27/10/2016 07:15 - O Estado de SP
São Paulo, 26 - O aumento da taxa de desmatamento na Amazônia no ano passado levou a uma alta de 3,5% nas emissões de gases de efeito estufa do Brasil, na comparação com 2014. O dado está sendo divulgado nesta quarta-feira (26) pelo Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (Seeg), um monitoramento paralelo ao oficial feito pelo Observatório do Clima.
Apesar da crise econômica, que em geral é associada a queda de emissões, o Brasil lançou para a atmosfera 1,927 bilhão de toneladas CO2 equivalente (a soma de todos os gases de efeito estufa convertidos em dióxido de carbono) no ano passado, contra 1,861 bilhão de toneladas em 2014.
A crise teve reflexo nas emissões do setor de energia, que apresentaram pela primeira vez desde 2009 uma queda (5,3% no ano passado), mas não tiveram nenhum impacto no desmatamento. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a taxa anual de perda da Amazônia, entre agosto de 2014 e julho de 2015, cresceu 25% em relação ao período anterior.
O setor de mudança do uso do solo foi historicamente a principal fonte de gases de efeito estufa no Brasil, mas a queda do desmatamento de cerca de 80% entre 2004 e 2012 tinha sido o principal motivo pelo qual o País diminui sua contribuição com o aquecimento global. Segundo o levantamento, agora, porém, houve uma alta de 12% das emissões por mudança do uso da terra, considerando todos os biomas.
Tasso Azevedo, que coordena o trabalho, afirma que as flutuações na taxa de desmatamento que têm ocorrido nos últimos anos têm mantido as emissões quase estáveis.
"De 2005 a 2015, a queda de emissões totais do Brasil foi de 39%, mas se fizermos um corte, vemos que a queda se concentra de 2005 a 2010. De lá para cá estabilizou. Na verdade só tivemos queda num momento muito curto, quando houve a principal queda no desmatamento. Nos outros setores continuaram crescendo sempre. As emissões de energia, em dez anos, cresceram 44,7%. No mundo foi de 10%", disse Azevedo em coletiva à imprensa.
Contramão de Paris. Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, ironizou que os números de emissões revelados pelo levantamento fazem até parecer que nada aconteceu no Brasil recentemente em termos de combate ao aquecimento global – em referência à ratificação, pelo País, do Acordo de Paris. A alta do desmatamento vai contra a meta assumida de zerá-lo até 2030.
“Por causa da recessão econômica, as emissões do setor de energia caíram. Mas o que vai acontecer se mantivermos o conjunto de políticas públicas atuais quando a gente voltar a ter taxas de crescimento econômico razoáveis?”, questionou. “A gente precisa tirar o Acordo de Paris do papel.”