26/05/2013 10:05 - Correio Popular - Campinas
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Os meninos Augusto e
Luis Felipe Guadagnine e Gustavo Arrais Serodio Maeda andam de bicicleta na
trilha ecológica de Joaquim Egídio - Foto: Rodrigo Zanotto/ Especial para AAN
Recentes casos de ataques a ciclistas em Campinas para o roubo de suas bicicletas têm preocupado praticantes do esporte e tornado inviável a atividade em locais considerados "ideais”, como a trilha ecológica de Joaquim Egídio, o distrito de Barão Geraldo e a região do Parque Portugal e da Praça Arautos da Paz.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado não possui
uma estatística específica para esse tipo de ocorrência. Já a Polícia Militar
(PM), responsável pelo patrulhamento preventivo, admite a escalada dos casos e
promete agir para tentar reduzir as ocorrências.
Conhecida por ser opção de lazer e passeio aos finais de
semana, a trilha de Joaquim Egídio tem cerca de 1,5 quilômetro de estrada de
terra cercada por mata e à beira de um riacho. O caminho, que poderia ser
considerado o cenário ideal para um passeio familiar em finais de semana, se
tornou um lugar perigoso e cheio de armadilhas. Foram ao menos quatro
bicicletas roubadas no local no último mês. Todos os assaltos aconteceram à luz
do dia. Em alguns casos, os bandidos estavam armados de revólver. Os bandidos
se escondem no mato e ficam à espreita para abordar as vítimas.
O entorno do Parque Portugal e da Praça Arautos da Paz, no
bairro Taquaral, também é visado pelos criminosos devido à grande quantidade de
ciclistas — sejam eles praticantes eventuais ou atletas que possuem bicicletas
caras e sofisticadas.
Nesse caso, nem a presença do 4º Distrito Policial (DP) na
frente da praça, além de uma base da Guarda Municipal (GM) no parque e rondas
da PM, são suficientes para inibir os assaltos. A maioria acontece na praça,
quase na porta da delegacia. Em muitos casos relatados pelas vítimas, os crimes
são praticados por menores de idade. Para a polícia, eles podem ser moradores
de bairros próximos às áreas de lazer.
O distrito de Barão Geraldo, que possui uma ciclovia muito
utilizada por estudantes e moradores do local, também é apontado como foco de
ação de criminosos para roubo de bicicletas e aos ciclistas.
Reação
Membros dos grupos que reúnem ciclistas da cidade afirmam
que os casos de roubo aumentaram "assustadoramente” nos últimos dois anos.
Segundo eles, a solução encontrada foi reunir grupos para que possam praticar o
esporte com menos risco de serem assaltados. Eles se comunicam durante todo o
percurso e pararam de divulgar previamente a rota dos passeios para evitar
assaltos pelo caminho.
Alvos
O alvos preferenciais dos bandidos são bicicletas mais
sofisticadas, caras e equipadas, com preços que superam R$ 1,5 mil e podem
chegar até a R$ 20 mil. Depois de roubar, os bandidos conseguem revender as
bicicletas inteiras ou repassam as peças para reposição. Segundo apuração da
reportagem, uma bicicleta que custa cerca de R$ 7 mil chega a ser vendida pelos
bandidos por R$ 1 mil no mercado ilegal.
Pessoas sozinhas ou casais são bastante visados pelos
bandidos que agem em Campinas.
Em dupla ou em grupos de até seis, eles abordam a vítima e
ameaçam. O objetivo, em geral, é mesmo levar a bicicleta, mas aparelhos de celular
e carteiras também acabam roubados.
Ciclistas afirmam que os assaltantes conhecem qual bicicleta
querem levar. Eles observam os equipamentos usados pela pessoa (se tem capacete
e roupa própria) e, geralmente, sabem se a bicicleta é valiosa. "O foco são
mulheres sozinhas e casais. Eles escolhem bicicletas caras. Muitos casos
aconteceram em trilhas de Joaquim”, afirmou Vagner dos Santos, coordenador do
grupo Eco Bikers.
Uma das vítimas foi a publicitária Sandra Marques, de 50
anos. Ela teve a bicicleta, avaliada em R$ 2,9 mil, levada em assalto na trilha
de Joaquim Egídio no começo do mês.Santos afirma que grande parte de grupos de
ciclistas da cidade cresceu com o medo. "Além da falta de segurança
viária, é muito difícil algum ciclista pedalar sozinho. A possibilidade de ser
assaltado é muito grande e, mesmo em grupo, isso já aconteceu.”
