Mais de 550 ônibus já contam com itens de biossegurança ‘BioSafe’ da Marcopolo

28/08/2020 14:50 - Diário do Transporte

JESSICA MARQUES

Após cerca de dois meses de lançamento, mais de 550 ônibus contam com itens de biossegurança da plataforma BioSafe, oferecida pela Marcopolo. Ao todo, são cerca de 400 veículos no exterior e 150 no Brasil. As informações foram divulgadas pelo diretor do Negócio Ônibus da Marcopolo, Rodrigo Pikussa, em entrevista exclusiva ao Diário do Transporte.

“Já temos mais de 550 veículos que receberam pelo menos um item do BioSafe Marcopolo. Os destaques são o sanitário com desinfecção por radiação ultravioleta, o ar-condicionado também com ultravioleta, dispensers de álcool em gel, entre outros. No mercado externo, está entre os mais pedidos a opção de proteção para o motorista”, detalhou Pikussa.

O BioSafe é um sistema que oferece vários componentes, que podem ser utilizados em conjunto ou isoladamente. O conjunto de soluções foi desenvolvido pela Marcopolo Next, divisão da Marcopolo que é focada em inovação. Os operadores podem optam por um ou mais itens, além de kits maiores. Outra opção, segundo o diretor, é o retrofit.

No exterior, os pedidos em sua maioria são para a África, além de países da América Latina, como Argentina, Peru e Chile. No Brasil, segundo Pikussa, os pedidos são pulverizados em diversas regiões do país.

“Nosso foco não está em comemorar o volume de vendas em si, mas de colaborar com o setor e o segmento para a retomada e criação dessa visão e imagem de seriedade e preocupação com o passageiro”, afirmou o diretor.

Confira a entrevista com Rodrigo Pikussa, na íntegra:

Diário do Transporte – A que fatores é possível atribuir esse número de vendas no período de dois meses?

Rodrigo Pikussa – É importante a gente pontuar é que não é tanto uma preocupação com o volume de vendas. Antes de mais nada, é de alguma forma colaborar com a retomada do setor.

Esses números são de veículos que saíram da fábrica com esses itens, mas existe outro número que são de itens como ar-condicionado, cortina etc. que estão sendo vendidos pela nossa área de reposição. É um número significativo também.

Vários clientes estão entendendo que ofertar itens de biossegurança é uma oportunidade de diferenciação e de trazer o passageiro de volta, se preocupando com a saúde dele.

O motor desses números é o entendimento de que levar biossegurança a sério é uma oportunidade de colaborar com a retomada. Não são investimentos de grande monta na maioria desses itens, mas colaboram com a construção da imagem de um transporte seguro.

Nosso foco não está em comemorar o volume de vendas em si, mas de colaborar com o setor e o segmento para a retomada e criação dessa visão e imagem de seriedade e preocupação com o passageiro.

A Marcopolo projeta um crescimento para as vendas das soluções BioSafe?

A gente acredita que essas soluções de biossegurança têm espaço para crescimento à medida em que o transporte começa a se recuperar. A gente acha que essa adesão tem muito espaço para crescimento porque as empresas estão em um nível de atividade muito baixo. Muitas regiões dão sinais claros de arrefecimento e em algumas regiões a situação ainda está crítica.

Acreditamos que mesmo após a vacina, a questão da biossegurança vai ser um ponto de atenção para todos os atores do transporte e do turismo. O passageiro que vai emergir no pós-pandemia, com ou sem vacina, vai ser mais crítico com relação a esses itens.

A jornada que estamos passando está sendo traumática e as pessoas vão ter um olho mais crítico com questões de biossegurança e limpeza. Quem adotar pelo menos alguns desses itens e levar essa questão a sério vai ganhar pontos com seus passageiros e clientes.

Como funciona o processo de retrofit com o BioSafe?

Uma coisa é um veículo novo e outra coisa é um retrofit. No caso de um veículo novo, incluir alguns itens de biossegurança trata-se de opcionais agregados ao pedido e adicionados à medida emque se constrói o veículo.

