O número de motoristas flagrados na capital por embriaguez ao volante cresceu 41,4% nos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com igual período de 2015. Segundo dados obtidos pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação, foram 413 casos entre janeiro e abril do ano passado e 584 nos mesmos meses de 2016.
Embriaguez ao volante é quando a concentração é igual ou superior a 0,34 miligrama de álcool por litro de ar alveolar. Nesse caso, o motorista comete crime de trânsito, responde a processo penal e é multado. Até 0,33 mg/l o motorista também é multado e responde a processo administrativo. Mesmo que se recuse a fazer o teste do bafômetro, pode ser preso caso apresente sinais claros de embriaguez.
Segundo o levantamento, a capital paulista teve quase cinco motoristas detidos nos primeiros quatro meses do ano por embriaguez ao volante.
Entre as dez vias com mais motoristas flagrados nesse tipo de crime, sete estão na zona leste. A região concentrou praticamente um em cada três casos de embriaguez ao volante (36,4%) registrados nos primeiros quatro meses do ano na capital.
O destaque negativo ficou com a avenida Governador Carvalho Pinto, ao redor do parque Tiquatira, com muitos bares por perto, em Cangaíba, na zona leste de São Paulo, com 12 casos no período.
Quanto ao dia da semana, dois em cada três flagrantes (66,9%) acontecem entre sexta-feira e domingo.
SAÚDE PÚBLICA
Para o psiquiatra Arthur Guerra, a relação entre álcool e direção é um problema de saúde pública. "O álcool provoca uma sensação de bem-estar, um relaxamento e um alívio. É uma sensação de confiança, de que sabe dirigir bem e que nada de errada vai acontecer. Ao mesmo tempo, diminui os reflexos", diz. "Isso provoca uma vulnerabilidade em que dirige".
Segundo Guerra, são três os fatores que levam o motorista a beber e dirigir. "A pessoa conta que não será pega, acha que, de fato, não há problema em misturar álcool e direção, e pensa que vai conseguir conversar com o policial ou usar aplicativo para escapar da blitz".
Especialista em direito no trânsito, Maurício Januzzi afirma que o motorista não é obrigado a fazer provas contra si mesmo e, por isso, vê de forma negativa a autuação de quem se recusa a passar pelo bafômetro.
"Entendo que a infração administrativa, do jeito que foi redigida, afronta o princípio de não fazer prova contra si. O único jeito é recorrer na Justiça, ingressando para anular a multa. Tem quer ir até o Supremo Tribunal Federal", afirma.
Januzzi afirma que as blitze não têm a eficácia necessária. "O motorista é avisado por meio de aplicativos sobre onde está acontecendo. Mas, por outro lado, ainda tem muita gente que bebe, dirige, não se importa e assume o risco", diz.
Segundo o especialista, cada carro da polícia deveria ter um bafômetro para que, em casa de suspeita de embriaguez, o motorista fosse abordado. "Ocorreria durante o patrulhamento normal", explica.
A Secretaria da Segurança Pública, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou em nota que, no Estado, houve aumento de 1,72% no número de blitze, na comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período de 2015. Em números absolutos, foram 23.677 bloqueios em 2016, 401 bloqueios a mais do que no mesmo período de 2015. "Isso contribuiu para a queda de 2,98% das ocorrências de homicídios por acidente de trânsito", afirmou. Não foram informados os dados da capital, como solicitado.
Segundo a Secretaria, as prisões caíram 15,44% (de 725 para 613), e as autuações administrativas 5,24% (de 8.696 para 8.240).
"A Polícia Militar planeja as fiscalizações da Operação Direção Segura por meio de dados de inteligência policial, levando em conta o mapeamento de locais com maior índice de ocorrências relacionadas ao consumo de álcool. Isso otimizou os bloqueios realizados", diz.
RECUSA
Motoristas têm se recusado a passar pelo teste do bafômetro na capital. Na última quarta-feira à noite, a reportagem acompanhou duas operações da Polícia Militares, nas avenidas Sumaré e Francisco Matarazzo (zona oeste de São Paulo). E em ambas houve condutor que não quis soprar no aparelho para não produzir provas contra si.
Um gerente operacional de 39 anos havia acabado de celebrar o próprio noivado no restaurante do Terraço Itália (região central), onde dividiu uma garrafa de vinho com a noiva. Na volta, ao passar pela Francisco Matarazzo, foi parado na blitz.
"Não vou negar que bebi, mas não vou fazer o teste do bafômetro", disse, logo depois de estacionar e descer do veículo com a noiva.
Para não ter o carro guinchado, o casal pediu a um taxista que os conduzisse no veículo deles.
A reportagem flagrou pelo menos outras três situações semelhantes, de motoristas que se recusaram a passar pelo bafômetro e foram autuados. Em duas, familiares vieram buscar o veículo das pessoas paradas. Outro caso terminou com o guinchamento do carro.