Ele explicou que os grupos costumam usar rádios para que o
pelotão da frente se comunique com quem está mais atrás. "Se um para, todo
mundo para. Também paramos de divulgar nossas rotas, já tivemos casos de
assalto em grupo. É complicado.”
Alguns ciclistas mais precavidos contratam seguros para
evitar prejuízo com os casos de roubo. Para modelos com valores entre R$ 5 mil
e R$ 10 mil, o valor do seguro varia, em média, entre R$ 350,00 e R$ 1,2 mil
por ano para cobertura contra roubo e furto.
Cadastro
De acordo com as estatísticas do Cadastro Nacional de Bikes,
nos últimos 12 anos, 1.462 bicicletas foram levadas por criminosos (440
assaltos e 1.022 furtos) no País. A maioria aconteceu no Estado de São Paulo —
600 casos.
‘Não consigo mais pedalar. Assustei’
A publicitária Sandra Marques ainda não se recuperou da
violência que sofreu no feriado de 1º de maio. Ela estava pedalando sozinha na
trilha ecológica de Sousas quando um rapaz, também de bicicleta, se aproximou,
apontou um revólver e a obrigou a entregar a bicicleta de quase R$ 3 mil. Eram
10h.
"Não consigo mais pedalar. Assustei. Não acreditei no
que estava acontecendo”, afirmou a mulher, que teve que sair caminhando sem
olhar para trás. "Ele estava em uma bicicleta que, provavelmente, tinha
sido roubada também porque era profissional, tinha uma cor azul clara, difícil
ver. Só quem conhece sabe”, afirmou a mulher.
"O patrulhamento tem que ser melhorado, estão fazendo
arrastões em Sousas e Joaquim, eles se escondem nas trilhas e assaltam quando
uma pessoa passa sozinha. Fui na delegacia e nada foi resolvido”, disse.
Na semana passada, um casal também foi vítima de bandidos na
mesma trilha em Sousas. A advogada Vilma Soares de Camargo Moraes de Sousa, 57
anos, e o marido, o equatoriano Washington Rene Puentestan Cervalhos, de 53,
foram atacados por seis bandidos quando andavam de bicicletas pela trilha.
Quatro dos criminosos estavam de bicicleta. Eles chegaram
pelas costas e derrubaram Cervalhos, que estava logo atrás da advogada. O
casal, que costumava ir ao local todos os finais de semana para caminhar, havia
comprado as bicicletas há uma semana, ao custo de R$ 1.350,00 cada. Era o
primeiro passeio do casal com as bicicletas. "Estamos reféns da
criminalidade. O único local seguro que tínhamos para lazer era a trilha e,
agora, nem isso temos mais. Na Lagoa, tem assaltos, já até fomos vítimas por
lá. Onde mais podemos ir?”, questionou a advogada.
A trilha é frequentada por muitas pessoas, principalmente
aos finais de semana, e os próprios comerciantes admitem que o local se tornou
perigoso nos últimos tempos. Os bandidos não só atacam os visitantes, mas
também os trabalhadores. Eles são descritos como jovens e andam como usuários
do espaço, sem levantar suspeitas.
"Não dá para andar com celular nem fone de ouvido. Tudo
é levado mesmo. Por isso, agora só ando de bicicleta velha. A trilha é ótima,
mas tem pontos desertos e os bandidos se escondem no mato”, afirmou Roselaine
Aparecida Aroldo, de 33 anos, que trabalha em um restaurante próximo à trilha.
A auxiliar de higiene Camila Cristiane da Silva, de 29 anos,
comprou uma bicicleta e pedala todos os dias no final da tarde. "Ando
muito rápido e, se alguém me chamar, faço de conta que não ouvi. Tenho medo
ainda mais com os últimos casos.”
‘Fui roubada, agredida e humilhada na Arautos’
Outro ponto que preocupa os praticantes da modalidade é a
Praça Arautos. A administradora Débora Ferreira, de 40 anos, teve a bike de R$
7 mil levada por quatro bandidos na semana passada.
"Estava na ciclovia da Arauto da Paz. Eram quase 17h
quando os delinquentes me derrubaram da bicicleta em movimento e fizeram o
roubo. Isso aconteceu a poucos metros da delegacia. Fui roubada, agredida e
humilhada”, afirmou.