Transporte Público Coletivo e Classe Trabalhadora

12/03/2016 14:30 - Carlos Jorge Ribeiro

Ensaio Crítico apresentado no Curso de Gestão da Mobilidade Urbana da ANTP

A mobilidade das pessoas e seus meios de transporte possuem a capacidade de acompanhar o aumento do espaço urbano, participando do crescimento e desenvolvimento, mesmo sendo de forma desequilibrada e desigual espacialmente. O transporte é o recurso que permite a função da mobilidade que fica entre a oferta e a necessidade, entre a origem e o destino e, entre a classe trabalhadora e o local de trabalho.

A mobilidade das pessoas e seus meios de transporte possuem a capacidade de acompanhar o aumento do espaço urbano, participando do crescimento e desenvolvimento, mesmo sendo de forma desequilibrada e desigual espacialmente. O transporte é o recurso que permite a função da mobilidade que fica entre a oferta e a necessidade, entre a origem e o destino e, entre a classe trabalhadora e o local de trabalho.

Neste ensaio crítico se pretende verificar a relação existente entre o transporte público e a classe trabalhadora, para isto, iremos adotar as categorias de trabalhadores beneficiárias do vale-transporte, definidas no Artigo I do Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987 que regulamenta a Lei nº 7418, de 16 de dezembro de 1985, são elas:

Trabalhadores em geral definidos na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT; empregados domésticos; trabalhadores de empresas de trabalho temporário; empregados a domicílio; empregados do subempreiteiro, em relação a este e ao empreiteiro principal; atletas profissionais; servidores da União e suas autarquias, qualquer que seja o regime jurídico, a forma de remuneração e da prestação de serviços. Os servidores públicos estaduais e municipais são beneficiários do Vale-Transporte por leis concedente específicas.

Por sua vez, se compreende por vale-transporte como sendo o benefício que o empregador antecipará ao trabalhador para utilização efetiva em despesas de deslocamento da residência ao local de seu trabalho e vice-versa - artigo 2 do decreto nº 95.247 (BRASIL, 1987), por meio do sistema de transporte coletivo público urbano ou intermunicipal e/ou interestadual com características semelhantes aos urbanos.

Na apostila do curso Gestão da Mobilidade Urbana - ANTP (2015, p. 33) se constata o meio de transporte público mais utilizado. “O ônibus é a forma de transporte público mais comum no mundo. Trata-se de um veículo que normalmente pode transportar entre 22 e 45 pessoas sentadas”.

A seguir, apresentamos alguns pensamentos que contribuem para relacionar a classe trabalhadora e o transporte público.

O pesquisador BRINCO da Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul – FEE-RS associa o transporte coletivo as classes de baixo poder aquisitivo.

A visão que temos hoje é a de que o transporte coletivo é um transporte para pessoas essencialmente carentes, financeiramente impossibilitadas de asceder ao automóvel. Nessa linha de raciocínio, por exemplo, o ideal de vida de qualquer usuário de ônibus urbano seria de adquirir um automóvel e livrar-se da dependência do transporte público. Ainda que essa possa ser efetivamente uma aspiração bastante corriqueira e mesmo realizável para um certo número de pessoas, o fato é que ela não é obviamente generalizável, ainda mais em uma sociedade com as carências econômicas e sociais como a nossa. (2.006, p. 103)

GWILLIAM (2.003, p. 12) na sua afirmativa reconhece que para a classe menos favorecida economicamente que o transporte coletivo seja essencial para o acesso a suas funções, diz ele:

Um transporte ruim inibe o crescimento. Em termos sociais, ele é o meio de acesso (ou de impedimento) ao trabalho, saúde, educação e serviços sociais essenciais ao bem-estar dos menos favorecidos. A dificuldade de acesso aos locais de trabalho e aos serviços é importante componente da exclusão social que caracteriza a pobreza urbana.

