17/07/2013 07:39 - Valor Econômico
Francisco Lopes
O título deste texto não é uma piada, nem uma projeção, nem
mesmo a expressão de um desejo. É apenas a constatação de um fato: os últimos
números publicados para o Índice de Atividade do Banco Central, o IBC-BR, que
pode ser considerado uma aproximação em base mensal para o PIB trimestral do
IBGE, indicam claramente que no segundo trimestre de 2013 a economia brasileira
estava crescendo ao ritmo de 4% ao ano.
Mas espere um momento! Não foram esses números que
repercutiram de forma tão negativa na imprensa, sugerindo até que estamos
novamente a caminho da recessão? Basta olhar os títulos de algumas das matérias
publicadas: Indicador do BC mostra país na rota da recessão; Economia tem maior
retração desde 2008; Cada vez mais difícil decolar; Bancos oficiais já prevêem
crescimento abaixo de 2%; IBC-BR reforça sinais da lenta perda de gás da
economia em 2013; Pibinho de inverno.
Na realidade, a única coisa que fica clara aqui é que a
mídia especializada e a grande maioria dos analistas da economia parecem sofrer
atualmente de um pessimismo obsessivo. De fato a leitura que foi feita dos
números do BC configura um caso clássico do que a psicologia cognitiva denomina
de viés de confirmação (confirmation bias), que ocorre quando as pessoas só são
sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas crenças ou hipóteses,
ignorando qualquer evidência em sentido contrário.
Todo esse pessimismo foi produzido apenas pela observação de
que a variação percentual de maio sobre abril do IBC-BR com ajuste sazonal foi
de menos 1,4%. Acontece, porém, que essa série de variação mensal tem muito
ruído. É no mínimo temerário extrair qualquer sinal de direção de movimento com
base na observação de um único mês. Além disso, quando usamos dados mensais a
introdução do ajustamento sazonal não aumenta muito o poder informativo de uma
observação isolada. No dado mensal o padrão de sazonalidade pode variar muito
ao longo do tempo em resposta a uma serie de fatores, como feriados, greves,
paralisações ou mudanças institucionais. Sabemos que não existe técnica
perfeita de ajuste sazonal, mas com dados mensais as dificuldades ficam ainda
maiores.
Se quisermos ter uma ideia precisa do que está acontecendo
com uma economia, o caminho mais seguro é trabalhar com variações em doze
meses. Mesmo assim uma observação mensal isolada tem que ser vista com cautela.
Por exemplo, a variação em doze meses do IBC-BR até maio de 2013 (portanto
sobre maio de 2012) foi de 2,28%, mostrando sem dúvida uma desaceleração
importante em relação à variação em doze meses de 7,3% até abril. Note-se,
porém, que esse excepcional resultado de abril foi simplesmente ignorado tanto
pela imprensa como pela maioria dos analistas de economia. Por outro lado, a
variação em doze meses de maio significou aceleração em relação às variações de
1,16% até março e de 0,44% até fevereiro. Que direção de movimento estaria
sendo sinalizada aqui?
Existe amplo consenso de que a forma mais segura para se
analisar o movimento do PIB é usar dados trimestrais. Não é por outra razão que
contas nacionais em toda parte são sempre elaboradas em base trimestral, como
acontece também com o nosso IBGE. O que então pode ser concluído quando os
dados do IBC-BR são transformados por média para uma base trimestral? Se
compararmos o trimestre composto pelos meses de março a maio de 2013 com o
mesmo período de 2012 obtemos uma variação de 3,74%. Podemos notar também que
ao longo do ano essa variação em doze meses calculada para grupos sucessivos de
três meses só aumentou: 1,55% até janeiro. 1,71% até fevereiro, 2,86% até
março, 3,5% até abril e 3,74% até maio.
Para calcular a variação em doze meses do segundo trimestre
de 2013 precisaremos ter também uma estimativa para o IBC-BR de junho. Para ser
bem conservador, vamos admitir que o número de junho fique 2,5% abaixo do
número de maio, repetindo um comportamento observado em 2012. Isto significa um
número de junho 5,6% abaixo do de abril. Nesse caso a variação em doze meses
para o PIB do segundo trimestre será de 3,95%. Ou seja, parece grande a
probabilidade de que a taxa de crescimento em quatro trimestres do PIB do
segundo trimestre fique muito próxima de 4%.
Se isso for também confirmado pelo IBGE (e é difícil
imaginar porque não seria), poderemos estar falando de uma variação trimestral
na serie com ajuste sazonal do PIB superior a 1%, talvez até próxima de 1,5%.
Vai ser bem mais difícil sustentar o pessimismo quando esses números forem
publicados em agosto. Ainda assim, é importante insistir de imediato numa
leitura mais precisa dos dados da economia. Afinal ninguém pode razoavelmente
desejar que o pessimismo de hoje venha a afetar negativamente decisões
empresariais de produzir e investir, comprometendo nosso crescimento futuro.
Francisco Lafaiete Lopes - PhD por Harvard, sócio da consultoria Macrométrica e ex-presidente do Banco Central (BC).