12/03/2015 08:00 - Frederico Bussinger
Pontos-chave:
1) "Mobi-logística”, ou "mobilogística”
são termos que não existem nos dicionários. Tampouco normalmente nos conceitos,
planos e gestões. Pena!
2) Pena porque sua
inexistência é sintomática de uma inexplicável, incompreensível, infundada,
ineficaz, improdutiva, ineficiente ... disjunção entre mobilidade e logística:
3) O próximo Congresso da ANTP, o 20º, p.ex., ocorrerá
em junho próximo; incidentalmente em Santos-SP (região que abriga o maior porto
da América Latina): A calhar para uma discussão, ampla e aprofundada e, claro,
integrada, desses 2 universos.
Não; não se sinta diminuído: "Mobi-logística”, ou "mobilogística”, por ora pretenso neologismo, não consta de nenhum dos dicionários da "última flor do Lácio; inculta e bela...” (ao menos dos mais consultados).
Pena!
Pena porque sua inexistência é sintomática de uma
inexplicável, incompreensível, infundada, ineficaz, improdutiva, ineficiente ...
disjunção entre mobilidade e logística:
"9 entre 10 estrelas do cinema” entendem
mobilidade como algo relativo à movimentação de gente; de pessoas. Logística de
cargas. Assim, e por conseguinte, os clientes da mobilidade são
majoritariamente pessoas físicas; da logística, pessoas jurídicas.
Também vêm mobilidade como algo municipal ou, no
máximo, estadual. Logística como federal.
Mobilidade é coisa do Ministério das Cidades.
Logística da Secretaria de Portos – SEP e/ou do Ministério dos Transportes –
MT.
Mobilidade está balizada pelo "Estatuto das Cidades” (Lei nº
10.257/01) e pela "Política Nacional de Mobilidade Urbana” (Lei nº
12.587/12). Para logística não há lei específica e abrangente; apenas para
alguns de seus componentes, como os portos (Lei nº
12.815/13)... e, ainda, leis referenciadas a diferentes capítulos da Constituição
Federal.
Para regulação é justamente o oposto: Logística tem
2 agências (nacionais): ANTAQ e ANTT; mobilidade nenhuma (nem federal, nem
estadual, nem municipal). Talvez porque mobilidade seja essencialmente
planejada e gerida pelos poderes públicos (municipal e estadual); ainda que,
por vezes, delegando/terceirizando a prestação dos serviços. A "produção” da logística, todavia, é mais heterogênea:
A atividade, a prestação de serviço do modo predominante (rodoviário) é
praticamente desregulamentada; o que não acontece com as dos modos portuário,
ferroviário e aeroviário, assim como das infraestruturas (onde há alguma
participação do poder público/concedente).
Mobilidade tem suas associações, seus eventos e
suas publicações. Logística também as suas. Mas distintas.
Com raras exceções as respectivas "tribos” (pessoas, empresas e entidades)
são específicas e não se misturam.
Pena!
Pena porque o território onde atuam, atendem e que
têm que dar respostas são geralmente comuns. Os viários que utilizam são,
majoritariamente, os mesmos. Muitos dos provedores e beneficiários também. Não
raro, as origens e destinos. Um é insumo do outro; o outro insumo do um!
P.ex: As filas/congestionamentos de
caminhões/carretas na Baixada Santista, do outono de
2013, prejudicaram a vacinação dos idosos e a frequências das crianças nas
creches. Os congestionamentos de veículos e as manifestações de pessoas o
acesso dos caminhões/carretas ao Complexo
Portuário da Baia de São Marcos; no Maranhão.
Como, então, mobilidade e logística serem tratadas
como se fossem coisas independentes; coisas autônomas?
Como planejá-las e geri-las separadamente
(principalmente nas cidades, regiões metropolitanas e macrometropolitanas)?
Tanto é impróprio planejar infraestruturas e
equipamentos logísticos sem harmonizá-los com o tecido urbano (os casos da BR-163 e
Santarém-PA e Barcarena-PA são exemplares;
havendo inúmeros outros!); como imaginar-se poder excluir a movimentação de
cargas dos núcleos urbanos e/ou trata-las norteada meramente por restrições:
Seja restrição geográfica/territorial ("não
pode aqui”); temporal ("não pode
nesse horário”); tecnológica ("não
pode com esse veículo”)... ou combinação delas!
Feliz e coincidentemente os portos estão tendo seus
Planos Mestres e Planos de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZs revistos. Os
municípios, por sua vez, revendo seus Planos Diretores e elaborando seus Planos
de Mobilidade. Muitos estados elaborando planos logísticos: Oportunidade,
assim, privilegiada para que haja uma discussão, conjunta, articulada de
mobilidade e logística; para que se explorem as sinergias entre eles(as).
Inclusive envolvendo dimensões ambientais, sociais e econômicas.
O próximo Congresso da ANTP, o 20º, p.ex., ocorrerá em
junho próximo; incidentalmente em Santos-SP (região que abriga o maior porto da
América Latina): A calhar para uma discussão, ampla e aprofundada e, claro,
integrada, desses 2 universos... abordagem que poderia também passar a ser
adotada, também, nas centenas de seminários, convenções e congressos que
anualmente ocorrem no Brasil focados em trânsito, transporte, portos, ferrovias,
aeroportos, rodovias; de alguma forma envolvendo mobilidade e logística.
Hoje generalizou-se o conceito e o termo "mobilidade”. Mas, vale lembrar, trânsito
e transporte (coletivo, público... ) eram tratados como coisas independentes há
20, 30, 40... anos atrás.
Quão distante estamos da "mobi-logística”?
Frederico
Bussinger, ex-secretário de
Transportes de São Paulo; presidente da CPTM e SPTRANS; e diretor do Metrô/SP