05/09/2017 17:00 - Revista Technobus
ALEXANDRE ASQUINI
Após mais de três anos de trabalhos técnicos
e discussões, a Associação Nacional
de Transportes Públicos (ANTP) apresentou
na manhã de 21 de agosto de 2017,
em São Paulo, uma nova metodologia para
apuração dos custos dos serviços de ônibus,
base para a formulação da tarifa, denominada
Planilha ANTP. O esforço para
construir a metodologia teve participação
também da Frente Nacional de Prefeitos
(FNP), do Fórum Nacional de Secretários e
Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana
e da Associação Nacional das Empresas de
Transportes Urbanos (NTU).
Segundo a ANTP, a nova planilha tem
como objetivos dar precisão e transparência
ao cálculo dos custos fixos e variáveis,
estabelecer claramente a remuneração dos
operadores pela prestação dos serviços de
transporte, dar transparência à forma de
fixação da tarifa e sua aplicação em contratos,
estabelecer uma base referencial
também transparente para utilização dos
órgãos competentes, independentemente
do tamanho da cidade e da sua localização
no país. A proposta visa ajudar os gestores
do transporte público urbano na definição
da tarifa dentro das condições de custo encontradas
no município e que possam ser
tecnicamente comprovadas para autoridades
como Ministério Público ou Tribunal de
Contas, para os usuários do transporte e
para a população como um todo.
Sem “caixas pretas”. A busca dessa planilha
se mostrou necessária também porque,
de modo geral, não tem ficado suficientemente
claro para a sociedade como
são calculados os custos do transporte, fato que, nas palavras utilizadas na exposição
da ANTP, gera “suspeitas e desconfianças”
na fixação da tarifa, alimentando
a ideia de que tais cálculos resultam de
“caixas pretas”. O presidente da ANTP, Ailton
Brasiliense Pires, garante que a nova
metodologia vai dar a transparência que a
sociedade sempre exigiu do setor, com informações
precisas e detalhadas a respeito
dos itens que impactam os custos do serviço de transporte.
A Planilha ANTP – Custos dos Serviços
de Transporte Público por ônibus é apresentada
em dois volumes, ambos disponíveis
em versão virtual, que podem ser
baixados livremente a partir do site da
ANTP (www. antp.org.br). Um dos volumes,
com 186 páginas, apresenta o Método
de Cálculo, e o outro, com 156 páginas,
traz as Instruções Práticas para lidar com a metodologia.
ATUALIZAÇÃO – A ANTP foi chamada a coordenar a elaboração da nova metodologia diante da necessidade de atualizar e modernizar a antiga Planilha Geipot de cálculo dos serviços do transporte público por ônibus, que, por falta de outro instrumento, é ainda bastante usada em todas as partes do país, apesar de ter sido criada em 1983 e não ter recebido qualquer atualização desde 1996. O nome Geipot é a sigla que caracteriza a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, empresa estatal federal que se responsabilizava pelo planejamento dos transportes do Brasil; foi criada em 1965, como Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes – de onde vem a sigla –, transformada em empresa em 1973 e extinta em 2008.
Para chegar à nova metodologia, a
ANTP constituiu um grupo de trabalho
composto por sua equipe técnica, por secretários
municipais de transporte e pela
equipe técnica da NTU. Para levantar os tipos
de custos fixos e variáveis, foram estudados
21 contratos de conhecimento público, referentes a serviços de transporte
por ônibus de cidades de diferentes portes,
distribuídas pelas diversas regiões. Foram
feitas análises das planilhas e métodos de
formação de custo, considerando editais,
propostas e contratos de concessão vigentes,
e realizou-se também a identificação
de procedimentos, parâmetros, índices e
preços
Também foram levados em conta na Planilha
ANTP outros serviços agregados ao serviço de transporte, com avaliação de
contratos que compreendem a operação
de terminais, estações de embarque e desembarque,
corredores de ônibus, centrais
de controle operacional e sistemas de bilhetagem
eletrônica. Quanto à remuneração do capital, estão sendo indicados procedimentos
comparáveis àqueles adotados
pelo mercado financeiro.
INOVAÇÃO – Segundo o superintendente
da ANTP, Luiz Carlos Mantovani Néspoli,
que fez a apresentação da metodologia, a
Planilha ANTP inova ao especificar a forma
de remuneração do concessionário –
remuneração pela prestação do serviço
–, sistemática que não estava explícita na
Planilha Geipot.
A nova metodologia permite ainda a
definição da matriz de risco para os contratos
de concessão do setor. Na concepção utilizada, os riscos são eventos com significativa probabilidade de ocorrer e
que, uma vez concretizados, podem afetar
substantivamente o custo ou a qualidade
dos serviços, ou ambos. Basicamente,
esses riscos estão associados à fase de
implantação, à demanda, a fatores operacionais
ou a eventos macroeconômicos.
Conforme a ANTP, a remuneração pelo
risco estabelece uma provisão financeira
para que as ocorrências inesperadas não
comprometam a capacidade de prestação
dos serviços.
Durante a apresentação, foram mostrados
alguns exemplos de riscos às quais os
serviços de transporte estão sujeitos: alterações
não previstas do sistema de transporte
público, mudança das normas ambientais,
variação na produtividade do
sistema de transporte público, queda de
demanda global por fatores que não dizem
respeito à atuação da empresa, aumento
de gratuidades na composição da remuneração, ausência de reajuste da tarifa,
inadimplemento de subsídio público ou
da câmara de compensação, riscos operacionais
e questões trabalhistas que escapam
à responsabilidade da operadora e
riscos macroeconômicos capazes de desequilibrar
o contrato.
OUTROS ASPECTOS – Na orientação da Planilha do Geipot para o cálculo tarifário, consideravam-se custos fixos e variáveis e os tributos, fatores que eram somados e divididos pelo total de passageiros equivalentes. Na Planilha ANTP, além dos custos fixos (gastos com pessoal e gastos administrativos, depreciação, custo do capital, seguros e outras despesas) e custos vari- áveis (incluindo combustíveis e lubrificantes, rodagem, peças e acessórios), entram a remuneração pela prestação dos serviços e os subsídios, fatores então divididos pelo número de passageiros equivalentes.