11/09/2014 07:35 - Gazeta do Povo
Os planos diretores de quatro dos municípios mais populosos
do interior do Paraná – Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu – devem
ser revisados, obrigatoriamente, a partir de 2016. Embora nem todas as leis
complementares a esses planos estejam em vigor, as prefeituras já iniciaram os
debates para fazer as atualizações. Os planos diretores disciplinam o que é
permitido ou proibido nas cidades, e suas revisões periódicas ajudam a
recolocar no rumo o planejamento urbano.
Londrina, no Norte, implantou o seu plano em 2008, mas duas
leis complementares (a do uso e ocupação do solo e a do sistema viário) ainda
não foram aprovadas pelos vereadores. Após a aprovação, a prefeitura vai
iniciar a revisão do Plano Diretor, que tem de estar pronto até 2018. O
Estatuto da Cidade regra os planos e determina que sejam renovados a cada dez
anos.
A diretora de Planejamento Urbano de Londrina, Maíra Tito,
conta que a prefeitura já pediu orientações aos governos federal e estadual e
que, em breve, vai definir a metodologia da revisão, que deve contemplar
análise de dados e consultas públicas.
O Plano Diretor de Maringá, no Noroeste, "vence” em 2016 e o
secretário municipal de Planejamento, Laércio Barbão, disse que vai realizar
ainda neste ano duas conferências, uma de avaliação e outra de definição das
mudanças.
O município se destaca por já adotar o IPTU Progressivo (que
prevê a atualização anual do tributo) e a Outorga Onerosa (que incide sobre os
pavimentos complementares de um edifício). "Estamos aguardando o encaminhamento
das secretarias municipais para definir os eixos temáticos que serão discutidos
na revisão do Plano Diretor”, afirma o secretário.
Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, houve dois debates
públicos sobre o Plano Diretor neste ano. A lei geral é de 2006. Como em
Londrina, Ponta Grossa ainda não aprovou todas as leis complementares. Uma
delas, que está em discussão na Câmara neste mês, é a lei de impacto da
vizinhança, que define as consequências de um empreendimento no seu entorno.
Após às aprovações, o secretário municipal de Planejamento, João Marçal Júnior,
diz que irá intensificar a revisão do plano.
A lei geral do Plano Diretor de Foz do Iguaçu também é de
2006, mas por enquanto as discussões sobre a revisão não iniciaram. Segundo o
diretor de Uso do Solo da Assessoria Especial de Planejamento, Ricardo
Albuquerque, algumas demandas técnicas já surgiram e entrarão em pauta. Ele
considera que o plano diretor tem de incluir as necessidades dos bairros, com
maior controle sobre os vazios urbanos do Centro, e da mobilidade urbana, já
que a cidade é turística.
IBGE
Estatuto da Cidade impõe prazo até 2018
Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE
mostram que, em 2013, 2.785 municípios do país tinham planos diretores vigentes
e 763 estavam em fase de elaboração.
A lei que rege os planos diretores é o Estatuto da Cidade,
de 2001. O prefeito que não tem o documento ou não o revisou no período de dez
anos pode ser acusado de improbidade. Até o fim de junho de 2018, todos os
municípios, nas condições previstas no Estatuto da Cidade, terão de ter planos
aprovados. A exigência recai sobre cidades com mais de 20 mil habitantes, integrantes
de regiões metropolitanas, cidades turísticas, com impacto de grande
investimento econômico ou com risco de desastres naturais.
Atraso
Seis prefeituras ainda nem começaram o plano
O plano diretor é obrigatório para municípios com mais de 20
mil habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas, segundo o Estatuto da
Cidade. No entanto, uma lei estadual de 2006 determina que todos os municípios
tenham planos diretores.
Segundo dados da Secretaria do Desenvolvimento Urbano, das
399 prefeituras do Paraná, 378 têm planos em vigor, 15 estão em fase de
elaboração e seis ainda nem começaram: Bom Jesus do Sul, Corumbataí do Sul,
Jundiaí do Sul, Presidente Castelo Branco, Salto do Itararé e Rio Branco do
Ivaí.
Para elaborar um plano diretor com uma empresa contratada, a
prefeitura gasta até R$ 50 mil. Como nem todas têm o recurso, a Sedu repassa o
dinheiro. Por causa do período eleitoral, o repasse não pode ser feito. Após as
eleições, no entanto, as prefeituras pendentes poderão iniciar os processos.
Conforme o geógrafo e analisa de Desenvolvimento Municipal
da Secretaria, Carlos Augusto Storer, a lei estadual exige a apresentação dos
planos diretores. Quem não o fizer, não pode receber recursos para obras de
desenvolvimento urbano.
Tão importante quanto nas cidades médias e grandes, o
planejamento urbano também deve ser adotado nas pequenas, segundo Storer. "As
enchentes de junho no Paraná foram uma demonstração disso”, completa. Ele cita
que várias pontes foram levadas nas enxurradas por terem sido mal planejadas,
não respeitando a capacidade de cheia dos rios. Em junho, 124 cidades
paranaenses foram afetadas pelas cheias.
Lei não pode virar "página morta”
Para que os planos diretores sejam cumpridos e moldem as
políticas de desenvolvimento urbano, é preciso haver planos setoriais de
desenvolvimento e a participação social, por meio de conselhos municipais. É o
que opina o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná, Jeferson
Dantas Navolar. "Os planos não podem virar página morta e os prefeitos precisam
estar atentos a isso”, afirma.
Segundo ele, nos últimos 15 anos as estruturas jurídica e
administrativa se profissionalizaram na gestão dos municípios. "O Estatuto da
Cidade foi um avanço, ainda que tardio.” O modelo de gestão de concentrar os
serviços públicos no centro das cidades e abrir loteamentos populares nos
bairros mais afastados está ultrapassado. Maringá, no Noroeste, tem a maior
densidade populacional entre as principais cidades do interior. "Vamos tentar
extinguir os vazios urbanos para que as propriedades cumpram sua função
social”, diz o secretário de Planejamento, Laércio Barbão.
A baixa densidade, conforme Navolar, encarece a
administração pública. Ponta Grossa, por exemplo, tem 200 quilômetros de
perímetro urbano, segundo o secretário municipal de Planejamento, João Marçal
Júnior, o que pulveriza os investimentos em infraestrutura.
A cidade dos Campos Gerais tem o menor porcentual de
pavimentação no entorno dos domicílios ocupados. A taxa é de 53%, enquanto que
em Londrina, por exemplo, há ruas asfaltadas servindo 97% das residências. Os
dados são do IBGE.
Mesmo quem mora próximo à área central sofre. A casa de Simone dos Reis fica a cerca de 500 metros do centro de Ponta Grossa e a rua é de terra. "Moro na mesma casa há 20 anos. Já foi pedido o asfalto, mas até agora não tivemos resposta.” Por causa da chuva, o cascalho sumiu, as galerias ficaram danificadas e valetas foram formadas na rua.
INFOGRÁFICO: Densidade demográfica é mais alta nas cidades
que têm melhores indicadores sociais