10/05/2022 08:03 - Valor Econômico
Por Cristian Favaro — De São Paulo
Com o home office ainda afastando dos escritórios boa parte dos trabalhadores de grandes centros urbanos, a Sem Parar tem registrado volume bem menor de clientes usando estacionamentos pagos. Neste segmento, a maior operadora de tags (os adesivos colados nos vidros dos carros) do país informa que de janeiro a abril deste ano, o movimento ficou 15% abaixo de igual período de 2019.
O movimento é medido pelo número de vezes que o usuário usa os estacionamentos credenciados pela Sem Parar. “A nossa visão é que isso [a queda] se deve a uma mudança de comportamento. Primeiro, as pessoas estão comprando mais no e-commerce, o que reduz o uso de estacionamento e consumo em lojas físicas. E muita gente que estava nos escritórios almoçava em shopping”, disse Carlos Gazaffi, presidente da empresa, em conversa com o Valor. “Mas agora está melhorando. Esses números começaram a se recuperar mais rápido”, observou. Entre janeiro a março, a queda havia sido maior, de 25%, reforçando assim o cenário de retomada.
O número de passagens nos pedágios de rodovias mostrava um cenário mais positivo no primeiro trimestre, com aumento de 4%. Mas em abril as concessionárias de rodovias registraram menos tráfego e o ritmo de alta perdeu força. No quadrimestre o movimento detectado pela Sem Parar ficou 0,4% maior em relação a igual período de 2019, portanto, antes da pandemia chegar ao país.
O distanciamento social, adotado nos últimos dois anos para evitar o contágio da covid-19, deu um impulso ao sistema de tags, que permite pagar pedágios de forma automática, sem contato pessoal. Dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) mostram que entre 2016 e 2018, o pagamento sem contato respondia por 48% do total de passagens, porcentual que subiu para 58% no ano passado.
Mas o cenário macroeconômico não tem sido favorável neste ano. Com inflação, diz Gazaffi, o poder de compra ficou menor. “Os setores estão enfrentando aumento de inadimplência. Nós também”, disse. O executivo observa, porém, que a inadimplência, apesar de subir, não é tão preocupante no setor pois a decisão de uso do pedágio é mais consciente e menos impulsiva do que em outros segmentos como usar o cartão de crédito para fazer compras pela internet.
A Sem Parar fechou 2021 com 6 milhões de veículos ativos, o que equivale a cerca de 80% do mercado de tags no Brasil. Mesmo com a pandemia, a empresa cresceu em média 15% ao ano nos últimos cinco anos. O objetivo é manter crescimento de dois dígitos neste ano.
A empresa, fundada em 2000, foi pioneira no segmento, que ganhou concorrentes de peso, como a ConectCar (ligada ao Itaú), a Veloe (Bradesco e BB) e a Greenpass. Gazaffi ponderou que o crescimento da empresa ocorre mais na atração de novos usuários do que tirando clientes de concorrentes. Hoje, cerca de 20% dos carros possuem o serviço de tags.
Como forma de incentivar o crescimento do mercado, a empresa tem feito parcerias, com locadoras e montadoras de carros, por exemplo.
Mudanças regulatórias ajudam. Novas concessionárias de rodovias passaram a adotar um sistema em que o usuário com tag ganha desconto de 5% na tarifa. A tag é usada também para dar desconto aos passageiros frequentes. “Cerca de 20 concessões já foram licitadas com o desconto de usuário frequente. Vemos um aumento de 10% no volume de passagens automáticas nessas rodovias após a entrada do modelo”, diz o executivo.
Há ainda outro modelo que promete tornar a tag ainda mais central, o chamado “free flow”, quando o usuário paga apenas pelo que rodou na estrada. Gazaffi explicou que a primeira a adotar será a rodovia Dutra, que liga São Paulo ao Rio, com teste em 2025.
Gazaffi vai começar a explorar o “white label”, sistema já usado pelas rivais. Nesse modelo, a marca da tag é do parceiro. As conversas ocorrem com a Caixa, que firmou uma joint venture com a FleetCor, controladora da Sem Parar.