Fenabrave prepara revisão de projeções

07/04/2021 08:00 - Valor Econômico

Por Marli Olmos — De São Paulo

O empresário Alarico Assumpção Júnior, presidente da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos, prepara-se para um ano de vendas pior do que o calculado em janeiro. É bem provável que daqui a um mês a entidade refaça projeções se a situação não melhorar. Nada lhe indica, no entanto, perspectivas de melhora. Os estoques estão baixos, com vários modelos em falta; muitas fábricas estão paradas, por falta de peças e pela pandemia; e grande parte das lojas está fechada por força dos decretos que suspenderam a atividade comercial para conter a propagação da covid-19.

Com crescimento de 15,78% em relação a um ano atrás, o resultado das vendas em março, divulgado ontem, dá uma falsa impressão de recuperação. Na verdade, o número refere-se ao licenciamento de veículos que foram vendidos no fim do ano, mas cuja produção demorou mais do que o normal em razão da falta de componentes, que atinge todas as montadoras.

Dezembro costuma ser o melhor mês do ano para a indústria automobilística. “É fim de ano e tempo de receber o décimo terceiro salário”, afirma Assumpção Júnior. No último mês de 2020 o quadro da pandemia também não era tão ruim como hoje. Além disso, como diz o presidente da Fenabrave, a base de comparação é baixa. Como reflexo do impacto do início da pandemia, o volume de vendas de veículos em março de 2020 registrou queda acentuada. Encolheu 21,78% na comparação com o mesmo mês de 2019.

Os concessionários se queixam das regras impostas ao comércio pelas autoridades municipais e estaduais para conter a contaminação por covid-19. Mas, ao mesmo tempo, o presidente da Fenabrave pondera que não adianta muito voltar a abrir as portas se não há carros para vender. Segundo ele, os estoques, em torno de 62 mil veículos, são, no cenário atual, suficientes para não mais do que dez a 12 dias de vendas. “É muito pouco”, destaca.

Para o dirigente, a partir da reabertura das lojas, o mercado levará pelo menos 60 dias para voltar a ser o que era. “A normalização do abastecimento de componentes, principalmente os semicondutores (produto mais em falta na indústria automobilística) deve começar pela Europa, Estados Unidos e Ásia, onde estão as matrizes das montadoras, onde os volumes são maiores e onde as regras de restrições começam a ser afrouxadas”, afirma.

A diferença entre os problemas de hoje e os de um ano atrás, diz Assumpção Júnior, é que em 2020 os revendedores “ao menos tinham estoque porque a indústria não trabalhava com problemas de abastecimento de componentes”.

O resultado positivo de março, quando foram vendidos 189,4 mil veículos, reflete também a boa fase do mercado de caminhões pesados, que continua a se manter aquecido pela demanda do setor agrícola, principalmente para o transporte de grãos. Além da necessidade de frota renovada, principalmente para exportação, na falta de silos para estocagem, em alguns casos, segundo Assumpção Júnior, a carreta chega a servir também para guardar soja, por exemplo.

A venda de caminhões no mês passado deu um salto. Foi 65,79% maior do que no mesmo mês de 2020 e no acumulado do ano, ficou 27,55% acima do primeiro trimestre de 2020. Já o mercado de carros de passeio cresceu 8,16% em março, mas caiu 11,11% no trimestre, na mesma base de comparação.

Sem perspectivas de uma reviravolta no cenário tão cedo, o resultado do primeiro trimestre é suficiente para indicar que as projeções anunciadas pela Fenabrave em janeiro estão longe de se tornarem realidade. Pelo menos no segmento de automóveis. A entidade previu que as vendas de carros este ano seriam 15,4% maiores do que em 2020.

Apesar de terem se passado apenas 90 dias, as perspectivas do início de janeiro ficaram defasadas. Dirigentes como Assumpção Júnior lamentam a mudança de rota: “Imaginávamos que o controle da pandemia seria mais forte, que a vacinação ocorreria de forma mais acelerada.”