13/08/2022 09:30 - Diário do Transporte
ADAMO BAZANI
Na comparação entre antes de pandemia de covid-19, em 2019, e o atual momento, os ônibus urbanos no Brasil deixaram de transportar 10,8 milhões de passageiros. A perda para o setor foi de R$ 27,8 bilhões no período.
O dado faz parte do Anuário 2021/2022 da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) divulgado nesta terça-feira, 09 de agosto de 2022, no Seminário Nacional da entidade realizado em São Paulo.
O resultado negativo ocorre mesmo com uma recuperação de parte da demanda de passageiros de 37,8% em 2021 em relação a 2020.
No período da pandemia, 55 empresas ou consórcios de ônibus interromperam os serviços, sendo que deste total, 13 encerraram as atividades.
Também foram cortados, no período da pandemia, 89.572 mil empregos no setor de ônibus urbanos, o que significa queda de 22,1% de todos os empregos diretos gerados pelas viações antes da pandemia.
Ainda em relação à força de trabalho, o Brasil registrou na pandemia, em média, uma paralisação ou greve de ônibus a cada dois dias. Em todo o país, 108 sistemas de transporte público por ônibus foram atingidos por 397 movimentos grevistas, protestos, manifestações, entre outros.
Toda esta queda de demanda e da saúde financeira das atividades das viações agrava ainda mais a chamada crise de mobilidade urbana, com uma quantidade maior de pessoas deixando o transporte público, uma vez que o número de passageiros dos ônibus urbanos já vinha caindo. E a maior parte das pessoas que sai dos ônibus não vai para os transportes sobre trilhos, mesmo porque, na maior parte das viagens, os passageiros de ônibus também são passageiros de trens e metrôs graças devido às integrações e baldeações e, soma-se a isso, o fato de a malha de trilhos crescer muito lentamente.
Antes da pandemia, as pessoas que deixavam os ônibus, em sua maioria, iam para meios individuais de deslocamento.
Já com a pandemia, além deste fator, as pessoas deixaram de se deslocar pelas cidades, seja pelas medidas de isolamento social ou porque simplesmente perderam o emprego e a renda.
O presidente-executivo da NTU, Francisco Christovam, confirmou que a queda do total de passageiros, da arrecadação do setor e da produtividade dos ônibus já virou estrutural.
Christovam defende que, além de ações pontuais e emergenciais, como subsídios e auxílios para custeio de gratuidades e benefícios sociais pelos transportes, as leis que regem os contratos de ônibus pelo Brasil afora precisam ser modernizadas, é o chamado “novo marco legal dos transportes”.
Além disso, para a entidade, os transportes públicos beneficiam a todos, até quem não usa ônibus, trem e metrô, e hoje, na grande parte do País, todo o custeio dos transportes recai apenas sobre o passageiro, que paga uma tarifa alta para sua renda e insuficiente para manter os serviços com qualidade.
Segundo a NTU, para chegar a este número de perda de demanda e de arrecadação dos transportes foram levados em conta 11 indicadores nos sistemas de transportes de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo que, juntos, representam mais de 35% da frota nacional e da quantidade de viagens realizadas.
Foram comparados os meses de abril e outubro de cada ano.
Em abril de 2021, a alta do número de passageiros foi de 119,5% na comparação com abril de 2020, quando começaram a se intensificar as medidas mais restritivas para conter a circulação do vírus causador da covid-19.
Já em outubro de 2021, foi registrada uma queda de 2,1% da demanda de passageiros em comparação com outubro de 2020.
70% DA DEMANDA DE ANTES DA PANDEMIA:
Segundo o levantamento da NTU, o total de passageiros transportados está em 70% aproximadamente ao que era registrado nas catracas antes da pandemia, em 2019.
Em 2019, eram realizadas 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes por dia no país, número que caiu para 22,4 milhões em 2021 (queda de 32,6%).
ÔNIBUS MENOS PRODUTIVOS:
Com queda de demanda pela pandemia, problemas crônicos de falta de prioridade e infraestrutura ao transporte público e leis engessadas que impedem inovações por parte do transporte regular, os ônibus estão cada vez menos produtivos, ou sejam, conseguem fazer menos viagens e transportam menos gente.
Em 2021, cada ônibus, em média, transportou por todo o dia de jornada, 251 passageiros.
Segundo a NTU, é o menor índice de toda a série histórica.
De 2020 para 2021, houve um acréscimo de 50,5%, embora, em relação a 2019, a redução seja ainda alta, de 25,1%.
A produtividade dos ônibus caiu desde 1993, 41,5%. Em relação ao ano de 2019, ainda há baixa de 2,5% da produtividade
O Índice de passageiros equivalentes (viagens realizadas) por quilômetro (IPKe) é o menor desde 1995, quando começou a série histórica da NTU.
Este índice atualmente é de 1,34 passageiros equivalentes (viagens realizadas) por quilômetro. O maior valor foi entre 1994 e 1995: 2,59.
OFERTA ESTÁ EM 82,3% AO QUE ERA ANTES DA PANDEMIA:
As empresas de ônibus dizem que a oferta de transportes está em 82,3% em relação à frota de antes da pandemia e a demanda de passageiros está em torno de 70%
A oferta de transporte público por ônibus aumentou 8,5%, em 2021, na comparação com 2020, já com pandemia.
Segundo a NTU, isso ocorreu porque o setor atendeu às orientações das autoridades sanitárias, em relação à importância de garantir o distanciamento social no interior dos ônibus.
ÔNIBUS MAIS VELHOS:
A NTU também em seu anuário destacou que, como reflexo da crise do setor de ônibus que já existia e foi agravada com a pandemia, a idade média da frota nas principais cidades é a mais alta desde 1995, quando este indicador começou a ser apurado pela entidade: em outubro de 2021, a frota de ônibus tinha idade média de 6,12 anos e, em abril de 2022, 5,93 anos.
Em abril de 1997, a idade média dos ônibus foi a mais baixa da história: 3,93 anos.
DIESEL NUNCA PESOU TANTO:
Outro ponto que o Anuário da NTU destacou é que, em decorrência dos constantes aumentos, o óleo diesel nunca pesou tanto nos custos operacionais das empresas de ônibus do que agora.
O combustível consome 33,7% dos recursos necessários para a operação das linhas.
A entidade diz que a partir da correção pelo IGP-DI para atualização dos preços, ocorreu um aumento de 12,3% nos valores praticados no mês de abril e de 49,1% em outubro, comparativamente com o ano de 2020.
Em outubro de 2021, o preço médio do litro do diesel para as empresas era de R$ 4,69 e, em abril de 2022, R$ 4,03.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes