BETH GARDINER, THE NEW YORK TIMES / LONDRES
Grandes montadoras e locadoras de carros encontraram um novo
nicho de negócio. Em vez de permitir que a popularidade do compartilhamento de
carros afete suas vendas, essas empresas estão se unindo e abrindo novas
companhias na esperança de segurar os clientes que têm e conquistar uma nova
onda de admiradores.
A Daimler e a gigante de aluguel Europcar uniram forças para
criar a Car2Go, enquanto a BMW se associou à Sixt para formar a DriveNow. Ambas
oferecem um serviço baseado em tecnologia e inspirado no Zipcar, que pertence à
locadora Avis.
"Nosso negócio principal nos anos 1970 era vender
carros. No fim dos 70 e nos 80, veio a grande inovação de leasing e
financiamento", disse Tony Douglas, chefe de marketing e vendas da BMW.
"Agora você pode pagar pelo uso de um carro. É como o setor de música.
Antes você comprava um álbum, hoje pode pagar por música executada."
Executivos do setor preveem uma mudança enorme na maneira
como as pessoas, em especial nas grandes cidades, pensam a locomoção. O futuro
da mobilidade, acredita ele, será "multimodal", com os cidadãos
usando smartphones para planejar itinerários combinando carros, bicicletas,
transporte público e caminhada.
"Nós pensamos que este é o futuro", disse Robert
Henrich, diretor-presidente da Daimler Mobility Services, que inclui a Car2Go.
"Consumidores jovens não conseguem mais imaginar a vida sem smartphones, e
precisamos fazer parte do mundo do smartphone."
No ano passado, cerca de 2,3 milhões de motoristas em todo o
mundo estavam associados a algum serviço de compartilhamento de carros, um
número que se espera que vá crescer para 26 milhões até 2020, disse Martyn
Briggs, especialista em mobilidade no grupo de consultoria Frost &
Sullivan.
Cerca de dois terços provavelmente usarão serviços baseados
em pontos fixos, como Zipcar, enquanto um terço usará a nova abordagem sem
retorno, em que os carros não têm um local de permanência estabelecido.
O crescimento do novo setor está sendo ajudado por fatores
como mobilidade urbana e a forte queda de venda de carros para jovens, que não
veem motivo para serem donos de um veículo. O consumidor ligado em tecnologia
quer flexibilidade na relação com o transporte.
Tendências. A
Zipcar, que opera nos Estados Unidos e na Europa, aluga o carro por hora e
requer que o veículo seja devolvido a uma vaga de estacionamento designada num
momento previamente acertado. Já as "novatas" Car2Go e DriveNow
cobram por minuto, e deixam os carros em qualquer vaga na cidade quando tiverem
encerrado o uso. Os motoristas geralmente usam os veículos para viagens
rápidas, só de ida, que não precisam ser planejadas com antecedência.
As companhias negociam direitos de estacionamento com
governos municipais para permitir que seus veículos se espalhem livremente numa
área designada, geralmente dentro dos limites de uma cidade. Quando os
consumidores querem um carro, eles usam um smartphone para localizar o mais
próximo e um cartão de inscrição para liberar seu uso.
As duas companhias, cuja abordagem requer GPS e uma conexão
de internet em cada carro, começaram na Alemanha, onde são extremamente
visíveis e populares, particularmente entre jovens.
"Em quase toda cidade grande, você vê esses veículos
parados por toda parte, e pode entrar num deles e levá-lo", disse Thorsten
Wagner, porta-voz do Instituto Automotivo de Administração da Escola de
Administração Europeia em Oestrich-Winkel, Alemanha.
Um aluno recentemente se queixou para ele de uma variante
local que requeria que os usuários devolvessem os veículos a um ponto de
estacionamento designado. Na visão do aluno, segundo Wagner, isso não é
compartilhamento de carros, pois é "inflexível demais"