Após sofrer desgaste com a redução dos limites de velocidade
nas principais avenidas da capital paulista, a gestão Fernando Haddad (PT)
decidiu congelar um plano mais ousado –e impopular– de baixar as máximas também
nas vias de bairro.
A intenção era deixar com limite de 40 km/h, a partir do ano
eleitoral de 2016, todas as vias coletoras –ruas e avenidas que fazem a ligação
das grandes avenidas com as ruas menores dentro dos bairros.
Há cerca de 2.000 km de vias com essa classificação em São
Paulo –13% do sistema viário da cidade, muitas delas com velocidade de 50 km/h
até hoje, semelhante à de avenidas grandes como Bandeirantes e pista local das
marginais Pinheiros e Tietê.
Entre os exemplos de coletoras na capital estão Abílio
Soares (zona sul), Estados Unidos (oeste), Calim Eid (leste) e parte da
Voluntários da Pátria (norte).
A padronização da velocidade das vias coletoras em 40 km/h é
articulada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) desde 2011, na gestão
Gilberto Kassab (PSD).
A medida seria adotada após a redução dos limites para 50
km/h em todas as vias arteriais (avenidas que ligam bairros diferentes, com
fluxo intenso e semáforos) –anunciada por Haddad para ser finalizada até
dezembro.
Mas a Folha apurou que a prefeitura decidiu adiá-la.
Oficialmente, deve adotar a justificativa de que aguardará uma adaptação dos
motoristas às mudanças já feitas.
O prefeito enfrenta baixa popularidade. Segundo pesquisa
Datafolha, só 20% aprovavam a gestão em fevereiro.
Apesar do congelamento da redução de velocidade em todas as
coletoras, segundo auxiliares de Haddad, poderão ser implantadas mudanças
pontuais em alguns lugares.
ARTERIAIS
Com a justificativa de reduzir acidentes de trânsito, a
prefeitura intensificou a redução de velocidades nas vias da cidade em julho,
com a mudança nos limites das marginais Pinheiros e Tietê.
Nos últimos dois meses, houve alteração em mais de 40 vias.
As mais recentes começam nesta terça-feira (1º) em vias do corredor norte-sul,
como a avenida 23 de Maio (leia ao lado).
A medida é alvo de críticas de parcela dos motoristas e da
oposição –que questionam a disparada das multas.
Apesar da aprovação majoritária de especialistas para a
redução das velocidades, há críticas principalmente à forma de divulgação pela
gestão Haddad –que tem avisado motoristas com só três dias de antecedência e já
teve que anular multas em lugares onde havia sinalização errada.
O consultor Horácio Figueira, mestre em transportes pela
USP, diz que a prefeitura tinha que "seguir em frente" com a medida.
"Se não continuar, há o risco de o motorista achar que perdeu tempo na via
arterial e querer tirar o atraso na coletora."
Já o engenheiro Telmo Teramoto, mestre em engenharia urbana,
defende uma implantação aos poucos.
"Com um piloto, dá tempo de corrigir erros e apurar os primeiros resultados antes de tomar uma decisão maior. Isso ajuda inclusive a ganhar apoio, pois quanto menos explicar, mais resistência vai haver", diz, acrescentando que a probabilidade de mortos em acidentes "sobe drasticamente a partir dos 40 km/h". (ANDRÉ MONTEIRO)
Redução no eixo
norte-sul elevará percurso em 5 min
Trafegar pelo corredor norte-sul de ponta a ponta vai
demorar cinco minutos a mais a partir desta terça-feira (1º), com o início dos
novos limites de velocidades.
A máxima permitida vai cair de 60 km/h para 50 km/h nas
avenidas Santos Dumont, Tiradentes, Prestes Maia, Washington Luís, Interlagos e
no túnel do Anhangabaú.
No trecho entre o centro e o aeroporto de Congonhas, formado
pelas avenidas 23 de Maio, Rubem Berta e Moreira Guimarães, passará de 70 km/h
para 60 km/h.
A demora extra de cinco minutos deve valer mais para os
horários de menor movimento, quando os carros conseguem circular perto do
máximo permitido.
Sem congestionamentos, a rota de 27 km pode ser feita em
cerca de 25 minutos. Respeitando os novos limites, passará a levar meia hora.
BANDEIRANTES
Entre elogios e queixas, os motoristas que passaram pela
avenida dos Bandeirantes nesta segunda-feira (31) tiveram de se adaptar à nova
velocidade de 50 km/h. Antes, o limite era de 60 km/h.
O empresário Igor dos Santos, 29, critica o limite e diz
temer que o trânsito fique ainda mais truncado. "Acho péssimo. Estar a 60
km/h é uma boa média, 50 km/h gera trânsito. Principalmente perto do aeroporto.
Antes dava para acelerar ali, mas agora não. Vai ficar mais lento."
A impossibilidade de andar mais rápido à noite ou fora do
horário de pico, quando as vias ficam livres, também causa irritação.
O zelador Antonio Wilson da Silva, 47, afirma que dirigir a
50 km/h à noite pode favorecer a ocorrência de assaltos. "Tem que ficar
devagar com a pista livre, sem segurança, com medo."
Já a professora universitária Sheila Furquim, 42, acredita
que vale a pena demorar um pouco mais para chegar ao seu destino se for para
diminuir os acidentes.
"Se essa mudança está apoiada em dados técnicos, como
parece ser o caso, eu acho válido. Passo aqui todos os dias e, ao menos uma vez
por semana, vejo um motociclista acidentado. Se a medida for valer uma vida, já
me é suficiente", diz.
O funcionário público Cláudio Pastor, 50, acha que haverá
benefícios até no trânsito. "Com a velocidade reduzida, o trânsito ainda
flui. Se houver um acidente, por exemplo, atrapalha muito mais", afirma.