Ônibus do ABC deixam população insatisfeita, diz pesquisa, mas prefeituras não respondem

04/02/2019 06:03 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI/JESSICA MARQUES

Os serviços de ônibus do ABC Paulista estão entre os que deixam a população da região mais insatisfeita e as prefeituras, responsáveis pela delegação das linhas às viações, parecem pouco preocupadas em dar algum tipo de satisfação para os usuários.

O sistema de ônibus da cidade de Santo André, no ABC Paulista, é o que reúne mais passageiros nada satisfeitos com os serviços. Já a melhor avaliação sobre um sistema de transportes públicos da região é para os ônibus municipais de São Caetano do Sul.

É o que revela pesquisa denominada “A Cara do ABC”, realizada entre os dias 11 e 15 de janeiro, com mil pessoas com idade acima de 15 anos nas sete cidades da região.

Os trabalhos são do ABC Dados, primeiro instituto de pesquisas voltadas para a região.

Segundo o levantamento, Santo André reúne 41% de passageiros nada satisfeitos e 32% de pouco satisfeitos. Com isso, o índice de insatisfação com os ônibus da cidade é de 73%.

O índice só é menor que Diadema, que soma 76% de insatisfação, entretanto, o total de pessoas nada satisfeitas é menor que de Santo André: 36%. Já as pessoas que de declararam pouco satisfeitas com os ônibus de Diadema somam 40%

O sistema de ônibus de Santo André é operado pelo Consórcio União Santo André, que possui contrato até 2023, e pela Suzantur, de Claudinei Brogliato, que atua de forma provisória no lote de linhas da região da Vila Luzita, cujo edital de licitação deve ser relançado pela gestão do prefeito Paulo Serra.

Integram do Consórcio União Santo André a Viação Guaianazes e ETURSA – Empresa de Transporte Urbano Rodoviário de Santo André, de Ronan Maria Pinto, que está preso pela operação Lava-Jato desde maio de 2018; EUSA – Empresa Urbana Santo André, de Baltazar José de Sousa; Viação Vaz, de Ozias Vaz; e TCPN – Transportes Coletivos Parque das Nações, de Carlos Sófio.

Em Diadema, atuam a Benfica, das famílias Figueiredo e Freitas, e a MobiBrasil, de Niege Chaves.

Com exceção de São Caetano do Sul e Mauá, cujas respostas “satisfeito” foram de 54% e 51%, respectivamente, todas as cidades do ABC tiveram avaliações negativas por parte dos entrevistados.

A cidade de São Caetano do Sul é operada pela Vipe – Viação Padre Eustáquio, de Fábio Estáquio Silveira e Mauá e atendida pela Suzantur, de Claudinei Brogliato.

Em São Bernardo do Campo, cujo sistema é operado pela SBCTrans, da família Setti e Braga, a insatisfação com o transporte público é de 62% (33% nada satisfeitos e 29% pouco satisfeitos). O índice de satisfação é de 31% (30% satisfeitos e 1% totalmente satisfeito).

O índice de insatisfação dos passageiros de ônibus de Ribeirão Pires é de 58% (34% nada satisfeitos e 24% pouco satisfeitos). A satisfação é de 24% dos entrevistados. Chamou a atenção o alto percentual de pessoas que não souberam responder: 18%.

Os serviços municipais em Ribeirão Pires são operados pela empresa Rigras, de Nivaldo Aparecido Gomes.

Em Rio Grande da Serra, a insatisfação é de 50% dos entrevistados (15% nada satisfeitos e 35% pouco satisfeitos). A satisfação é de 25% dos passageiros entrevistados e, o percentual de pessoas que não souberam responder é alto também: 25%.

Na cidade, os serviços de ônibus são operados pela Viação Talismã, de José Pereira, filhos e netos.

PASSAGEIROS RECLAMAM   – SONORAS DA JANETE

Diário do Transporte e a Rádio ABC ouviram passageiros de ônibus de cidades da região.

Até mesmo aquelas que tiveram bons índices de satisfação recebem reclamações.

