23/02/2016 07:10 - Valor Econômico
Fernanda Pires e
Francisco Góes / de São Paulo e do Rio
A parceria entre a empresa da Malásia Scomi e o grupo
brasileiro MPE para o fornecimento de material rodante da Linha 17-Ouro, um dos
monotrilhos de São Paulo, está em vias de ser rompida, conforme adiantou ontem
o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. A Scomi deve assumir toda a
encomenda. O monotrilho é um sistema de transporte que circula em vias elevadas
com os carros (trens) movidos a propulsão elétrica sobre pneus de borracha.
Segundo a Scomi, que não trata o assunto como rompimento,
mas como "acordo para encerramento da parceria", a decisão é
resultado da estratégia comercial das companhias - a Scomi pretende expandir o
negócio no Brasil. A MPE Montagens e Projetos Especiais, responsável pelo
projeto do monotrilho dentro do grupo MPE, está sendo investigada na Operação
Lava-Jato, segundo confirmou o Ministério Público Federal no Paraná.
Fonte com conhecimento do contrato disse que houve um
"estremecimento" na relação entre MPE e Scomi e que a fabricação dos
vagões para os trens, no sistema monotrilho, na fábrica de Santa Cruz, zona
oeste do Rio, está paralisada há cerca de seis meses. A fonte disse que o
contencioso tem relação com o descumprimento de acordos que estavam previstos
na parceria entre os dois grupos.
A MPE teria desistido de continuar na sociedade com a Scomi,
embora o grupo carioca ainda tenha interesse no negócio de trens urbanos e
metrôs, segmento no qual tem experiência. No mercado, comenta-se que a MPE
teria deixado de fazer pagamentos à Scomi. Procurada, a MPE não se pronunciou.
A empresa malaia teria deixado, por sua vez, de fornecer
alguns equipamentos para os vagões fabricados na fábrica da MPE em Santa Cruz,
disse a fonte.
A Scomi afirmou ter "plena capacidade" para
cumprir as obrigações contratuais e negou haver litígio entre as empresas.
Ponderou, contudo, que "em qualquer parceria há dificuldades naturais para
execução de um projeto de grande magnitude e amplo escopo". Disse que todos
os cronogramas contratuais com o Metrô de São Paulo foram atendidos.
Procurada, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos de
São Paulo afirmou que não há atraso na entrega do material rodante do
consórcio, formado ainda pelas construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida -
responsáveis pelas obras civis do consórcio.
A fábrica para atender à encomenda da Linha 17-Ouro foi
implantada em instalações pertencentes à MPE, em uma reforma concluída em 2012.
Originalmente a Linha 17-Ouro precisaria de 24 trens de 3 carros. Mas, devido a
questões relacionadas ao licenciamento ambiental do projeto, o traçado e o
cronograma originais do empreendimento sofreram alterações e, em função disso,
a encomenda foi reduzida para uma frota de 14 trens de 5 carros.
Segundo a Scomi, a produção dos trens de monotrilho consiste
em várias etapas e fases já previstas no contrato, que são executadas em
diversas partes do Brasil e do mundo. Os dois primeiros trens estão sendo
fabricados na Malásia. A fabricação das caixas de alumínio, por exemplo, que
integra o escopo da MPE, foram executadas na fábrica MPE, no Rio de Janeiro. A
fonte disse que chegaram a ser montadas algumas unidades de vagões, mas não
precisou o número exato.
Agora, no âmbito do acordo para encerramento da parceria que está sendo formalizado entre as empresas, a Scomi assumirá a montagem final dos trens. A companhia malaia disse ainda que a continuidade do projeto se dará em uma nova fábrica própria de monotrilhos e outros sistemas de material rodante que está em fase de implantação em Taubaté (SP). A unidade irá atender, além da Linha 17-Ouro, projetos futuros - como os trens da Linha 18-Bronze.
Obra deve sofrer
baixa de mais um consórcio
Fernanda Pires | De
São Paulo
A construção da Linha 17-Ouro, o monotrilho que ligará o
aeroporto de Congonhas à estação Morumbi da CPTM, na capital paulista, está
prestes a sofrer mais uma baixa. Desde dezembro as obras civis do elevado do
monotrilho - a cargo da Andrade Gutierrez e da CR Almeida - estão paralisadas.
Se for suspenso, será o terceiro dos quatro contratos da
Linha 17 a ser rescindido. Os outros dois - também formados por Andrade Gutierrez
e CR Almeida, para construção de pátio e estações - foram sustados em janeiro,
pela mesma razão. O único trecho da Linha 17 que está com obras civis em curso
é o do consórcio TIDP (Tiisa e DP Barros), responsável por 7,6 quilômetros dos
17,7 quilômetros totais e por algumas estações. O monotrilho deveria estar
pronto para a Copa de 2014.
O Metrô iniciou os trâmites para a rescisão desse terceiro
contrato e está consultando as empreiteiras participantes da licitação como
alternativa para continuar as obras. O segundo colocado foi o consórcio formado
por Queiroz Galvão, OAS, Bombardier Transit e Bombardier Transportation Brasil.
Até agora, apenas uma das quatro empresas do consórcio CMI,
responsável pelo fornecimento do material rodante e por parte das obras civis,
manifestou interesse em concluir o contrato. Trata-se da empresa Scomi, da
Malásia, responsável pela fabricação dos trens. As demais, Andrade Gutierrez e
CR Almeida, responsáveis pela obra, e a MPE, parceira da Scomi, não teriam se
manifestado. O valor do contrato com o consórcio é de R$ 542 milhões. As multas
podem passar de R$ 100 milhões.
A Andrade Gutierrez está sendo investigada na Lava-Jato. A
CR Almeida é citada em planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto
Youssef que relaciona projetos suspeitos de irregularidade com órgãos públicos
e estatais.
Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São
Paulo, a queda do ritmo das atividades começou em setembro de 2015. A pasta
disse que faz reuniões com as empresas para solucionar conjuntamente os
problemas. A Andrade Gutierrez não quis se manifestar. A CR Almeida não
retornou.
No caso das rescisões feitas em janeiro, a secretaria está
consultando as empreiteiras participantes da licitação para continuidade das
obras. A estimativa é de que até o fim de fevereiro a situação esteja
equacionada e os serviços sejam retomados em março.