21/09/2014 09:00 - O Liberal - PA
A titular da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana
(Semob), Maisa Tobias, informou que as linhas de ônibus interestaduais que não
têm parada na avenida Almirante Barroso poderão trafegar pela pista do BRT,
acelerando as viagens e diminuindo o tráfego das outras três faixas da avenida.
Segundo ela, a Semob já conversou com a Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT) para um acordo sobre o assunto. Para que seja executado o
projeto, a ANTT precisa formalizar no Diário Oficial da União (DOU) as
alterações de rotas das linhas, a Câmara Municipal de Belém (CMB) precisa mudar
a regulamentação dos veículos autorizados para trafegar pelo BRT e o prefeito
Zenaldo Coutinho assinar a alteração. "Já conversamos com a ANTT. A intenção é
priorizar o transporte público coletivo”, destaca Maisa. "Faltam acertar alguns
detalhes, mas a idéia é enviar o mais rápido possível a mudança na norma para a
Câmara de Belém”, adiantou. Segundo o diretor geral da Semob, Gilberto Barbosa,
serão necessários alguns ajustes na infra-estrutura. "Temos que fazer uma saída
das canaletas direto na José Malcher com sinalização. Até o final do mês, esse
convênio de cooperação técnica deverá ser assinado”. Segundo informações da
Semob, seriam autorizadas no início cerca de 23 linhas interestaduais. O órgão
ainda pretende no futuro possibilitar com que as linhas intermunicipais também
trafeguem pela via. O supervisor da ANTT está em viagem para o interior do
Estado e ninguém pôde falar sobre a mudança.
TÁXIS
O taxista Gabriel Almeida, 48 anos, há 19 na profissão faz
ponto em uma associação na travessa Antonio Baena com a avenida Almirante
Barroso, ao lado de um grande supermercado de Belém, em São Brás. Quando
consegue pegar um passageiro que vai para o outro lado da avenida, no início da
rodovia BR-316, tem que desviar o trajeto pela avenida João Paulo II. Nos
horários de tráfego intenso, como às 18 horas, ele não se arrisca pela
Almirante Barroso, geralmente congestionada. Se pudesse andar pela via expressa
do Bus Rapid Transit (BRT) da Almirante, por onde passam os ônibus
semi-expressos, economizaria tempo de viagem e dinheiro dos passageiros.
Entretanto, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) manterá a
proibição dos táxis pelas vias do BRT e Gabriel continuará tentando fugir da
Almirante Barroso nos horários de pico.
Nas principais cidades de todo o Brasil, o BRT se
transformou em um dos principais projetos de mobilidade urbana. Cada gestão
municipal é responsável pela elaboração dos projetos e pelo gerenciamento,
determinando quais veículos são autorizados a utilizar as vias expressas. Os
táxis são uma incógnita neste processo e dividem opiniões. Enquanto Belo
Horizonte (MG) autoriza os taxistas a circularem pela pista do BRT, São Paulo
(SP) proíbe a utilização das vias expressas por esses veículos. Em Belém, a
Semob é categórica ao afirmar que os táxis são proibidos nas vias do BRT e não
haverá exceção. Na maioria das cidades, as vias são exclusivamente utilizadas
por ônibus articulados ou bi-articulados e carros de serviços de saúde e
segurança como ambulâncias e viaturas de polícia.
"Eu cheguei a conversar com um guarda de trânsito e
perguntar por que a gente não pode utilizar essas pistas. Ele disse que essa
possibilidade é incomum e muito difícil de acontecer. Se fôssemos direto seria
bom para gente, não pegamos nem 10% de viagens que iriam por aí”, explica
Gabriel. Para ele, a quantidade de viagens aumentaria já que os passageiros dos
táxis querem rapidez e segurança. "O taxista que tivesse passageiro entraria no
BRT em São Brás e sairia no Entroncamento. O elemento que pegasse a pista sem
ter passageiro seria multado”, sugere. Segundo os taxistas, para cruzar a
Almirante Barroso de uma ponta a outra no trânsito comum, eles não passam das
primeiras marchas, gastam em média 25 minutos, se pudessem pegar o BRT
reduziriam o tempo para aproximadamente 10 minutos. Isso resultaria em menor
gasto de combustível e diminuição do preço pago pelo passageiro.
Apesar dos possíveis benefícios para os passageiros, o
contabilista Joaz Wanzeler, 35, é contra a utilização do BRT para esta
finalidade. "Para mim esse espaço é reservado para ônibus expresso, se abrir
para taxista não haverá lei que dê jeito. Todo mundo vai se sentir no direito
de usar”, afirma. A professora Ane Santos, 37, e a sua mãe, a idosa Maria
Evangelina, 70, também não apóiam tal mudança. "Eu não apoio porque vai virar
uma bagunça. Já estão acontecendo muitos acidentes”, disse Ane. Para o
recepcionista Pedro Cardoso, 26, a possibilidade de benefício de uma viagem
mais rápida de táxi não deve sobrepor ao direito coletivo. "Eu estaria
ganhando, mas muita gente perderia com isso”, pontua.
De acordo com o diretor geral da Semob, Gilberto Barbosa, a hipótese dos táxis andarem pelo BRT já foi discutida internamente pelo órgão e afastada definitivamente. Para ele, o transporte público coletivo, como os ônibus, tem papel fundamental na cidade, já os táxis são transportes públicos individuais, o que significa que o itinerário é determinado pelo cliente e não pelo taxista. "Nada garante que o ponto de destino do cliente não seja conflitante. Por exemplo, se o contratante quiser ir para a BR-316 o taxista pega o BRT, mas se ele no meio do caminho pedir qualquer conversão o taxista será obrigado a fazer. E, quando você sai da faixa segregada do BRT para a comum ocorre o retardamento da velocidade e até acidentes”, explica.