1) Como "falta
planejamento” se temos tantos planos?
2) Sabemos mesmo o
que precisa ser feito?
3) Metodologia:
Não é nosso calcanhar de Aquiles?
Não precisaríamos "reformatar nosso HD” (de planejamento)?
"O
planejamento de longo prazo
não trata de decisões futuras,
mas do futuro das decisões do presente‘’
[Peter
Drucker]
"O planejamento estratégico é inútil,
se não tiver sido precedido de uma visão estratégica.’’
[JonhNaisbitt]
"Visão
sem ação, é só um sonho.
Ação sem visão é uma forma de passar o tempo.
Visão com ação pode mudar o mundo.’’
[Joel Barker]
"Mudança é o processo pelo qual
o futuro invade nossas vidas.’’
[Alvin Toffler]
"Planos
são apenas boas intenções,
a menos que se transformem, imediatamente, em trabalho duro.’’
[Peter
Drucker]
"Obstáculos são aquelas coisas, assustadoras,
que você vê quando tira os olhos da sua meta.’’
[Henry Ford]
Os temas eram distintos: Ferrovia (brasileira) e
crise hídrica (paulista). De igual forma, tanto os painelistas
(super-qualificados e representativos) como a concorrida audiência (a da
ferrovia, devido às inscrições no próprio dia, até provocou a troca de auditório,
no intervalo do café!).
Curiosamente, abstendo-se dos substantivos, dos
jargões, das métricas e dos dados utilizados (evidentemente específicos!), ficou
patente que o enredo dos dois workshops,
promovidos pela FIESP (ferrovia e crise hídrica), na última
quarta-feira (22), eram muito similares: A certeza (ou presunção?) de que "sabemos o que deve ser feito” (mesmo
ante a constatação de que os problemas estão aí, são graves e, em alguns casos,
até temos sido surpreendidos). Existência de muitos órgãos (públicos) responsáveis
pelo setor/tema; processo decisório confuso; forte e crescente presença do
Ministério Público, Tribunais de Contas e Justiça na tomada de decisões e,
mesmo, no estabelecimento de políticas públicas. Falta de recursos;
licenciamento ambiental complexo e imprevisível; resistência de "grupos de interesse” (contrários) e de
movimentos sociais (até muitos de pequeno porte).
E, lógico,"falta
de planejamento” e "falta de vontade
política”; dois
bordões-álibis que não poderiam estar ausentes: sempre à mão ante questões
embaraçosas ou correlações de variáveis inexplicáveis. Ah; claro: O que falta,
evidentemente, é ao outro; ou é responsabilidade de terceiros!
Ué! Mas, no início da crise hídrica, o
diagnóstico/acusação não era que a Sabesp não executara planos que ela mesma
havia elaborado? Afinal, os planos existiam/existem ou não existem?
Se o PNLT, tanto o de 2007
como sua última revisão, de 2011, estão fundadas
em um "planejamento integrado”(reafirmado no Workshop!), como pode
o TCU, agora em 2014, constatar que
há "falhas no planejamento integrado e
coordenado” nos projetos do trecho Açailândia(MA)-Barcarena (PA) da
Ferrovia Norte-Sul – FNS, e no da expansão do Porto de
Vila do Conde (Barcarena-PA) – ambos, empreendimentos constantes do PIL-2,
recém lançado? E, mais objetiva e abrangentemente: "...determinar à SEP/PR que apresente
plano de ação e cronograma relativo à atualização dos Planos Mestres
contemplados no Plano Nacional de Logística Portuária - PNLP, ... considerando,
entre outros aspectos, a integração com os demais projetos de infraestrutura e
os impactos dela decorrentes”. (Acórdão TCU nº 2903/2014; de 29/OUT/2014;
objeto do TC 005.342/2014-7). Afinal, os planos de
transporte/logística são ou não são integrados?
