Prefeitura de SP adia novo limite de 40 km/h para as vias de bairros

01/09/2015 07:30 - Folha de SP

 

Após sofrer desgaste com a redução dos limites de velocidade nas principais avenidas da capital paulista, a gestão Fernando Haddad (PT) decidiu congelar um plano mais ousado –e impopular– de baixar as máximas também nas vias de bairro.

A intenção era deixar com limite de 40 km/h, a partir do ano eleitoral de 2016, todas as vias coletoras –ruas e avenidas que fazem a ligação das grandes avenidas com as ruas menores dentro dos bairros.

Há cerca de 2.000 km de vias com essa classificação em São Paulo –13% do sistema viário da cidade, muitas delas com velocidade de 50 km/h até hoje, semelhante à de avenidas grandes como Bandeirantes e pista local das marginais Pinheiros e Tietê.

Entre os exemplos de coletoras na capital estão Abílio Soares (zona sul), Estados Unidos (oeste), Calim Eid (leste) e parte da Voluntários da Pátria (norte).

A padronização da velocidade das vias coletoras em 40 km/h é articulada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) desde 2011, na gestão Gilberto Kassab (PSD).

A medida seria adotada após a redução dos limites para 50 km/h em todas as vias arteriais (avenidas que ligam bairros diferentes, com fluxo intenso e semáforos) –anunciada por Haddad para ser finalizada até dezembro.

Mas a Folha apurou que a prefeitura decidiu adiá-la. Oficialmente, deve adotar a justificativa de que aguardará uma adaptação dos motoristas às mudanças já feitas.

O prefeito enfrenta baixa popularidade. Segundo pesquisa Datafolha, só 20% aprovavam a gestão em fevereiro.

Apesar do congelamento da redução de velocidade em todas as coletoras, segundo auxiliares de Haddad, poderão ser implantadas mudanças pontuais em alguns lugares.

ARTERIAIS

Com a justificativa de reduzir acidentes de trânsito, a prefeitura intensificou a redução de velocidades nas vias da cidade em julho, com a mudança nos limites das marginais Pinheiros e Tietê.

Nos últimos dois meses, houve alteração em mais de 40 vias. As mais recentes começam nesta terça-feira (1º) em vias do corredor norte-sul, como a avenida 23 de Maio (leia ao lado).

A medida é alvo de críticas de parcela dos motoristas e da oposição –que questionam a disparada das multas.

Apesar da aprovação majoritária de especialistas para a redução das velocidades, há críticas principalmente à forma de divulgação pela gestão Haddad –que tem avisado motoristas com só três dias de antecedência e já teve que anular multas em lugares onde havia sinalização errada.

O consultor Horácio Figueira, mestre em transportes pela USP, diz que a prefeitura tinha que "seguir em frente" com a medida. "Se não continuar, há o risco de o motorista achar que perdeu tempo na via arterial e querer tirar o atraso na coletora."

Já o engenheiro Telmo Teramoto, mestre em engenharia urbana, defende uma implantação aos poucos.

"Com um piloto, dá tempo de corrigir erros e apurar os primeiros resultados antes de tomar uma decisão maior. Isso ajuda inclusive a ganhar apoio, pois quanto menos explicar, mais resistência vai haver", diz, acrescentando que a probabilidade de mortos em acidentes "sobe drasticamente a partir dos 40 km/h". (ANDRÉ MONTEIRO)

Redução no eixo norte-sul elevará percurso em 5 min

Trafegar pelo corredor norte-sul de ponta a ponta vai demorar cinco minutos a mais a partir desta terça-feira (1º), com o início dos novos limites de velocidades.

A máxima permitida vai cair de 60 km/h para 50 km/h nas avenidas Santos Dumont, Tiradentes, Prestes Maia, Washington Luís, Interlagos e no túnel do Anhangabaú.

No trecho entre o centro e o aeroporto de Congonhas, formado pelas avenidas 23 de Maio, Rubem Berta e Moreira Guimarães, passará de 70 km/h para 60 km/h.

A demora extra de cinco minutos deve valer mais para os horários de menor movimento, quando os carros conseguem circular perto do máximo permitido.

Sem congestionamentos, a rota de 27 km pode ser feita em cerca de 25 minutos. Respeitando os novos limites, passará a levar meia hora.

BANDEIRANTES

Entre elogios e queixas, os motoristas que passaram pela avenida dos Bandeirantes nesta segunda-feira (31) tiveram de se adaptar à nova velocidade de 50 km/h. Antes, o limite era de 60 km/h.

O empresário Igor dos Santos, 29, critica o limite e diz temer que o trânsito fique ainda mais truncado. "Acho péssimo. Estar a 60 km/h é uma boa média, 50 km/h gera trânsito. Principalmente perto do aeroporto. Antes dava para acelerar ali, mas agora não. Vai ficar mais lento."

A impossibilidade de andar mais rápido à noite ou fora do horário de pico, quando as vias ficam livres, também causa irritação.

O zelador Antonio Wilson da Silva, 47, afirma que dirigir a 50 km/h à noite pode favorecer a ocorrência de assaltos. "Tem que ficar devagar com a pista livre, sem segurança, com medo."

Já a professora universitária Sheila Furquim, 42, acredita que vale a pena demorar um pouco mais para chegar ao seu destino se for para diminuir os acidentes.

"Se essa mudança está apoiada em dados técnicos, como parece ser o caso, eu acho válido. Passo aqui todos os dias e, ao menos uma vez por semana, vejo um motociclista acidentado. Se a medida for valer uma vida, já me é suficiente", diz.

 

O funcionário público Cláudio Pastor, 50, acha que haverá benefícios até no trânsito. "Com a velocidade reduzida, o trânsito ainda flui. Se houver um acidente, por exemplo, atrapalha muito mais", afirma.