01/09/2016 09:02 - O Globo
RIO - Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra o tamanho do transtorno de quem trabalha longe de sua moradia na Região Metropolitana do Rio. Segundo os dados do estudo, em 2013, o tempo médio que um morador levava no trajeto casa-trabalho-casa era de 141 minutos diários, 11 a mais que no levantamento de 2011. Já na cidade do Rio, a demora é quase a mesma: 134 minutos, 10 a mais que 2011.
Para o gerente de Estudos de Infraestrutura do Sistema Firjan, Riley Rodrigues, a proximidade entre o tempo de deslocamento casa-trabalho para moradores do Rio e de municípios vizinhos é explicada pela distância entre os polos de atração econômica (Centro e Zona Sul) e as regiões com grande contingente de mão de obra, como as Zonas Norte e Oeste:
— As pessoas têm de sair de Santa Cruz, Bangu, Irajá, Fazenda Botafogo, e vêm todas para o Centro e a Zona Sul. Todas fazem um longo trajeto. Chegar ao Centro de Santa Cruz é mais distante do que chegar de Duque de Caxias — explica.
Segundo ele, a realização de obras viárias para a Olimpíada impactou os deslocamentos da Região Metropolitana, principalmente em relação à análise de 2011.
A Firjan também estimou a perda financeira ocasionada pelo tempo gasto nesses trajetos na Região Metropolitana, usando variáveis como PIB per capita e tempo médio de viagem. A quantia em 2013 chegou a R$ 24 bilhões. A cidade do Rio é a que mais perdeu na região: R$ 16,6 bilhões ao todo.
JAPERI, TRAJETO MAIS LONGO
Para Riley, a solução a longo prazo, além do aumento da capilaridade da rede de transportes coletivos, passa pelo desenvolvimento econômico das regiões vizinhas, o que estimularia seus trabalhadores a ficarem perto de casa:
— O reordenamento urbano é a única coisa com resultado de longo prazo. Mas, a curto prazo, você precisa reestruturar sua engenharia de tráfego. E, em médio prazo, da construção de infraestrutura de transportes. Temos que ampliar a rede de metrô. Não apenas esticar. É imprescindível construir o traçado original da Linha 2, que passa pela Carioca e termina na Praça Quinze.
Já o engenheiro de transportes e professor da PUC-RJ José Eugênio Leal considera que o aumento do tempo de deslocamento entre os dois anos pode ser consequência do aquecimento da economia e da alta das vendas de automóveis.
— Boa parte dessas pessoas que foram incorporadas poderia estar morando na periferia. É mais gente viajando de mais longe — observou.
MAIS ESTRESSE
Funcionária de uma empresa em Campo Grande, Renata Louro, de 43 anos, mora em São João de Meriti e leva, de carro, contando ida e volta, cerca de 3 horas em deslocamentos. A rotina, segundo ela, é cansativa. Costuma, inclusive, passar mais horas na empresa para escapar do rush:
— Quando comecei a trabalhar lá, há 10 anos, o percurso era de uma hora. Minha impressão é que vai piorar. Isso influencia a produtividade. A gente já chega no trabalho cansada, com o estresse do trânsito —diz.
Se tivesse metrô ligando as duas pontas do trajeto, Renata não hesitaria em usá-lo em vez do carro. Para ela, o tempo economizado nos deslocamentos seria usado para fazer atividades físicas ou cursos.