Se não cumpre a função prática, fica questionável, diz diretor da empresa do aeromóvel

26/05/2017 08:10 - Zero Hora / Porto Alegre 24 h

Coluna de Paulo Germano - Zero Hora/RS

Filho do inventor do aeromóvel, Marcus Coester é contra o projeto do vereador Idenir Cecchim (PMDB) que propõe a remoção da estrutura suspensa instalada entre o Gasômetro e o prédio da Receita Federal. Os blocos de concreto estão lá desde 1983, quando ocorreram os primeiros testes com o aeromóvel, mas nunca mais serviram para nada. Marcus é diretor-executivo da Aeromóvel Brasil S.A.

O que o senhor acha do projeto do vereador Idenir Cecchim?

Estamos em tempos de investir em mobilidade. Tirar a estrutura me parece meio contramão. E a remoção teria um custo muito alto, já que cada viga pesa 80 toneladas.

Não acha feio aquele concreto?

Aquilo está ali para fazer transporte. Se não cumpre a função prática, realmente, fica questionável.

Se fosse prefeito, o senhor faria o que com a estrutura?

A estrutura está em condições de uso. Na nossa opinião, ela deveria ser estendida, talvez entre o Praia de Belas e o Mercado Público, para servir como transporte aeromóvel.

Isso não ocorreu em 30 anos. Aliás, não foi um erro ter erguido aquela estrutura imensa, que só serviu para testes, em frente a um cartão postal da cidade?

Não. Para nós, foi bem sucedido. Os testes foram importantes e necessários para o desenvolvimento do aeromóvel. Foram mais de 57 rodadas de ensaios. Isso permitiu que o aeromóvel esteja aqui hoje, no aeroporto de Canoas.

Mas qual foi o benefício para a cidade de Porto Alegre?

A nossa meta era expandir, e isso traria esse benefício. Agora, tem que perguntar para o prefeito, né? Cabe à prefeitura fazer a mobilidade da cidade.

Porto Alegre 24 horas

Para empresa criadora do aeromóvel, proposta de remoção da estrutura é ‘inviável’

No início dos anos 1980, Porto Alegre já havia superado a marca de um milhão de habitantes. Mobilidade urbana, aumento do número de veículos, problemas com tarifa e trajetos do transporte público eram pautas tão atuais quanto agora. Em 1980, a Capital inaugurou a primeira linha do Trensurb, ligando o centro da cidade a Novo Hamburgo. E três anos depois, um projeto piloto pioneiro começava a ser erguido na região da Usina do Gasômetro: o aeromóvel.

A pista de 1.065 metros, que segue da Praça Júlio Mesquita, em frente ao Gasômetro, até o prédio da Receita Federal, na Avenida Loureiro da Silva, virou uma referência do Centro Histórico da Capital, apesar de o carro parado em cima dela nunca ter sido oficialmente uma linha. Até a praça, que fica sob uma parte do trecho e ganhou telas para jardins verticais em torno das vigas, é mais conhecida como “praça do aeromóvel”, do que pelo nome original.

Trinta e quatro anos depois da criação, porém, um projeto do vereador Idenir Cecchin (PMDB) quer remover a estrutura do local. No dia 04 de maio, a proposta de lei complementar foi rejeitada no Plenário da Câmara – ela precisava de 19 votos (equivalente a maioria simples), mas obteve 17. O vereador, que já solicitou uma nova votação, defende que “o objetivo do aeromóvel nunca se concretizou”. “O trecho permaneceu com apenas um quilômetro de extensão e a edificação de uma única estação, em frente à Usina do Gasômetro, nunca mais foi utilizada. Os governos posteriores também nunca deram continuidade ao projeto”, afirmou ele.

A ideia do vereador é que as vigas da estrutura sejam usadas para construção de um dique no Arroio Sarandi, no bairro de mesmo nome, que sofre com alagamentos em época de chuvas. Segundo Cecchin, cerca de mil famílias são afetadas pelas inundações. Ele admite, porém, que não sabe quanto custaria para realizar a obra. “Não há custo estimado, mas é uma obra rápida, feita com guindastes e o benefício para a população é muito alto”, disse ao Sul21.

A empresa que criou o aeromóvel, no entanto, diz que não é bem assim. “A destinação e a funcionalidade daquele sistema que está no Gasômetro é uma discussão importante, agora, essa proposta de fazer um dique é um absurdo total. Não tem a menor viabilidade nem técnica, nem econômica. Qualquer estagiário de engenharia enxerga que é estapafúrdia”, afirma o engenheiro Marcos Coester, diretor executivo da Aeromóvel do Brasil, filho do criador da tecnologia, Oskar Coester. “As peças têm uma funcionalidade própria, são ocas e não foram desenhadas para fazer retenção de água. O transporte delas custaria muito mais caro do que fazer um dique do zero”.

A ideia do vereador é que as vigas da estrutura sejam usadas para construção de um dique no Arroio Sarandi, no bairro de mesmo nome, que sofre com alagamentos em época de chuvas. Segundo Cecchin, cerca de mil famílias são afetadas pelas inundações. Ele admite, porém, que não sabe quanto custaria para realizar a obra. “Não há custo estimado, mas é uma obra rápida, feita com guindastes e o benefício para a população é muito alto”, disse ao Sul21.

A empresa que criou o aeromóvel, no entanto, diz que não é bem assim. “A destinação e a funcionalidade daquele sistema que está no Gasômetro é uma discussão importante, agora, essa proposta de fazer um dique é um absurdo total. Não tem a menor viabilidade nem técnica, nem econômica. Qualquer estagiário de engenharia enxerga que é estapafúrdia”, afirma o engenheiro Marcos Coester, diretor executivo da Aeromóvel do Brasil, filho do criador da tecnologia, Oskar Coester. “As peças têm uma funcionalidade própria, são ocas e não foram desenhadas para fazer retenção de água. O transporte delas custaria muito mais caro do que fazer um dique do zero”.

A ideia do vereador é que as vigas da estrutura sejam usadas para construção de um dique no Arroio Sarandi, no bairro de mesmo nome, que sofre com alagamentos em época de chuvas. Segundo Cecchin, cerca de mil famílias são afetadas pelas inundações. Ele admite, porém, que não sabe quanto custaria para realizar a obra. “Não há custo estimado, mas é uma obra rápida, feita com guindastes e o benefício para a população é muito alto”, disse ao Sul21.

Segundo Coester, cada viga da estrutura pesa em torno de 80 toneladas. Na época da construção, o canteiro de obras que serviu para fabricá-las ficava perto do local da pista, ou seja, a estrutura quase não precisou de deslocamento. Diferente do que aconteceria hoje, caso o vereador Cecchin levasse adiante a ideia de transportá-las para o bairro que fica a cerca de 14 km de distância do Gasômetro – 22km, se o transporte seguir o trajeto da BR-290

O vereador teria procurado a empresa no ano passado, de acordo com Coester, dizendo que estava fazendo uma “sondagem”, e foi alertado das questões. A empresa também apontou outro problema: embora a área da praça seja pública, a estrutura de concreto é propriedade privada. A empresa Coester pagou todo o financiamento concedido pelo Ministério dos Transportes da época. “Explicamos que era uma estrutura privada, que estava à disposição do cidadão, da cidade, que poderíamos dar um destino funcional, desde que estivesse pactuado com o Município”, salienta o empresário. “O que o vereador está propondo é um ornamento, ele deveria consultar o Departamento de Obras”.

Projetos previam linhas no Centro

A ideia do trem que viaja a uma velocidade de 80 km/h, transportando 300 passageiros, nasceu dentro da empresa Coester, de São Leopoldo, em 1979 e foi patenteada em cinco países. O diferencial do veículo seria que ele dispensa o chamado “peso morto”, de motores e outro equipamentos, já que sua tecnologia é toda baseada na propulsão pneumática – o ar empurra uma placa de propulsão que movimenta o carro nos trilhos.

Segundo a empresa, a pista em Porto Alegre, que todo mundo vê como “sem uso” foi criada para ser apenas um espaço de experimentação e testes, para mostrar a viabilidade do modal que prometia transportar 12 mil pessoas/hora por trecho. A mesma capacidade de um corredor de ônibus.

A ampliação das obras, para que se tornasse uma linha de fato, dependeria então do poder público municipal. Mas a ideia nunca saiu do papel. Um dos projetos que chegou a ser discutido previa que o aeromóvel fizesse um trajeto em anel pelo Centro, saindo da Usina do Gasômetro – Loureiro da Silva – Sete de Setembro – Borges de Medeiros. No começo dos anos 1990, outra ideia, pretendia fazer o aeromóvel seguir do Centro, no Mercado Público, até o campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com um trajeto de quase 20km.

O engenheiro civil Jorge Cotta trabalhou na obra nesta época. Ele lembra que as pessoas viam com curiosidade a ideia do trem leve. “Pra mim, foi uma inovação. Eu já conhecia o trecho, mas quando a gente começou a trabalhar, a expectativa era de que fosse fazer o resto”, conta ele. Hoje, Cotta lamenta a destinação que o projeto em discussão na Câmara pretende dar à estrutura. “É um trabalho posto fora. Mas o governo não vai investir naquilo ali e a iniciativa privada ganha mais dinheiro comprando ônibus e subsidiando passagem”.

Na empresa Coester, o aeromóvel ainda é o projeto carro-chefe. Segundo Marcos Coester, o grupo tem atualmente 60 projetos sendo implantados em países como Brasil, Colômbia e Uruguai. Além do trecho curto que liga o Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre, à estação do Trensurb – inaugurado como parte das obras para a Copa do Mundo de 2014 – o aeromóvel também foi adotado na Indonésia, onde opera em um trecho de 3,3 km desde 1989.

Para Coester, uma das soluções possíveis para o trecho em discussão seria retomar a ampliação do trajeto, aproveitando a mesma estrutura. “Primeiro é um contrassenso, nos momentos de crise de mobilidade que temos hoje, não discutir isso. Passa uma mensagem errada, porque vamos estar demolindo uma estrutura de mobilidade, em vez de aproveitar e melhorar”, afirma ele.

Enquanto a estrutura segue sem destino, o veículo do aeromóvel, parado em cima dos trilhos e deteriorado pela exposição ao tempo, já tem o seu futuro definido. Dentro de 60 dias, ele deve ser removido do local e colocado no museu da PUCRS, como parte da memória de Porto Alegre.