Uso de câmeras nas ruas de Niterói será regulamentado

04/04/2015 08:20 - O Globo

A prefeitura pretende aprovar, ainda no primeiro semestre, uma nova lei para regulamentar o uso de câmeras de vigilância na cidade. A ideia é contar com mecanismos legais que garantam o controle de imagens produzidas nas vias públicas do município, inclusive para abastecer o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), em Itaipu, a ser inaugurado nos próximos meses. Pela nova lei, as centenas de câmeras espalhadas pela cidade precisarão de autorização da Secretaria de Ordem Pública para funcionar. Atualmente, condomínios, associações de moradores, ONGs e empresas privadas fazem monitoramento sem precisar de permissão. Uma das afetadas pela mudança será a ONG Viver Bem, que instalou 150 câmeras em pontos estratégicos de Niterói. A entidade, que assegura agir dentro da lei, controla o sistema por meio de um painel em sua sede na Rua São João, no Centro. A prefeitura critica a prática, mas afirma que vai procurar a ONG para tentar integrar as imagens ao Cisp. Antes de inaugurar o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), em Itaipu, prometido para este primeiro semestre, a prefeitura pretende aprovar uma nova lei para regulamentar o uso de câmeras na cidade. O objetivo é ter mecanismos legais para a implantação do novo centro de monitoramento e conseguir o controle das imagens produzidas nas vias públicas de Niterói. Atualmente, a cidade tem centenas de câmeras, instaladas por associações de moradores, condomínios ONGs ou por empresas privadas, que, de acordo com o texto que vem sendo elaborado pela Procuradoria do município, terão de ser autorizadas pela Secretaria de Ordem Pública. A principal finalidade é controlar a divulgação dessas imagens.

A prefeitura ainda não enviou o projeto de lei à Câmara, mas a medida atingirá principalmente a ONG Viver Bem, que atua com 150 câmeras em pontos estratégicos de Niterói, como a esquina das ruas Miguel de Frias e Gavião Peixoto, em Icaraí; o cruzamento do mergulhão, na Avenida Marquês do Paraná; o Skatepark de São Francisco; e a Praia das Flexas, no Ingá. A entidade controla o sistema por meio de um painel, com cerca de 15 monitores, em sua sede na Rua São João, no Centro. As imagens são divulgadas na página da ONG no Facebook.

— Atuamos como um canal de informação, nosso foco é na prestação de serviços, no bem-estar e nas condições climáticas, do trânsito e de locais para a prática esportiva — explica o empresário Felipe Reis, responsável pela ONG.

Em nota, a prefeitura informa que considera inconcebível que uma ONG possa instalar câmeras em via pública, sem critério algum, com finalidades desconhecidas: "Diferentemente do Poder Público, quando, monitorando essa circulação de pessoas, veículos e tudo o que ocorre, tem destinação própria no acionamento das Forças Públicas de segurança, tal qual o futuro projeto do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp)”. No entanto, a atual legislação deixa brechas para que o fato ocorra. O descontentamento levou o município a questionar a atividade da ONG junto à Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania do Ministério Público (MP). O procedimento foi indeferido pelo MP, que considerou dever legal do município tomar as providências cabíveis. A nova legislação vem sendo elaborada justamente com o intuito de regular a atividade aos moldes desejados pelo governo.

A prefeitura alega que nenhuma das atividades desempenhadas pela Viver Bem passou pelo crivo da pasta de Ordem Pública e que a ONG é administrada pelo mesmo gerente que conduzia os trabalhos contratados pela gestão anterior do município, entre 2012 e 2013, junto à Keeptech Segurança Eletrônica Ltda, de propriedade de Felipe Reis,na antiga central de monitoramento do governo. Diante de uma nova análise da atual gestão, os serviços prestados não foram aprovados e a prefeitura interrompeu o vínculo contratual.

O contrato com a Keeptech durou um ano, custou R$ 301.500 e previa que a empresa operasse parte das câmeras da prefeitura e expandisse o sistema. O documento não é claro em relação à quantidade de equipamentos, nem à propriedade das câmeras ao término do prazo do acordo.

— A Keeptech venceu uma licitação para prestar serviços para a prefeitura. Quando iniciou o trabalho, a cidade tinha 16 câmeras analógicas que não eram interligadas por fibra ótica, e por isso não teve como usá-las. Foram instaladas 48 novas câmeras, mais modernas e ligadas por fibra, que ficaram para o município ao término do contrato. Todas as 150 câmeras da Viver Bem foram instaladas depois disso, de forma voluntária e sem fins lucrativos — defende o empresário Felipe Reis, explicando que a atividade desenvolvida pela ONG se enquadra na lei 2.698, de 2010, que autoriza associações e conselhos comunitários legalmente constituídos a implantar câmeras de segurança em logradouros públicos e a ampliar o serviço.

ESPECIALISTA DIZ QUE USO POR ONG É INDEVIDO

Atualmente, as câmeras operadas pela ONG são afixadas em postes da cidade sem a autorização da Secretaria de Ordem Pública. Para o advogado Hermano Cabernite, especialista em administração pública, o uso é indevido:

— Para a utilização individual de determinado bem público, num caso como este, onde em tese haveria interesse para a comunidade, é necessária uma permissão de uso pela Administração Pública (no caso, a prefeitura), que a lei 8.666 (no artigo 2º) prevê que seja precedida de licitação.

A prefeitura não informa sobre ações nesse sentido, além da elaboração da nova regulamentação, mas defende, por nota, que "as pessoas que se sentirem lesadas com a divulgação e exposição de suas imagens, inclusive em rede sociais, poderão certamente processar criminalmente quem as possui e quem as divulga.” No entanto, o município informa que vai procurar a ONG no momento oportuno para verificar como as câmeras instaladas pela entidade podem se integrar ao sistema do Cisp. Reis argumenta que o trabalho da Viver Bem tem a aprovação da população:

— Nosso objetivo é ajudar as pessoas, levando a informação a elas. Por isso, estamos tendo o nosso trabalho reconhecido. Um exemplo foram os mais de 500 mil acessos no dia do último temporal que atingiu a cidade. Se alguém se sentir lesado ou vir algum prejuízo, podemos parar com a atividade.