Ao início do Workshop Ferroviário
o clássico de Tom Jobim, "Samba de uma nota só”, foi lembrado
para enfatizar a necessidade de que os planos elaborados (as "verdades” que sabemos e formulamos)
sejam repetidas até que "eles” (governantes;
gestores – "outros”, enfim!) se
convençam e os implementem. Será que "Sol de Primavera”, de Beto Guedes ("... a lição sabemos de cor; só nos resta aprender”) não seria mais
própriopara as circunstâncias?
"Decifra-me ou te devoro!”:
Que há planos demais, até em
excesso, é praticamente um consenso. Aliás, quanto de dinheiro, de tempo, de
esforços e de energia são despendidos na elaboração de planos? Portanto, a
questão/problema não é quantitativa: nesse quesito estamos bem!
Mas há um quesito em que não vamos
tão bem assim: A relaçãoimplementado/iniciado. E, se o indicador for
implementado/anunciado, então... Ou seja, a quantidade de planos abortados; daqueles
que "só ficam no papel” (ou nas
gavetas), todos sabemos, é muito grande no Brasil (seja a nível federal,
estadualou municipal): Uma realidade bem distinta da de Cingapura; onde me
explicaram que uma das razões do seu "sucesso”é que "o que é planejado acontece”!
Há, todavia, um quesito ainda mais preocupante:
Será que chegaria a 2 dígitos o percentual de planos que são executados dentro
dos prazos e dentro dos orçamentos estabelecidos? Em tempo: Corrupção à parte!
Se o problema não está no quantitativo, será que
não deveríamos incluir, ao menos como hipótese, uma suspeita qualitativa? Ou
seja; suspeita em relação à estrutura e conteúdo dos nossos planos? Em relação
à metodologia de sua elaboração?
P.ex.: Será que pode ser chamado de plano um
documento que não explicita "o problema a
ser resolvido” (no conceito caro à geometria descritiva) ou o "partido
de projeto” (aos
arquitetos)? Que não tem uma avaliação, séria, de custos? Que não leva em
consideração os condicionantes ambientais e urbanos? As interfaces sociais? Que não trata do
"como” de sua implementação
(particularmente em relação às variáveis políticas e institucionais)? Que se deleita
e se satisfaz com a apresentação de enxurrada de dados, de citações/referências;
ou com profusão de ideias/intenções (ainda que bem alinhadas!)?
E, o mais triste, é que muitos suspeitam que "já fomos melhores!”. Ou seja: Teríamos
desaprendido o que acumulamos ao longo dos últimos 2 séculos;quando implantamos
a extensa malha ferroviária (hoje parcialmente ociosa!) e um conjunto básico de
portos; pântanos foram saneados (o que viabilizou a vida em muitas cidades
litorâneas); tudo em situações muito mais adversas. Mais recentemente também
uma razoável malha rodoviária (em grande medida deteriorada!), rede de
telecomunicações (fixa e móvel), parque hidro-energético, redes de metrôs em
diversas de nossas metrópoles.
Uma comparação de métodos e processos decisórios,
em contextos tão diversos, nem sempre é simples. Mas a realidade nos impõe
concluir que, pelo caminho que estamos trilhando, o alavancar de um próximo
ciclo de desenvolvimento; a construção do nosso futuro (na ferrovia, no
saneamento, no transporte coletivo urbano e nas demais infraestruturas e
serviços públicos) será(seria) mais ineficiente que poderia ser. Sem dúvida, também
mais incerto.
Sejamos claros: Os nossos modelos de planejamento e
de tomada de decisões estão em cheque! Ou não? Talvez tenhamos, mesmo, que "reformatar” nosso "disco rígido” (das escolas aos centros operacionais/serviços;
passando pelos projetistas e canteiro de obras)!
