Resumo: A candidata da Rede estabelece a mobilidade ativa (pedestres e ciclistas) como pilar de suas propostas para o transporte público de São Paulo. Os pedestres seriam prioridade, com ampliação de áreas exclusivas ou preferenciais, além da adequação dos passeios e calçadas dentro dos bairros, com acessibilidade. Se eleita, Marina Helou diz que vai incentivar o uso da bicicleta, com expansão e integração das estruturas.
O cuidado com a frota dos ônibus também tem destaque no programa de governo, a fim de desestimular o uso de veículos particulares. Marina propõe antecipar os prazos e metas para a transição coletivos, que devem utilizar fontes sustentáveis de energia, modernizar os pontos de parada, com sistema de informação em tempo real aos usuários, e a redefinir o valor da tarifa, de modo similar à tarifa social do saneamento.
Para os veículos motorizados, a candidata sugere a inspeção veicular para controle de emissões, e a revisão dos limites máximos de velocidade. Consta ainda no plano a proposta de modernização dos sistemas de informação, orientação viária e controle de tráfego, além do trabalho pelo conceito de São Paulo em 15 minutos, levando trabalho, educação, comércio e lazer para mais perto dos munícipes.
Márcio França (PSB)
Resumo: Entre as propostas de Márcio Franca para mobilidade destacam-se parcerias com comerciantes para gratuidade no transporte público aos domingos e feriados de modo a aquecer a atividade econômica, e a concessão dos semáforos à iniciativa privada para implantação e gestão de um sistema inteligente.
O candidato também quer expandir o uso de diferentes modais, com aumento da malha cicloviária, conexão de infraestruturas, ampliação de calçadas em áreas de grande fluxo, e readequação do Centro da cidade como uma região onde a locomoção motorizada não seja priorizada.
Para os ônibus, o plano de governo também prevê a retomada de linhas extintas e ampliação do tempo de integração no Bilhete Único; para as motos, mais vagas de estacionamento como incentivo ao motofrete; e, para os táxis, revisão da legislação em busca de paridade de condições com os aplicativos.
Orlando Silva (PCdoB)
Resumo: As propostas de Orlando Silva para o transporte público de São Paulo estão concentradas na reforma de calçadas do centro expendido, na construção de bases de apoio para taxistas e motoristas de aplicativos, e na expansão dos corredores de ônibus.
O candidato defende ainda “cuidar de quem mais precisa”, citando o desejo de implementar o Passe Livre para o desempregado, e priorizar os distritos mais necessitados.
O programa de governo também conceitua o que é uma “cidade democrática”, como um lugar com ciclovias e prevalência do transporte coletivo sobre o individual.
Vera Lúcia (PSTU)
Resumo: A principal proposta de Vera Lúcia para a mobilidade na capital paulista é a estatização do transporte público e a mudança nas tarifas, com oferta do Passe Livre para estudantes e desempregados, e redução dos preços das passagens, rumo à Tarifa Zero.
Ela também propõe a reconstrução da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), extinta em 1995, de modo que esteja sob o controle dos trabalhadores e da comunidade.
A candidata do PSTU também prevê um plano de obras públicas, que contemple a construção de corredores de ônibus para gerar empregos.