10/04/2016 11:00 - Adamo Bazani
Até o ano de 2050, as emissões de gases que provocam o efeito estufa podem aumentar em mais de 80% em comparação ao ano de 2009, principalmente por causa do crescimento da frota de automóveis particulares e motos nas cidades, o que reduziria ainda mais a qualidade de vida e aumentaria as chances de mortes prematuras por causa de problemas relacionados pela poluição. Mas o transporte público é a solução para evitar o agravamento do caos.
A conclusão faz parte de um estudo global desenvolvido pelo ITDP – Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, com escritórios em diversas partes do mundo.
De acordo com o estudo, mais de 100 trilhões de dólares em capital público e privado são investidos anualmente ao transporte individual e mais de 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono são lançados por ano na atmosfera.
O instituto ainda diz que se 20% de toda essa cifra vultuosa deixassem de ser aplicados nos transportes por carros e motos e fossem direcionados para o transporte público, melhoria dos deslocamentos a pé e de bicicleta, é possível evitar o crescimento de 80% das emissões dos gases que provocam o efeito estufa e que vão aumentar as doenças e mortes no mundo.
O estudo do ITDP teve como base dados oficiais da ONU – Organização das Nações Unidas que mostrou que já no ano de 2009 os transportes, em especial os individuais, contribuíram para 25% das emissões globais de gases de efeito estufa. A ONU demonstrou que são necessárias ações ambiciosas para alterar os padrões e mobilidade urbana atuais, com investimentos pesados e rápidos em transporte público por Metrô e redes de alta eficiência de ônibus, com corredores troncais alimentados por ônibus de linhas locais.
Para os corredores, quanto maior o porte dos ônibus, com veículos articulados e biarticulados, melhor será a eficiência energética.
Os investimentos para a mudança da matriz energética dos transportes coletivos são indispensáveis para melhoria da qualidade de vida. O estudo que está no site internacional do ITDP aponta a ampliação da frota de ônibus elétricos como uma ação que não pode mais ser deixada de lado pelos gestores públicos, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.
São diversas as alternativas de ônibus elétricos no mercado, como os tradicionais e modernizados trólebus, híbridos, hidrogênio e elétricos puro com bateria.
A escolha destas soluções deve se basear em diversos aspectos, como a capacidade de investimentos de cada cidade, a exigência de infraestrutura para implantação e os custos operacionais. No entanto, mesmo com investimentos maiores em relação à ampliação de frota a diesel, o estudo mostra o que já foi revelado por outros especialistas: investir em transporte limpo, com metrô junto com os ônibus, traz benefícios não apenas ambientais e para o bem-estar do ser humano, como financeiros, com a redução de enormes custos com a saúde pública.
O estudo adverte, entretanto, que não basta apenas investir em ônibus e metrô. Também é necessário mudar a relação das pessoas com as cidades, além da organização urbana.
Os planejadores urbanos devem reduzir as necessidades de deslocamentos das pessoas dando prioridade ao uso misto do solo, ou seja, gerando empregos nas proximidades das áreas residenciais. Atualmente as pessoas são obrigadas a fazer longos deslocamentos perdendo tempo e qualidade de vida para chegar ao trabalho e depois para voltar para a casa.
O estímulo aos deslocamentos a pé e de bicicleta também são essenciais. Estes incentivos não devem ser apenas teóricos; redes de ciclovias bem elaboradas hoje cumprem a necessidade das pessoas nas viagens curtas. O cidadão deve também ter condições plenas de andar a pé, com calçadas largas, sem buracos e armadilhas. É necessária prioridade ao pedestre em relação ao carro e essa prioridade não se restringe apenas às calçadas. Priorizar o pedestre é também impor a redução das velocidades de carros nas áreas de alta circulação de pessoas, como em centros comerciais. É necessário agir, apesar das críticas que se pode receber de setores mais conservadores, e mostrar que cidade tem de ser para gente e não para carro.
As mudanças para isso não serão nem um pouco fáceis, já que parece que a sociedade, mesmo sofrendo com a prioridade ao transporte individual, está acostumada com esta política atual, seja por comodidade, por ainda cair na propaganda do carro como status, por ser resistente às mudanças, por falta de conhecimento, isso sem contar com grandes interesses econômicos, que estão por trás da indústria da morte do transporte individual. Esses interesses envolvem desde vendedores e produtores de carros e autopeças até quem lucra e muito oferecendo remédios, serviços de saúde e funerários.
Hoje o mundo está voltado para o transporte por ônibus limpos. Londres já está transformando a sua frota dos famosos ônibus de dois andares. Em torno de 300 veículos do tipo devem ter emissão zero de poluentes e outros 3 mil ônibus devem ser híbridos, com emissões bem menores, a partir de 2020. Na China, país que sofre muito com a poluição, os incentivos governamentais são grandes para que a frota de ônibus elétricos aumente. O Blog Ponto de Ônibus noticiou em 14 de março de 2016, que o Departamento de Serviços do Ministério de Transportes da China anunciou que até 2020, 200 mil ônibus no país serão movidos a energias renováveis, principalmente elétrica.
No Brasil, a situação é bastante diferente. Apesar de haver soluções de praticamente todo tipo, com indústrias de ônibus elétricos instaladas no país há mais de 30 anos, como a Eletra e novos projetos e companhias sendo implantadas no Brasil, ainda há grandes resistências do poder público em ser no mínimo inteligente e começar a incentivar de fato formas de transporte que agridam menos o meio ambiente e diretamente própria vida humana.
Além dos ônibus elétricos, claro, o básico não está sendo feito pelo poder público brasileiro: investir e privilegiar de verdade, e não apenas nos discursos, o transporte coletivo.
Transporte coletivo não é ônibus, trem ou metrô, é acima de tudo, gente se deslocando de maneira inteligente.
É triste a situação do País. Enquanto perdemos vida, saúde e até não tempos tempo de estar mais com nossos filhos acompanhando seu crescimento, a Polícia Federal, na Operação Zelotes, investiga pagamento de propinas e lobby para as montadoras conseguirem Medidas Provisórias do governo que garantiram a isenção de impostos
Falta de investimento em transporte público, assim, parece não ser só burrice, mas também passa por corrupção e pragmatismo eleitoreiro.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes