27/05/2021 09:00 - Diário do Transporte
ADAMO BAZANI/WILLIAN MOREIRA
Morreu nesta quinta-feira, 27 de maio de 2021, aos 83 anos de idade, o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba por três mandatos, Jaime Lerner, devido complicações de saúde renal depois de ser internado por apresentar febre.
Lerner era formado em arquitetura desde 1964 quando concluiu seus estudos na Universidade Federal do Paraná e trabalhou no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba desde sua criação em 1965.
Como prefeito de Curitiba por três vezes, Lerner, ganhou notoriedade internacional pelo seu projeto de planejamento urbano e transporte integrado de Curitiba, inclusive com o BRT no município que possui vias exclusivas para seu tráfego e terminais com integrações, o que aumentou a fluidez dos ônibus.
Este modo de sistema foi na sequencia copiado e colocado em operação em várias cidades.
Outras de suas criações aos curitibanos foi o Jardim Botânico e A Ópera do Arame.
Já na liderança do estado como governador, Jaime Lerner elaborou o plano do Anel de Integração.
Alguns prêmios e reconhecimentos internacionais marcaram a trajetória de Lerner, como o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1990, e Unicef Criança e Paz, em 1996.
No ano de 2010, Lerner foi classificado pela revista americana Time como um dos 25 pensadores mais influentes do mundo e recebeu a Medalha de Urbanismo da L’Académie D’Architecture, na França.
PLANEJAR CIDADES A PARTIR DE EIXOS DE TRANSPORTES:
A história de Jaime Lerner se confunde com a memória do BRT no Brasil e no mundo, já que o modelo que implantou em Curitiba foi inspiração para vários países, muitos dos quais com Lerner atuando nos projetos.
Claro que o legado de Lerner vai além do BRT, mas a reportagem destaca este ponto.
Em 22 de setembro de 1974, a cidade de Curitiba, no Paraná, ganhava sua primeira linha de ônibus expressa em corredores, algo nunca visto no mundo, mas que era simples e eficiente.
Começaram a operar esta linha 20 ônibus no eixo Norte-Sul, entre Santa Cândida/Praça Rui Barbosa e Capão Raso/Praça 19 de Dezembro.
A ideia deu tão certo, apesar de algumas resistências de que se sentia confortável em deslocar-se de carro, que foi se expandindo.
Em abril de 1991, o BRT passou por uma reformulação no sistema de embarque e desembarque, que se tornou mais ágil e acessível. Surgiam as estações-tubo, que permitiam acesso ao ônibus no mesmo nível da plataforma e possibilidade de pagamento antes da chegada do coletivo. Inicialmente, as estações-tubo foram planejadas para os chamados Ligeirinhos, ônibus que faziam poucas paradas. Logo em seguida, ônibus de outros tipos de linha, como as expressas, também começaram a fazer paradas nas estações-tubo.
Em outubro de 1991 também, a Volvo desenvolveu um veículo também inédito: o ônibus biarticulado, com capacidade para aproximadamente 230 passageiros e com 25 metros de comprimento.
Hoje os biarticulados chegam a ter 28 metros de comprimento e podem atender sem grandes apertos 270 passageiros de uma só vez. Foi apresentado também um modelo de 30 metros pela Volvo.
Na época, o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, afirmou que muito mais que oferecer uma solução de mobilidade, os corredores de ônibus tinham o objetivo de permitir um crescimento urbano mais ordenado, ao longo das vias onde há oferta de transporte público, e cidades mais humanas, nas quais, através do transporte coletivo, o espaço urbano seja dedicado às pessoas e não aos carros.
E esse é o principal resultado do investimento em transporte coletivo.
Além de as pessoas conviverem mais, interagindo e melhorando as relações humanas, os espaços nas cidades são aproveitados de maneira mais inteligente.
Enquanto um ônibus convencional de 13,2 metros de comprimento atende 80 passageiros de uma só vez, para transportar estas mesmas 80 pessoas, são necessários 40 carros que ocupariam 153,2 metros perfilados, levando em conta que em média cada carro transporta apenas duas pessoas, mesmo tendo capacidade para quatro ou cinco.
O BRT não substitui o metrô e o trem e vice-e-versa, mas hoje é impossível pensar em cidades desenvolvidas sem sistemas de ônibus eficientes e de qualidade.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Willian Moreira em colaboração especial para o Diário do Transporte