Sugestões-aperitivo:
Dos dois workshops, entre exposições de painelistas
e intervenções dos participantes, algumas observações chamaram atenção (aqui
exemplificadas com temas ferro-portuários):
1) Para
um plano de ação reformador, tão importante quanto o que fazeré o rol do que
não deve/pode ser feito... sob pena de comprometer alternativas/decisões
futuras P.ex.: Se as áreas e armazéns da região da Mooca/Ipiranga, às margens
das linhas ferroviárias, utilizados industrialmente no Século-XX e hoje ociosos,
forem destinados a shoppings ou
conjuntos habitacionais, o sonho de se usar a ferrovia para a ligação RMSP-Porto de Santosestará mais
distante. Talvez, até, inviabilizado: Que significado tem uma ferrovia que "passa” sem ter pátios para
carga/descarga? O mesmo vale para o Pari e a Barra Funda.
2) Ter
não significa usar. Equipamentos (físicos) é condição necessária; mas nem
sempre suficiente para a intermodalidade. P.ex.: Presidente Epitácio (Rio
Paraná) tem um terminal hidroviário de 1º mundo. Também um pátio com linha
ferroviária que o liga ao Porto de Santos. Embarques/desembarques ferroviários
no terminal? Em anos recentes, zero!
3) Menos
pode ser mais. Reduzir a demanda pode equivaler, estrategicamente, a aumentar a
oferta. P.ex.: No Porto de Santos, a transferência (gradual) da movimentação de
grãos para o "fundão do Estuário”(até 1 bilhão de TKUs a menos circulando pelo viário da Baixada Santista!),em terminais contíguos à ferrovia, certamente
é uma melhor solução (logística, ambiental e urbana) que a construção de um "puxadinho” aqui, um túnel ou ponte ali
ou mais uma faixa acolá. E há todos os indícios que, também, mais barata;
inclusive do ponto de vista microeconômico: Essa conta precisa/deve ser feita! OBS:
Tonelada-Quilômetro (TKU) é unidade mais adequada para expressar demandas;
tanto em termos de investimentos necessários (CAPEX), custos de manutenção e
operação (OPEX), consumo de energia, emissões, impactos urbanos, etc.
4) Não há
como o poder público se eximir do planejar; mormente do estratégico: A
manifestação dos painelistas, representantes dos concessionários (MRS e RUMO-ALL-apresentações disponíveis), ao explicar as
ações pontuais, complementares, atualizadoras que, articuladamente (em muito
anabolizadas pelo que os une: proposta de renovação antecipada dos contratos de
concessão) estão implementando, foram contundentes – praticamente um clamor: "O que podemos fazer, está sendo feito. Mais?
Só com participação ativa dos governospara a viabilização!”.
5) PMI/MIPI são importantes,
mas não são uma panaceia. Não são sucedâneos e não substituem a ação, ativa, do
poder públicono planejar. Por isso precisam ser balizados: "Estudar”, sim! Mas em que direção? Isso
precisa/deve ser previamente definido. P.ex.: Será que o interessado, que está
elaborando, via PMI, o 3º EVTEA para o trecho Açailândia-Barcarena, da FNS, logrará modificar e
compatibilizar a modelagem dos terminais do Porto de Vila do Conde, inclusos no
Lote-1 de licitação para arrendamento, a ponto de satisfazer o TCU? Pode ser; mas não é o curso
natural das coisas.
6) Planos
de mobilidade (urbanos) e
planos logísticos (ferrovias, portos, rodovias, dutovias) precisam ser articulados.
7) Prorrogação
antecipada de contratos (de concessão ferroviária e arrendamentos portuários) é
um bom caminho. Mas seria melhor se não fosse uma mera prorrogação: Tem-se, aí,
uma oportunidade, preciosa, para se fazer ajustes estratégicos (como os
exemplificados). Depois, ou será mais caro, ou mais difícil, ou só daqui a 25
ou 50 anos...
8) O CONIT (com visão nacional,
e não apenas federal!) precisa passar a funcionar, regularmente, decidir e
zelar pela integração dos diversos planos/projetos modais e articulação
inter-órgãos.
Esse rol é,
apenas, um aperitivo para estimular a reflexão. Mas, se quisermos, mesmo, nos
tornar mais consequentes; se quisermos que a trinca "ef” (eficácia + eficiência + efetividade) se torne mais real em nossos
empreendimentos, é inadiável que essa esquizofrenia para/no planejar seja
superada.