A aposentada Meire, que mora no Bairro Santa Maria, em São Caetano do Sul, afirma que no município o problema é a espera por ônibus, que é muito alta em algumas regiões.

“Eu moro aqui no Bairro Santa Maria e pego o Circular Gerty ou o Barcelona e deles não tenho queixa, porque eles não demoram muito mesmo. Agora o Santa Paula e o Bairro Mauá, para quando vou no Maria Braido ou no oftalmologista, que é fora de mão, tem vez que demora muito mesmo, eu fico mais de uma hora no ponto esperando. Então pego duas conduções, o ônibus aqui na Alameda São Caetano até o terminal e outro até esses lugares, porque se eu ficar esperando, eu fico a vida inteira”, disse.

A auxiliar de comunicação Beatriz, por sua vez, mora na Vila Magini, em Mauá. Apesar de os dois municípios terem tido bons índices nas pesquisas, os problemas também são apontados por passageiros, tanto no trânsito quanto no transporte coletivo.

“Em Mauá fica parado o dia inteiro na região do centro, mas para dentro dos bairros é tranquilo, bem sinalizado e tem bastante semáforos, faixas de pedestres, então essa parte é tranquila e o trânsito em si é normal, mas o centro fica parado o dia inteiro”, afirmou Beatriz.

Beatriz afirmou também que está pouco satisfeita porque o ônibus demora bastante para passar. Contudo, esse foi o único problema apontado.

“Os demais serviços são tranquilos, só a demora mesmo que é bem chatinho, porque tem que sair bem mais cedo e você não conta com o horário do ônibus passar”

PREFEITURAS NÃO SE PREOCUPAM EM RESPONDER:

A maior parte das prefeituras do ABC Paulista sequer respondeu à solicitação e posicionamento do Diário do Transporte e da Rádio ABC sobre a pesquisa do Instituto ABC Dados.

Desde 24 de janeiro, a reportagem procurou as assessorias de imprensa das prefeituras, não só pedindo posicionamento das administrações, mas querendo saber ações positivas quanto aos transportes e se as gestões fazem pesquisas e levantamentos próprios para apurar se os passageiros estão satisfeitos ou não com os serviços de ônibus que gerenciam.

Apenas a prefeitura de São Bernardo do Campo disse na sexta-feira, 25 de janeiro de 2019, que iria dar uma resposta. A reportagem voltou a cobrar ao longo da semana, mas não obteve retorno.

As demais administrações municipais não se manifestaram com relação à demanda.

Vale lembrar que apesar de os serviços serem executados pelas empresas particulares, a qualidade dos sistemas é de responsabilidade dos prefeitos, já que o poder público é concedente das linhas e deve cobrar o básico dos transportes: qualidade, pontualidade, confiabilidade, frequência compatível com a demanda, modicidade tarifária e sempre responder as solicitações da sociedade civil.

Pelos resultados da pesquisa e pelo silêncio das administrações em não responder depois de quase duas semanas do pedido de “outro lado”, aparentemente as atuais gestões de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não se preocupam com o assunto.

Vale lembrar também que o prefeito de Santo André é Paulo Serra (PSDB). O Executivo de São Bernardo do Campo é comandado por Orlando Morando (PSDB). A cidade de São Caetano do Sul tem como chefe da gestão municipal José Auricchio Júnior (PSDB). Comanda a cidade de Diadema, Lauro Michels (PV). À frente de Mauá, a prefeita interina é Alaíde Damo (MDB), já que o prefeito Átila Jacomussi (PSB) foi preso Operação da Polícia Federal Trato Feito, um desdobramento da Operação Prato Feito, que investiga corrupção e desvios da merenda escolar.  O prefeito de Ribeirão Pires é Adler “Kiko”Teixeira (PSB) e de Rio Grande da Serra é prefeito Gabriel Maranhão (sem partido, porque foi expulso do PSDB por “infidelidade partidária” por apoiar Márcio França-PSB e não João Doria – PSDB nas eleições estaduais).

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Jessica Marques para o Diário do Transporte