Os benefícios das cidades compactas para a saúde - Claudio Bernardes

06/02/2017 09:30 - Folha de SP

O crescimento populacional nas grandes cidades do mundo é tendência bastante clara.

Segundo previsões, nos Estados Unidos, na China e na Índia a população das maiores cidades deve aumentar, até 2050, em 33%, 38% e 96%, respectivamente.

Em alguns países, o crescimento populacional ancorado no desenvolvimento de subúrbios com característica exclusivamente residencial limita a possibilidade das pessoas caminharem ou se deslocarem em bicicletas para suas atividades diárias.

Esse modelo de ocupação territorial com baixa densidade populacional torna proibitivo o custo do transporte público. Além disso, aumenta os índices de uso do transporte individual e da exposição das pessoas aos riscos associados a esse tipo de deslocamento, como sedentarismo, aumento da poluição atmosférica e do barulho que, combinados com os riscos de colisão, elevam as taxas de doenças crônicas, mortes e ferimentos.

Trabalho publicado recentemente e coordenado pelo professor Mark Stevenson, da Universidade de Melbourne, investiga em seis cidades a saúde da população e a sua associação às políticas de uso de solo e de modos de transporte. As cidades selecionadas foram Melbourne, Boston, Londres, Copenhague, São Paulo e Nova Délhi.

As análises foram efetuadas considerando-se a associação entre ações de planejamento urbano (densidade demográfica, distâncias médias a percorrer para alcançar o transporte público e diversidade de uso do solo) com utilização efetiva dos diversos modos de transporte em cada cidade.

Os estudos avaliaram as informações das distâncias percorridas diariamente por cada modo de transporte e dos respectivos números de acidentes fatais e ferimentos. Analisaram, também, a influência e os efeitos da falta de atividade física relacionada aos modelos de mobilidade nas doenças cardiovasculares, diabetes e, ainda, na relação dos níveis de emissão de poluentes oriundos de transportes motorizados com as doenças respiratórias.

Da comparação entre cidades, saíram alguns resultados interessantes. O risco de morte por quilômetro percorrido no uso de transporte individual em Nova Délhi, por exemplo, é o dobro daquele existente em Melbourne ou Londres. O risco de morte para um ciclista em São Paulo é 43 vezes maior do que em Copenhague.

A partir dos dados de cada localidade, o estudo utilizou modelos de cidades compactas para emular cenários que pudessem melhorar a saúde da população nas seis cidades pesquisadas.

O modelo de cidade compacta adotado consistiu em núcleos com alta densidade residencial, uso misto, proximidade do transporte público e formatos urbanos que favorecem o pedestre e o ciclista.

Foi proposta, então, uma nova configuração para cada cidade, com o intuito de aproximá-la, o quanto for possível, do conceito de cidade compacta.

Os novos modelos em cada cidade foram estruturados de forma a aumentar a densidade demográfica em 30%, diminuir a distância às diversas opções de transporte público em 30%, e incrementar a diversidade de uso do solo também em 30%. Todas essas alterações foram combinadas com políticas de mobilidade que pudessem provocar a mudança de 10% do modal de transporte individual para caminhada ou bicicletas.

Esse cenário modelado de cidade compacta resultou em ganhos de saúde para todas as cidades, principalmente para os portadores de diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias.

Os resultados sugerem que as políticas públicas considerem, seriamente, alternativas de diversidade do uso do solo e conceitos de cidade compacta. A transferência modal do transporte individual para caminhadas, ciclismo e transporte público de baixa emissão de poluentes surgiu como fator relevante.

Portanto, estão nas mãos dos planejadores urbanos as oportunidades para tomada de decisões que, certamente, influenciarão na saúde geral da população. 

Claudio Bernardes - engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP