Paralisação de três meses do monotrilho da linha 15-Prata custou R$ 28,6 milhões só em PAESE

19/08/2020 08:20 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI

A paralisação por 94 dias do monotrilho da linha 15-Prata, na zona Leste de São Paulo, custou aos cofres do Estado, R$ 28,6 milhões (R$ 28.675.099,89) somente com o uso dos ônibus municipais da capital paulista da Operação PAESE – Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência.

O dado foi obtido com exclusividade pelo Diário do Transporte por meio da LAI – Lei de Acesso à Informação.

Diferentemente de metrô, monotrilho é um sistema de média capacidade de passageiros e consiste em trens menores com pneus que trafegam em pilastras de concreto.

Os valores gastos com mobilização de equipes e utilização de equipamentos (gastos com manutenção) e perda de receita, ou seja, o quanto a Companhia de Metrô deixou de arrecadar por causa do problema com o monotrilho, ainda estão sendo calculados, de acordo com a resposta.

O “custo do PAESE devido à paralisação da Linha 15-Prata no período entre 29/02 e 18/06/2020 foi de R$ 28.675.099,89, conforme notas fiscais emitidas pela SPTrans. Esclarecemos que os custos gerados pelo acionamento do sistema PAESE, a partir de março de 2020, serão cobrados diretamente das Empresas responsáveis pela implantação do sistema de vias e trens do monotrilho. A estimativa de perda de receita tarifária assim como os gastos com manutenção ainda estão sendo consolidados pela nossa Área Financeira.”

Como mostrou a reportagem, um jogo de pneus da composição M20 estourou no dia 27 de fevereiro de 2020, uma quinta-feira. O Metrô paralisou a linha no dia 29 de fevereiro de 2020 (ano bissexto). O trem leve saía da estação Jardim Planalto, por volta de 6h30, quando houve o estouro provocado pela quebra de uma peça interna da roda chamada runflat, que serve justamente para apoiar a composição caso o pneu fure, se rompe ou se esvazie.

Diário do Transporte obteve com exclusividade a imagem de parte dessa peça que voou com o estouro para a Avenida Sapopemba, quase atingindo a fachada de um estabelecimento comercial. Não houve feridos porque ninguém passava pela calçada no momento da explosão do pneu do trem.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Metrô que, por meio de nota, confirmou que cobra os prejuízos do consórcio de construtoras e da fabricante dos trens, Bombardier.

“Todos os custos e perdas financeiras pela paralisação da Linha 15- Prata estão sendo cobrados pelo Metrô junto ao consórcio CEML – formado por Bombardier, Queiroz Galvão e OAS. O ressarcimento cobrado pelo Metrô inclui os gastos com o PAESE e ocorre no âmbito administrativo, observando as cláusulas estipuladas no contrato, estando agora na fase de análise da defesa. O Metrô irá cobrar o ressarcimento dos demais danos, inclusive de imagem causados no período da paralisação que penalizaram ao passageiro.”

DEMOROU PARA A POPULAÇÃO SABER DO PROBLEMA:

Um jogo de pneus da composição M20 estourou no dia 27 de fevereiro de 2020, uma quinta-feira. O trem leve saía da estação Jardim Planalto, por volta de 6h30, quando houve o estouro provocado pela quebra de uma peça interna da roda chamada runflat, que serve justamente para apoiar a composição caso o pneu fure, se rompe ou se esvazie.

Diário do Transporte obteve com exclusividade a imagem de parte dessa peça que voou com o estouro para a Avenida Sapopemba, quase atingindo a fachada de um estabelecimento comercial. Não houve feridos porque ninguém passava pela calçada no momento da explosão do pneu do trem.

O Metrô paralisou a linha no dia 29 de fevereiro de 2020 (ano bissexto). De início, o Metrô não falou a verdade à população e tinha informado que a suspensão ocorreria somente naquele fim de semana por causa de testes no sistema de sinalização. Até então a população não tinha sido comunicada de forma transparente dos problemas com o trem da Bombardier. O pneu estourou numa quinta-feira e só no domingo a população soube e não de maneira pró-ativa pelo Metrô. É que não deu para esconder mesmo. A Companhia do Metrô teve de vir à público no domingo falar a verdade depois do vazamento da informação real. Na ocasião, a companhia de Metrô então divulgou nota dizendo que havia “a incidência de danos em outros pneus dos trens do monotrilho”, suspendendo assim as operações por tempo indeterminado. O Metrô disse que cobrou da “Bombardier e do Consórcio CEML – que construiu a via – providências urgentes para a identificação da causa da ocorrência, a sua correção e que eles arquem com todos os prejuízos decorrentes desta paralisação junto ao Metrô de São Paulo”.  A Bombardier disse, por sua vez, que recomendou a paralisação de toda a linha por excesso de cautela para as análises, o que também não era a verdade integral. Não foi excesso de cautela,mas necessidade.  Mas a falta de transparência sobre o que ocorreu com o monotrilho da linha 15-Prata não parou por aí. O contribuinte não sabia do mais grave. Não foi um “mero” estouro de pneu. O que ocorreu de verdade é que uma peça de grandes dimensões do pneu de monotrilho que estourou caiu em Avenida na zona Leste e quase atingiu loja. Algo muito mais grave. Mas isso só veio à tona depois de o Diário do Transporte trazer em primeira mão as imagens da peça interna da roda.

Assim, a transparência sobre o fato não ocorreu de forma plena, com a sociedade tendo de contar com a imprensa. Veja o cronograma:. Na quinta-feira (27 de fevereiro o pneu estoura). No sábado (29 de fevereiro), o monotrilho para sob o pretexto de testes de sinalização. Depois de vazar a informação, no domingo (01º de março de 2020), o Metrô é obrigado a admitir o que ocorreu. E somente na segunda-feira (02 de março de 2020), a população soube que a peça voou para a avenida porque o Diário do Transporte revelou.

Ônibus atenderam aos passageiros do monotrilho. Depois de 94 dias sem servir à população, a linha voltou às 17h00 de 01º de junho de 2020, somente no trecho entre Vila Prudente e Jardim Oratório.

A estimativa foi de prejuízos diários ao Estado de São Paulo foi de R$ 1 milhão, entre perda de receita e custo com os ônibus da operação PAES

A implantação da linha 15-Prata teve como responsável o consórcio CEML, formado pela fabricante de trens e tecnologia Bombardier e as construtoras Queiroz Galvão e OAS.

A operação é de responsabilidade da Companhia do Metrô. A linha foi concedida, mas a transferência para a iniciativa privada está barrada pela Justiça, que atendeu ação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Como mostrou o Diário do Transporte, o Consórcio ViaMobilidade 15, em 11 de março de 2019, foi o único a apresentar proposta para o leilão da linha.

O Consórcio ViaMobilidade 15 é formado pelo Grupo CCR e pela RuasInvest Participações, ligado à família Ruas que detém linhas de ônibus municipais de São Paulo, o Banco Luso Brasileiro, a fabricante de carrocerias de ônibus urbanos Caio, a fabricante de carrocerias de ônibus rodoviários Busscar, que participa da Otima (responsável pelos pontos de ônibus da capital paulista) e que, junto com a CCR participa das concessões das linhas 4-Amarela e 5-Lilás do Metrô.

Já o Grupo CCR controla (de forma única ou associada) a ViaQuatro – Linha 4 do metrô de São Paulo, ViaMobilidade – Linha 5 Lilás de Metrô, Barcas S.A. do Rio – Transportes Marítimos, VLT Carioca e Metrô Bahia.  O grupo também vai assumir a operação do monotrilho da linha 17-Ouro, quando a linha ficar pronta.

O lance foi de R$ 160 milhões, o que significou ágio de 0,59% em relação ao valor inicial de outorga.

O Consórcio ViaMobilidade 15 deve assumir a operação, manutenção e conservação, melhorias e expansão da linha de monotrilho, pelo período de 20 anos.

O meio de transporte, que é alvo de críticas por diversos especialistas (veja abaixo) que apontam que a linha 15-Prata deveria ser de metrô e não de monotrilho, teve sua escolha oficializada na gestão do governador José Serra (PSDB), à frente do executivo entre 1º de janeiro de 2007 e 2 de abril de 2010. A promessa era de que o monotrilho seria bem mais barato que o metrô e de mais rápida implantação, o que na prática não ocorreu, já que o sistema foi marcado por atrasos na inauguração, encurtamento de trajeto e elevação significativa dos custos, além de sucessivos problemas operacionais.

O monotrilho da linha 15-Prata teve as obras iniciadas em 2010 e a previsão inicial era de que todo o traçado de 26,7 quilômetros de extensão, com 18 estações entre Ipiranga e Hospital Cidade Tiradentes, fosse entregue em 2014 ao custo R$ 3,5 bilhões. Depois, a estimativa em junho de 2015 passou para R$ 4,6 bilhões para um bem trecho menor: de 15,3 km e 11 estações.

Agora estimativa de custo é de R$ 5,2 bilhões, com a entrega da estação Jardim Colonial, somente em 2021.

Adamo Bazani, Jéssica Marques, jornalistas especializados em transportes e Willian Moreira em colaboração especial para o Diário do Transporte