O retrofit é tomar o veículo em operação e fazer uma revitalização completa do interior dele incluindo os itens de biossegurança. Foi o que fizemos nos veículos da Ouro e Prata. Já estavam na frota operando há alguns anos, com uma configuração no padrão do cliente.

O procedimento é apenas para veículos Marcopolo?

É somente para veículos Marcopolo, por conta da responsabilidade técnica e questões legais. Agora, se o cliente quer comprar um kit de peças da plataforma e adaptar no veículo da concorrência, ele pode.

Qual é o modelo mais vendido com itens de segurança BioSafe?

O Paradiso 1200 New G7. Ele é o veículo mais utilizado e o mais vendido, de longa data, para o transporte rodoviário de longa distância. Em urbanos, o carro chefe da Marcopolo é o Torino.

Qual o nível de segurança sanitária do sistema de ar-condicionado com ultravioleta para evitar a contaminação por Covid-19?

A gente até publicou um estudo sobre a renovação de ar dentro do veículo. O equipamento de ar-condicionado tem várias funções. A mais óbvia é a refrigeração, mas dentro do equipamento existe uma outra função que é de fato promover a renovação do ar interno.

Os equipamentos de ar-condicionado rodoviários têm o damper, que faz a admissão de uma quantidade de ar fresco equivalente a 20 vezes o volume do veículo a cada hora.

O segundo ponto que a gente estudou e discutiu com infectologistas é que é muito improvável que uma gotícula do nosso aerossol consiga ser sugada pelo sistema de ar-condicionado, passar por todos os dutos, ventiladores e filtros do sistema e voltar a ser distribuída pelo veículo de forma viável.

A gotícula acaba ficando presa nessas superfícies e o sistema de ar-condicionado em si não é o responsável por espalhar isso dentro do veículo. Em um espaço aberto, não é o ar-condicionado que espalha, é a corrente de ar no interior do espaço.

É pouco provável que o ar-condicionado faça a disseminação do vírus no interior do veículo. Além disso, desenvolvemos o equipamento com ultravioleta. Definitivamente, todo fluxo de ar passa por uma zona onde essa luz ultravioleta está sendo aplicada. Qualquer bactéria ou vírus que passe por ali vai ser neutralizado.

Na remota possibilidade de o vírus passar, o uso dessas lâmpadas mitiga praticamente 100% das possibilidades de qualquer disseminação. Assim, 99,9% de qualquer micro-organismo é neutralizado.

O ar-condicionado não é um vilão, mas um promotor da renovação de ar. O ônibus não é uma caixa de contaminação, isso a gente pode garantir. Algumas políticas públicas são alarmistas e se baseiam em suposições e opiniões que não são embasadas tecnicamente.

Além dos itens oferecidos para os ônibus, a Marcopolo também atua em várias frentes de biossegurança, como em rodoviárias, por exemplo. Qual o objetivo dessa abrangência?

Quando a gente começou a discutir biossegurança, a gente pensou na jornada do passageiro. Ela não se inicia dentro do ônibus, ela começa no deslocamento de casa para a rodoviária, no ponto de parada e no processo de embarque até a utilização do veículo.

Assim, a gente pensou em formas de garantir a biossegurança em toda essa jornada. Um dos itens foi a questão da sanitização dos veículos. Desenvolvemos em conjunto com uma startup brasileira um sistema de sanitização dos ônibus com uma névoa seca. O objetivo é que, antes mesmo de iniciar-se a jornada do passageiro, ele vai encontrar um veículo que foi adequadamente sanitizado em todas as suas superfícies.

A gente também entendeu a importância da triagem. A possibilidade de contágio é muito maior com passageiros sintomáticos do que assintomáticos. A gente buscou uma solução para essa triagem, o mais touchless (sem contato) possível.

Essa solução é com uma câmera que faz a medição de temperatura, a confirmação de que ela está usando máscara, oferece a possibilidade de a pessoa se servir de álcool gel sem toque e fazer a validação da passagem da mesma forma.

Após o veículo ser limpo e a triagem adequada ser feita, começa a jornada dentro do ônibus. É onde o passageiro vai encontrar materiais antimicrobianos, sanitização, sistema sanitário com ultravioleta, ar-condicionado com a mesma tecnologia, entre outros itens, contemplando a jornada como um todo.

A Marcopolo também oferece a tecnologia BioSafe para além dos ônibus e rodoviárias?

Sempre com o objetivo de trazer a confiança para o passageiro no uso do ônibus, a gente começou a ofertar a desinfecção para os ônibus, para salas VIPs das rodoviárias, salas de embarque de clientes, nos próprios escritórios e tivemos outra diversificação para os hotéis.

Nessa jornada pode ser o passo seguinte e temos um trabalho feito com parceiros nossos de sanitização de quartos de hotel e em outros locais, como trens. É transporte e o turismo como um todo. A experiência do passageiro não é só sentar dentro do ônibus, é toda uma jornada.

Como é possível conciliar a necessidade de investimentos em soluções de biossegurança, que têm um custo, com a queda de arrecadação das empresas de ônibus? A Marcopolo oferece alguma forma de compra com condições facilitadas para que as empresas ao menos tenham os itens mais simples?

É um desafio que a gente compreende, mas a gente tem que buscar alternativas. O passageiro é mais crítico para a questão da biossegurança. É inevitável algum investimento de maior ou menor monta.

Nós colocamos o nosso banco Moneo à disposição dos clientes, com a possibilidade de financiamento, seja dos itens adquiridos, como peças, ou de itens incluídos nos veículos prontos e serviços de retrofit. Com a possibilidade de financiar em até 24 vezes com carência de seis meses, para mitigar o impacto inicial.

É um momento difícil com afetação muito grande, mas a nossa estrutura de soluções financeiras e nosso banco está disponível, com operações financeiras que viabilizam a inclusão desses itens.

A novidade é a aquisição de kits ou do retrofit com financiamento, mas do veículo em si a solução financeira já estava embutida antes na aquisição do ônibus novo.

Neste contexto de crise provocada pela pandemia de Covid-19, a Marcopolo também disponibilizou alguma solução financeira para a compra de novos veículos?

O Finame é a linha de crédito predominante. Mais recentemente o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) voltou a ser competitivo, mas ainda predomina o Finame. O que conseguimos fazer no início da pandemia e estamos disponibilizando ainda é a possibilidade de carência de até 12 meses, para evitar o impacto no curto prazo.

Da mesma forma, aqueles clientes que estavam já com o contrato de financiamento em vigor, o que o BNDES nos permitiu foi fazer um aditamento das parcelas por até seis meses. No caso de muitos clientes, algo próximo de mil contratos, postergamos as parcelas que venceriam de março a setembro para outubro agora. Estamos avaliando se conseguiríamos uma nova postergação. É um pleito da Marcopolo junto ao BNDES e Ministério da Economia. Não existe confirmação ainda, apenas nosso pleito.

Que fatores auxiliariam na recuperação do setor de transporte urbano, neste período de retomada?

O segmento de urbano caiu menos que o rodoviário. Transporte urbano é usado por necessidade de deslocamento. O rodoviário é optativo muitas vezes, como para turismo, visita de parente, viagem de negócios, é um pouco mais optativa.

O grande desafio que temos pela frente em transporte urbano é repensar a estrutura tarifária de custeio dos sistemas. Reconheço o trabalho que os operadores fazem de ofertar o melhor serviço possível dentro das condições tarifárias que temos.

Contudo, isso [a política tarifária] teria que ser repensado para que fosse possível colocar veículos melhores, mais frequência, ajustada à demanda por meio de tecnologias e ainda uma tarifa mais baixa.

A biossegurança é uma parte disso e a gente precisa repensar a qualidade como um todo, dentro daquele conceito da jornada. Não existe sistema no mundo que ofereça um serviço de ponta custeado somente pelo que se recebe do passageiro.

Jessica Marques para o Diário do Transporte