Empresas de ônibus dizem que novo reajuste do diesel ameaça transporte público e “revela a inoperância do Governo em solucionar o problema”

11/03/2022 06:50 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI

A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Públicos), que reúne as empresas de ônibus urbanos e metropolitanos de todo o País, reagiu a mais um aumento do óleo diesel, anunciado nesta quinta-feira, 10 de março de 2022, pela Petrobras.

Segundo cálculos da entidade, o reajuste de 24,9% do óleo diesel nas distribuidoras terá um impacto médio de 7,5% no custo das empresas operadoras de transporte coletivo.

Veja mais sobre o reajuste em:

https://diariodotransporte.com.br/2022/03/10/petrobras-anuncia-novo-aumento-nos-precos-do-glp-diesel-e-gasolina/

As companhias de ônibus dizem que o novo reajuste aumentou a participação do diesel no custo geral das operadoras do transporte público, de 26,6% para 30,2%; o diesel é o segundo item de custo que mais pesa no valor da tarifa, depois da mão de obra.

Somente neste ano, os reajustes acumulados do diesel já aumentaram os custos do transporte público por ônibus em 10,6%, ainda segundo a NTU.

A associação diz que esses aumentos terão que ser repassados às tarifas caso não sejam compensados pelo poder público, porque muitas empresas de ônibus urbano de todo o país ficarão impossibilitadas de continuar suas operações, o que afetará diretamente o cotidiano de 43 milhões de passageiros que dependem desse serviço todos os dias.

Por meio de nota a entidade diz que o Governo Federal tem a obrigação de oferecer soluções rápidas e definitivas.

O reajuste anunciado, que inclui também gasolina e gás de cozinha, demanda com urgência uma forte atuação do Governo Federal para enfrentar o problema e oferecer soluções definitivas para a estabilização dos preços dos combustíveis, que passam pela reformulação da estrutura tributária incidente sobre o diesel e pela adoção de políticas de preços especiais para setores essenciais como o de transporte público.

Na mesma nota, o presidente executivo da NTU, Francisco Christovam, disse que a guerra da Ucrânia não pode ser pretexto para aumentos abusivos e inoportunos.

“A guerra da Ucrânia está servindo como justificativa para aumentos abusivos e inoportunos; o Brasil precisa de uma nova política de preços para os combustíveis, que traga previsibilidade aos agentes econômicos e aos consumidores. Existem algumas propostas em debate no Congresso Nacional para conter o reajuste dos combustíveis, que podem ser melhoradas. Mas nem elas avançam, pela falta de consenso interno e de articulação do Governo”, afirma Christovam.

A NTU diz que enviou correspondências ao governo alertando para os impactos do diesel e pedindo uma política diferenciada para o setor há dois anos, sem resposta.

“O consumo de diesel do transporte público por ônibus nas cidades e regiões metropolitanas é de apenas 5% a 6% do total do consumo nacional; ter uma política diferenciada para esse segmento não impactaria significativamente a política de preços dos combustíveis”

“As empresas estão extremamente fragilizadas economicamente, não conseguiram se recuperar da pandemia e agora enfrentam este reajuste violento. Isso vai causar o colapso financeiro de um número considerável de operadoras e levar a uma ruptura na prestação dos serviços, e quem sofrerá as consequências são os cidadãos”, alerta Francisco Christovam que defende a adoção de um novo modelo de contratação e remuneração dos contratos, com a separação da tarifa cobrada do passageiro da tarifa paga ao operador pela prestação do serviço, com a eventual complementação do poder público para garantir a menor tarifa possível.

 “As empresas operadoras, embora privadas, são uma extensão do poder público e prestam serviços ao Estado. Quem é responsável pelo transporte da população é o poder público; nada mais justo que o resultado da Petrobras seja repartido para que a responsabilidade do Estado seja exercida”, finaliza Francisco Christovam.

EMPRESÁRIOS DO RIO DE JANEIRO SE REÚNEM:

A Fretanspor, que representa as viações do Rio de Janeiro, informou na tarde desta quinta-feira (10) que os empresários do Estado, se reúnem de forma emergencial nesta sexta-feira para discutir os impactos da nova alta no preço do óleo diesel. Os operadores estão alarmados com as consequências que o aumento trará ao setor, que atravessa sua pior crise. Ao longo dos últimos 12 meses, a série de reajustes já ultrapassa os 100%, além de refletir diretamente no custo de insumos como peças, pneus e acessórios.

As empresas de ônibus da cidade do Rio de Janeiro, por meio do Rio Ônibus, também se manifestaram e ressaltaram ainda o congelamento da tarifa municipal.

O novo aumento do preço do óleo diesel representa mais um agravante para a crise já vivenciada pelo setor de transporte por ônibus no Rio de Janeiro. Com a alta do insumo, que já acumula mais de 100% nos últimos meses, o combustível passa a ser o item de maior peso na planilha de custos das empresas, o que, somado à queda da demanda, às tarifas congeladas e à falta de soluções por parte do poder público, torna cada vez mais difícil prestar o serviço que a população merece. Diante disso, fica evidente a urgência de um diálogo entre as partes envolvidas para que se encontre uma solução imediata.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes