Greve de ônibus em São Paulo atinge parte do sistema de transportes nesta quarta (29) e rodízio de veículos é suspenso

29/06/2022 06:00 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI

Por causa das indefinições sobre a hora de almoço não remunerada de motoristas e cobradores e da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) da categoria, milhões de paulistanos encontram dificuldades para se deslocar nesta quarta-feira, 29 de junho de 2022.

A greve de ônibus em São Paulo começou às 00h prejudicando em especial os passageiros das linhas dos subsistemas estrutural e de articulação regional, prestados por ônibus convencionais, padrons e articulados, das empresas tradicionais que operam em corredores, passam pelo centro da cidade e ligam terminais. As empresas que surgiram de cooperativas, que operam ônibus menores entre os bairros mais distantes e terminais ou estações, funcionam normalmente.

O rodízio municipal de veículos foi suspenso e a circulação de carros em faixas e corredores de ônibus foi liberada. Rodízio e restrição para caminhões, restrição a fretados e Zona Azul são mantidos normalmente.

Metrôs, trens e ônibus intermunicipais (EMTU) tiveram reforço no atendimento.

A greve acontece num momento em que as empresas de ônibus pressionam a prefeitura para ganhar mais dinheiro, uma vez que alegam que tiveram os custos ampliados por causa da elevação do óleo diesel, salários e outros insumos.

Aumento salarial os motoristas e cobradores já ganharam: 12,47% nos salários e no ticket-refeição de motoristas e cobradores de ônibus da cidade de São Paulo já retroativo a maio de 2022, após uma greve de 15 horas no dia 14 de maio.

Agora, o impasse é o fim da hora não remunerada de almoço dos motoristas e cobradores e o pagamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados).

A Justiça determinou frota mínima de 80% nos horários de pico e 60% nas demais horas.

TARIFA PODE AUMENTAR E SUBSÍDIOS ÀS OPERAÇÕES DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS VÃO DISPARAR:

Segundo o SPUrbanuss, sindicato que representa as viações na cidade de São Paulo que operam nestes dois subsistemas que reúnem os ônibus maiores, somente o aumento salarial que já foi atendido, houve uma elevação de R$ 42 milhões por mês no custo de operação dos transportes municipais da capital paulista.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/06/15/reajuste-a-motoristas-e-cobradores-vai-custar-r-42-milhoes-por-mes-e-prefeitura-de-sp-estuda-mais-subsidios-ou-elevacao-de-tarifa/

A nova paralisação ocorre no contexto em que a prefeitura decide se haverá mais aumentos dos subsídios às operações das empresas de ônibus ou mesmo uma elevação de tarifa, o que o prefeito Ricardo Nunes tenta evitar.

Somente entre janeiro e a metade de junho de 2022, o valor desembolsado para complementar os custos dos transportes na capital paulista chegou a R$ 2,37 bilhões, ou 27% mais alto que no primeiro semestre de 2021, quando a prefeitura aportou R$ 1,86 bilhão. A estimativa é que, se não houver aumento de tarifa ou alguma ajuda externa como a que está emperrada no Congresso para custeio de gratuidades para idosos de 65 anos ou mais com verbas da União, os subsídios alcancem R$ 4,5 bilhões neste ano de 2022.

EMPRESAS DE ÔNIBUS EM SÃO PAULO NÃO TÊM PREJUÍZO DE ACORDO COM FÓRMULA:

O sindicato dos trabalhadores alega que as empresas de ônibus em São Paulo não têm prejuízos por causa de uma fórmula nos contratos das viações com a prefeitura.

Enquanto o modelo de transporte previsto na licitação cujos contratados foram assinados em setembro de 2019 não for implantado integralmente, é aplicada uma espécie de fator de transição.

Este fator serve para equilibrar a remuneração de acordo com a flutuação do número de passageiros transportados e da frota.

Assim, se a quantidade de passageiros cai, como ocorreu de uma forma geral na pandemia (mesmo com a lotação nos horários de pico), esse fator é maior que 1 e compensa essa queda de demanda.

Na prática, este modelo impede que as empresas de ônibus tenham prejuízo.

Veja a fórmula aqui:

https://diariodotransporte.com.br/2021/03/29/empresas-de-onibus-nao-sao-mais-remuneradas-somente-por-passageiros-transportados-diz-sptrans/

RODÍZIO E FAIXAS DE ÔNIBUS:

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito (SMT) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), informou por meio de nota na tarde desta terça-feira, 28 de junho de 2022, que, caso a greve dos motoristas e cobradores de ônibus seja de fato realizada, o rodízio municipal de veículos estará suspenso nesta quarta-feira, 29.

