30/09/2020 07:48 - Valor Econômico
Com a venda de veículos em queda de 44,8% até agosto, as montadoras instaladas no país estão tirando da gaveta planos para adequar a produção à nova realidade. Desde o início do segundo semestre, sete fabricantes anunciaram programas de demissão voluntária (PDV) que oferecem desde 20 salários adicionais a carros zero quilômetro.
General Motors, Ford, Mercedes-Benz, Renault, Toyota, Volvo e Volkswagen anunciaram programas de demissão voluntária em suas unidades no país. A GM, inclusive, irá abrir outro PDV hoje na unidade de São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos local, Aparecido Inácio da Silva, a companhia informou que a meta na fábrica era de 700 adesões. No primeiro PDV, 300 funcionários se habilitaram no programa. “A montadora então irá abrir outro PDV que irá até o dia 15 de outubro, para atingir a meta estipulada.”
A montadora informou que o PDV foi aprovado, além do ABC, na unidade de São José dos Campos (SP). Nas outras fábricas, a GM adotou suspensão temporária do contrato de trabalho, “layoff”. “A GM vem tomando uma série de medidas para, nesta ordem, proteger a saúde e segurança de seus empregados, fornecedores e parceiros, preservar empregos e garantir a sustentabilidade do negócio.”
A GM tem cerca de 7,5 mil funcionários em São Caetano do Sul. Na unidade de São José dos Campos, adeririam ao PDV 235 pessoas e a montadora, segundo o sindicato, demitiu mais 43 empregados. Em São José dos Campos, a empresa tem uma folha com 3,5 mil funcionários, sendo que 1,1 mil estão em “layoff” até novembro. No PDV da GM, a empresa ofereceu até sete salários adicionais, dependendo do tempo de casa, e um Onix zero quilômetro aos funcionários que aderirem ao programa.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, disse que a queda no mercado, em razão da crise econômica causada pela pandemia, tem feito as montadoras rever a operação no país.
“No início do ano, tínhamos uma estimativa de produzir 3,5 milhões de unidades. Até agosto o recuo foi de 44,8%, com uma produção de 1,11 milhão de unidades”, afirmou Moraes.
Segundo ele, com essa demanda não tem como não ter um ajuste na força de trabalho. No começo, conta Moraes, as montadoras utilizaram as regras da Medida Provisória 936, que previa a redução de salário e jornada e “layoff”.
“Ninguém sabia o que iria acontecer. Mas a recuperação não será imediata e as empresas estão criando mecanismos para ajustes na produção.”
Conforme Moraes, as montadoras utilizaram várias formas com pacotes especiais até dando carros como compensação. As empresas estão fazendo da melhor forma para ajustar a produção ao mercado. Vamos revisar as nossas projeções na próxima reunião, mas mesmo que a queda seja menor que a prevista, ainda será grande se comparada ao ano passado.” Pelos números da Anfavea, em agosto do ano passado as montadoras empregavam 128,2 mil pessoas. No mesmo mês de 2020, eram 121,9 mil funcionários nas empresas.
Na Ford, o PDV na unidade de Camaçari, na Bahia, poderá pagar uma indenização de até R$ 93 mil, dependendo do tempo de contrato do trabalhador, e o programa começa em primeiro de outubro. Lá a montadora emprega 6,5 mil pessoas diretamente. Na Volks, que conseguiu a negociação com as quatro fábricas no país, o PDV pode chegar a 35 salários extras. No início das negociações, o presidente da montadora, Pablo Di Si, disse que pretendia reduzir a força de trabalho em 30% no Brasil, o que ocasionaria a demissão de 5 mil funcionários. A montadora então abriu o PDV as dispensas serão feitas pelo programa.
Na Toyota, na unidade de São Bernado do Campo, a proposta aprovada inclui a abertura de um PDV para todos os trabalhadores da área administrativa, com incentivo de 12 salários e manutenção do plano de saúde por um ano. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a montadora disse que haveria o desligamento de 300 funcionários com a mudança com área de desenvolvimento para Sorocaba (SP). Com o acordo, agora a meta é 120 adesões no PDV.
Na Renault, em sua fábrica em São José dos Pinhais (PR), depois de três semanas em greve, em 11 de agosto, os empregados aprovaram um acordo que substituiu a demissão de 747 pessoas pelo PDV.
As montadoras de veículos pesados também estão adotando medidas de flexibilização da produção. A Mercedes-Benz abriu um PDV cujo prazo de adesão termina hoje. A empresa não informou qual a meta de dispensa. Já a Volvo abriu o programa em junho e teve adesão de 300 funcionários.