Por sua vez, o documento da Pesquisa Mobilidade e Pobreza do Instituto de Desenvolvimento e Informação do Transporte – ITRANS (2.004, p. 15), argumenta que: “A mobilidade urbana é medida pelo número médio de viagens que uma pessoa faz por dia. Esta mobilidade guarda uma forte relação com a renda, isto é, quanto maior a renda familiar maior o número de viagens realizado por uma pessoa. ” Veja a estatística deste instituto:

As pesquisas apontam que as pessoas com renda familiar abaixo de três salários mínimos mensais fazem, em média, menos de um deslocamento por dia, o que é muito baixo. Para se ter uma idéia, em São Paulo, de acordo com a Pesquisa Origem e Destino do Metrô de SP, de 2002, as pessoas com renda familiar acima de 20 salários mínimos mensais fazem, em média, três deslocamentos por dia. (2.007, p. 15)

Para o pesquisador Alexandre GOMIDE (2.003, p. 8)

O atual processo de urbanização, caracterizado pela ocupação das periferias urbanas, aumenta consideravelmente a necessidade de transporte e a oferta de serviços públicos, os quais frequentemente não suprem a demanda adequadamente. Como resultado tem-se os mais pobres segregados espacialmente e limitados em suas condições de mobilidade.

No que se refere à relação existente entre o transporte coletivo urbano com a pobreza GOMIDE (2.003, p. 10) esclarece seu parecer quando apresenta os Impactos do transporte urbano sobre a pobreza e a tabela de índice de mobilidade por ocupação principal.

De acordo com a argumentação apresentada, se verifica que existe uma forte relação entre o transporte público e a população da cidade. A aderência maior ou menor está relacionada com a renda familiar e a ocupação desempenhada.

Para melhor esclarecer esta relação observe o gráfico abaixo.

Fonte: NTU (2006)

Observando o gráfico anterior se verifica que todas as classes sociais utilizam o transporte público coletivo, mas as classes que mais utilizam e dependem são as classes (D 72%) e C (67%), seguidas da E (66%) e depois, a B (46%) e, por último, a classe A (21%).

Já no gráfico abaixo, se observa que o trabalho é o motivo de maior uso do transporte coletivo urbano. 52% dos usuários, mais da metade são pertencentes à classe trabalhadora. E, aqui, conseguimos completar o argumento da relação.

Diante desta pesquisa podemos concluir que existe uma forte relação entre a classe trabalhadora e o transporte público de uma cidade. Entendemos que a aderência maior ou menor está relacionada com a renda familiar e a ocupação desempenhada. Através da pesquisa realizada na cidade de Pelotas se confirma este estudo através do perfil de mobilidade da classe trabalhadora da cidade de Pelotas que “é três viagens por dia, fazendo um percurso de deslocamento médio de 13 km por viagem, a uma velocidade média de 26 km/h num período médio de tempo de 30 minutos”. (RIBEIRO, 2008).

Carlos Jorge Ribeiro - Geógrafo, SENAT - Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte / Pelotas


BIBLIOGRAFIA

ANTP - Associação Nacional de Transportes Públicos. Gestão da Mobilidade Urbana. São Paulo: ANTP, 2012.

BRASIL. Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987. Brasília, DF, 17 nov 1987.

BRASIL. Lei no 7418, de 16 de dezembro de 1.985. Brasília, DF, 17 dez 1985.

BRINCO, Ricardo. Transporte Urbano e Dependência do Automóvel. Porto Alegre: FEE, 2006.

GOMIDE, Alexandre de Ávila. Transporte Urbano e Inclusão Social: elementos para políticas públicas. Brasília. 2003.

GWILLIAM, Ken. Cidades em Movimento: estratégia de transporte urbano do Banco Mundial tradução: Eduardo de Farias Lima; São Paulo: Sumatra Editorial, 2003.

ITRANS - Instituto de Desenvolvimento e Informação em Transporte. Mobilidade e Pobreza. Relatório Final. Brasília: ITRANS, 2004.

NTU - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS. Pesquisa Mobilidade da População Urbana. Brasília: NTU. 2.006.

RIBEIRO, Carlos Jorge. Mobilidade Urbana: transporte público coletivo e a classe trabalhadora. - Pelotas: UCPel, 2008. Dissertação (mestrado).