Carros com placas finais 5 e 6 poderão circular pelo centro expandido a qualquer horário.

Como mostrou o Diário do Transporte, na tarde desta terça-feira (28), em assembleia promovida pelo Sindmotoristas, os trabalhadores decidiram retomar a greve que havia sido suspensa no dia 14 de junho de 2022.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/06/28/greve-de-onibus-em-sao-paulo-e-anunciada-para-esta-quarta-29/

As faixas exclusivas e corredores de ônibus ficarão liberados para circulação de carros de passeio enquanto durar a greve. A Engenharia de Tráfego da CET manterá o monitoramento constante em ruas e avenidas da cidade, visando manter as condições de fluidez das vias.

Segundo a prefeitura, continuarão valendo normalmente o rodízio de placas para veículos pesados (caminhões) e as demais restrições: Zona de Máxima Restrição à Circulação de Caminhões (ZMRC) e a Zona de Máxima Restrição ao Fretamento (ZMRF). A Zona Azul também funcionará normalmente.

Medidas operacionais

As linhas que operam no Terminal Campo Limpo foram estendidas até o Vila Sonia para permitir conexão com o sistema metroviário.

Linhas que operam nos terminais Vila Nova Cachoeirinha e Casa Verde foram estendidas até Barra Funda e Santana.

Uma linha do Terminal Varginha foi estendida até o Grajaú, onde há conexão com a linha da CPTM.

Relação de empresas com a operação paralisada em suas garagens:

– Santa Brígida (Zona Norte);

– Gato Preto (Zona Norte);

– Sambaíba (Zona Norte);

– Viação Metrópole (Zona Leste);

– Ambiental (Zona Leste);

– Via Sudeste (Zona Sudeste);

– Campo Belo (Zona Sul);

– Viação Grajaú (Zona Sul);

– Gatusa (Zona Sul);

– KBPX (Zona Sul);

– MobiBrasil (Zona Sul);

– Viação Metrópole (Zona Sul);

– Transppass (Zona Oeste); e

– Gato Preto (Zona Oeste).

Relação das empresas operando normalmente – Grupo Local de Distribuição

– Norte Buss (Zona Norte)

– Spencer (Zona Norte)

– Express (Zona Leste);

– Transunião (Zona Leste)

– UPBUS (Zona Leste)

– Pêssego (Zona Leste)

– Allibus (Zona Leste)

– Transunião (Zona Sudeste)

– MoveBuss (Zona Leste)

– A2 Transportes (Zona Sul)

– Transwolff (Zona Sul)

– Transcap (Zona Oeste)

– Alfa Rodobus (Zona Oeste)

ÔNIBUS EMTU, TREM E METRÔ:

A Secretaria de Transportes Metropolitanos informou no início da noite desta terça-feira, 28 de junho de 2022, que, para atender aos cidadãos da cidade de São Paulo em caso de greve dos motoristas dos ônibus municipais, irá antecipar a oferta máxima de trens em circulação e ampliar o horário de pico.

Segundo a pasta, Metrô, CPTM, ViaQuatro e ViaMobilidade estarão com trens reservas em condições operacionais em todas as linhas para o atendimento à demanda.

Já a EMTU poderá prestar apoio à SPTrans pelo sistema PAESE caso seja solicitado.

JULGAMENTO DA GREVE:

O desembargador Davi Furtado Meirelles, do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), atendeu pedido da SPTrans (São Paulo Transporte) e antecipou para esta quarta-feira, 29 de junho de 2022, às 15h, o julgamento da greve de ônibus em São Paulo.

A decisão foi tomada no início da noite desta terça-feira (28).

Como mostrou o Diário do Transporte, na tarde desta terça-feira (28), em assembleia promovida pelo Sindmotoristas, os trabalhadores decidiram retomar a greve que havia sido suspensa no dia 14 de junho de 2022.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/06/28/greve-de-onibus-em-sao-paulo-e-anunciada-para-esta-quarta-29/

A decisão ainda renovou a determinação de frota mínima de 80% nos horários de pico e 60% nas demais horas, sob pena de R$ 50 mil por dia ao Sindmotoristas em caso de descumprimento.

