A resposta certamente não é simples nem inequívoca. E, para
muitos, nem mesmo é relevante. Aliás, faz sentido a pergunta; poderão indagar
alguns?
Reivindicações se diversificam e se ampliam pelo País.
Períodos eleitorais sempre estimulam concessões; via leis ou via ações dos
governantes. A não ser que não nos importemos com que os direitos atendidos
sejam "justos” e sustentáveis, no
médio/longo prazo, uma reflexão sobre a questão faz-se necessária.
E, em meio a perplexidades (catatonias?) que toma conta de
prefeitos e governadores, de Pelotas-RS vem uma iniciativa, inovadora, que
muito pode contribuir para tal reflexão/debate:
O Município licitará seu serviço de ônibus. Está agendada
para a próxima sexta-feira, 27/JUN, uma Audiência Pública. Como subsídio ao
processo o Prefeito Eduardo Leite lançou, no inicio do mês, um site com o edital,
estatísticas, FAQ e outras informações de praxe. Mas inovou ao incluir uma
pesquisa com simulador, on line, para
5 variáveis:
Elas são relativas a atributos dos serviços e/ou direitos.
Para cada uma delas há um parágrafo esclarecedor e alternativas com suas
respectivas variações de custos (a mais ou a menos em relação à situação
presente):
• Idade da
Frota: Se limitada a 4 anos, (+) R$ 0,13. Se a 2 anos, (+) R$ 0,28.
• Ar
condicionado: Se obrigatório, (+) R$ 0,10.
• Integração:
Se for permitida, (+) R$ 0,10.
• Gratuidade
para idosos: Se eliminada, (-) R$ 0,14.
• Passagem
escolar: Se eliminado o desconto, (-) R$ 0,25. Se introduzido o "passe livre”, (+) R$ 0,17.
Ou seja; além de dar transparência ao processo, com o
conhecimento prévio das implicações de suas opções, em termos de custos dos
serviços (e, portanto, das tarifas), a população pode dele participar mais
consciente e mais consequentemente.
No caso de Pelotas-RS, a tarifa cobre todos os custos
definidos (não há subsídios!); mas poderia envolver, também, recursos do
orçamento público. Em casos assim, a discussão se politiza ainda mais, pois
envolve escolhas entre alocações em educação, segurança, saúde, infraestrutura,
etc.
Em transporte público, no Brasil, a metodologia parece ser
pioneira; mas levou-me àquela assembleia no campo de futebol, na longínqua e
emblemática primavera de 1968, reunindo a maioria da população adulta daquela
cidadezinha do interior de Masschussets-USA. Nela foram-lhe democraticamente
submetidas opções de adicionar, sobre um orçamento plurianual básico, 1 coleta
de lixo a mais por semana (eram 2); a compra de mais 1 ou 2 carros de
bombeiros; prestações de um empréstimo para a construção de um novo ginásio
climatizado para a escola primária e de outro para a pavimentação de "n” km de estradas vicinais; etc. etc.
Semanas antes foram publicados o orçamento básico e os valores de custeio (para
os serviços continuados) e dos investimentos (para as novas obras).
Esse um exemplo da associação de uma prática
participacionista com a metodologia do "orçamento-base-zero”
– OBZ; criado e difundido no USA em meados do século passado (01, 02,03,04,05)
como subsídio a escolhas; ao cotejamento de prioridades e alternativas. Hoje é
utilizado por diversas empresas e em vários países.
A experiência de Pelotas-RS é específica para transporte
público. A assembleia no campo de futebol talvez só seja possível para pequenas
cidades. Mas, nelas inspirados, e na era da informática e num mundo conectado
por redes sociais, certamente há como se elaborar planos diretores (que
normalmente não levam em consideração o "quanto
custa”) e orçamentos públicos mais efetivos; não?
"Quem paga a conta?”, "de onde vêm os recursos?” é uma outra questão/discussão igualmente importante e necessária para avançarmos do "eu quero!”, "é meu direito!” para o "dever” e o "como”. Para que o debate seja aprofundado, politizado; consequente, enfim.