Tendo em vista as petições das partes dando conta da deflagração de movimento paredista a partir de 00h00 de 29 de junho de 2022, designo julgamento do dissídio coletivo para amanhã, dia 29 de junho de 2022, às 15h00. Intime-se as partes por telefone, com urgência. O MPT deverá apresentar eventual complementação de seu parecer até a hora do julgamento. Intime-se, também por telefone. Renovo os termos da liminar já concedida, até o momento do julgamento.

A Justiça tinha anteriormente marcado o dia 1º de julho comodata-limite para as partes apresentarem solução para as cláusulas em que ainda não havia acordo

Como mostrou o Diário do Transporte, na tarde desta terça-feira (28), em assembleia promovida pelo Sindmotoristas, os trabalhadores decidiram retomar a greve que havia sido suspensa no dia 14 de junho de 2022.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2022/06/28/greve-de-onibus-em-sao-paulo-e-anunciada-para-esta-quarta-29/

REFORÇO POLICIAL:

O SPUrbanuss, que representa as viações, diz que enviou, no final da tarde desta terça-feira (28) correspondência à Prefeitura, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria Municipal de Segurança Urbana, Guarda Civil Metropolitana e SPTrans pedindo reforço policial nas garagens e principais corredores de ônibus, para garantir a operação possível, com o objetivo de minimizar os efeitos da paralisação dos operadores.

PEDIDO DE AUMENTO DE MULTA:

A SPTrans (São Paulo Transporte), que gerencia as linhas municipais da capital paulista, informou no início da noite desta terça-feira, 28 de junho de 2022, que vai pedir aumento da multa determinada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) contra o Sindmotoristas por descumprimento da frota mínima estipulada pela Justiça durante a greve de ônibus em São Paulo que foi anunciada pela entidade sindical para ocorrer nesta quarta-feira (29).

A SPTrans informou que obteve decisão liminar na Justiça do Trabalho, no dia 31 de maio, que determinou a manutenção de 80% da frota operando nos horários de pico e 60% nos demais horários, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. A liminar segue válida, segundo o órgão de gerenciamento dos transportes.

A SPTrans diz ainda que “lamenta a decretação de greve de forma inoportuna por parte do Sindicato dos Motoristas, antes mesmo do julgamento do mérito pelo Tribunal Regional do Trabalho”.

O órgão ainda prometeu que vai monitorar a frota desde o primeiro minuto da madrugada para informar os passageiros de São Paulo por seus canais oficiais sobre a situação de momento.

“A SPTrans continua acompanhando a negociação entre empresários e trabalhadores e espera uma breve resolução entre as partes, para que a população de São Paulo não seja penalizada”.

HORA DE ALMOÇO FICA PARA EMPRESÁRIOS:

O fim da hora de almoço não remunerada é outro pedido dos trabalhadores.

Segundo o sindicato dos trabalhadores, pelo fato de a hora de almoço não ser remunerada, os motoristas deixam de ganhar em torno de R$ 700 por mês e os cobradores, aproximadamente R$ 500 mensais.

O Sindmotoristas alega que este dinheiro, na prática, acaba ficando nos cofres das viações e que os trabalhadores nunca conseguem parar por uma hora no meio da jornada.

Isso porque, há fatores que interferem no cumprimento deste horário, como o trânsito que pode atrasar a chegada ao final da linha ou mesmo a falta de espaço em terminais para o motorista e o cobrador parar se alimentar.

Em alguns locais, os condutores precisam ficar dando voltas até achar um lugar para parar, em especial veículos de maior porte, como ônibus articulados e biarticulados, que variam entre 18 metros e 28,2 metros de comprimento.

As empresas, por sua vez, dizem temer que não a não concessão da hora parada para almoço possa resultar em ações judiciais trabalhistas.

PREFEITURA QUER EVITAR AUMENTO DE TARIFA:

Em nota ao Diário do Transporte, na última semana, questionada sobre um eventual aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, a prefeitura informou que o intuito da gestão Ricardo Nunes é manter o valor de R$ 4,40 neste ano.

O prefeito Ricardo Nunes continua pessoalmente empenhado na busca de uma solução para evitar o reajuste da tarifa de ônibus, que prejudica a população e pressiona também os índices de inflação, apesar do aumento dos custos do sistema. A gestão municipal optou por não reajustar a tarifa desde o início de 2020, anterior à pandemia, e por absorver o aumento de custos do sistema, como por exemplo diesel, manutenção da frota acima da demanda e gratuidades. O objetivo é não penalizar a população mais vulnerável, que depende dos ônibus para trabalhar, estudar e realizar suas atividades diárias, além de contribuir para não pressionar ainda mais o índice inflacionário.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes