30/05/2014 10:13 - Valor Econômico
A crise de mobilidade nas grandes metrópoles fez surgir
iniciativas que associam conveniência e praticidade para empresas e usuários no
transporte de encomendas de pequeno porte. As alternativas para vencer os
congestionamentos incluem a adoção de vans de pequeno porte e à utilização de
drones para fazer produtos de pequeno porte chegar até os consumidores.
A rede de franquias de padarias drive thru Pão to Go está
testando em São Carlos (SP) drones para voar a 2,5 metros de altura e entregar
produtos secos sem sequer pousar no solo. O formato, segundo o criador da rede,
Tom Ricetti, é ideal para o recém-lançado serviço de assinaturas. "O drone
é o motoboy do futuro. Mas ainda não é regulamentado e não serve para áreas
verticalizadas, como São Paulo", observa.
A bicicleta também está na mira para a entrega de pequenas
encomendas. De um ano para cá surgiu uma dúzia de empresas especializadas como
a pioneira Ecobike, de Curitiba, que nasceu em 2011, lançou franquias em 2013 e
já conta com três franqueados. Em Curitiba, conta com 18 ciclistas e mais de 100
mil entregas em dois anos. O fundador Cristian Trentin projeta faturamento de
R$ 1 milhão na cidade em 2014, com clientes como Itaú, O Boticário e Amil, que
dão valor ao serviço prestado. "Fugimos de grandes volumes", alega.
As bikes atuam no espaço liderado pelas motos em mercados
como São Paulo, onde estima-se que circulem cerca de 200 mil motoboys, 10% dos
quais regularizados com licenças e seguros exigidos por lei. Uma das empresas
que atua no segmento é a Eagle, que nasceu em 2003 e conta com uma centena de
motociclistas registrados e três utilitários para carregar até 1,5 mil quilos.
Os custos partem de R$ 32 reais, no caso de motos, e R$ 180, para o carro. Em
média, são atendidos 200 pedidos por dia nas três unidades paulistanas.
O proprietário Wagner Rodrigues avalia a expansão para polos
industriais e comerciais como Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. "O
maior desafio hoje é a falta de profissionais", registra. Ele sentiu o
impacto de sistemas de on-line, como Vaimoto e 99Motos, que reúnem
profissionais autônomos. A plataforma Vaimoto já está beirando 500 solicitações
diárias, com adesão de 3 mil motofretistas e parceria com a Bike Entrega.
A meta é chegar a 20 mil corridas mensais em dezembro. O
serviço ainda está concentrado em São Paulo, mas chegou ao Rio de Janeiro em
abril. "O mercado é mais embrionário", diz o empreendedor carioca
Daniel Silva. Segundo ele, outras praças relevantes para o segmento são
Curitiba e Belo Horizonte.
A Loggi atua na mesma área. O CEO Fabien Mendez explica que
o prazo de entrega é de até 30 minutos em São Paulo, graças a uma rede com 400
motociclistas autônomos e 25 bikers da parceira Courrieros. Em agosto serão
feitos pilotos em outros mercados. A empresa tem outro serviço em banho-maria -
a Go James, para pedidos online de carros executivos, inspirada na Uber, do
investidor-anjo Kees Kolen, um dos responsáveis pelo aporte inicial de R$ 2,6
milhões na Loggi.
Mesmo serviços mais tradicionais ganham novas roupagens. A
entregadora de pequeno porte Rampoldi foca principalmente empresas metalúrgicas
e o comércio na região de Santo Amaro, na capital paulista, oferecendo entregas
rápidas com vans de pequeno porte. O sócio-proprietário Ronaldo Rampoldi participa
pessoalmente das atividades da empresa e atende os clientes com um veículo
próprio e dez agregados. Com isso, garante agilidade com coleta e entrega
direta, sem paradas no caminho. Além de não arcar com custos com a contratação
de pessoal, presta serviços customizados como a troca de nota para entregar
produtos do fabricante para o cliente final, mesmo que intermediados por
revendas. "Grandes empresas não fazem isso", garante. Um dos seis
clientes para serviços desse tipo são as grandes transportadoras.
Rampoldi acredita que um dos maiores desafios do ramo é a
concorrência desleal, já que nem sempre o cliente checa a formalização dos
fornecedores. A questão é que o negócio de transportes lida com margens
apertadas. Na carioca Fast Courier, no mercado de entrega expressa de pequenos
volumes há 17 anos, uma das soluções foi reduzir o faturamento, abrindo mão de
clientes pouco lucrativos.
A empresa conta com quatro caminhões grandes trucados,
outros quatro grandes mais leves, veículos como Kombis e Fiorinos e 40
motoboys. Também está testando bicicletas. Tem clientes como Cultura Inglesa,
Amil, De Millus, Dafiti e Netshoes. O faturamento gira em torno de R$ 2 milhões
ao mês. "Chegamos a R$ 2,6 milhões, mas fomos forçados a tirar clientes
não rentáveis", explica o empresário Rubens Meyer. Um dos recusados
recentes foi a Novapontocom - empresa grande, com serviço maravilhoso, mas que
paga pouco e cujos produtos são visados por ladrões, descreve.
Meyer prefere apostar na fidelização do cliente e
customização do serviço. Oferece ferramenta para rastrear as encomendas e
aplicativo capaz de gravar a posição geográfica do entregador. Consegue
fornecer entregas de e-commerce no mesmo dia entre São Paulo e Rio, por
exemplo, mas segundo ele o serviço sai muito caro para a empresa tomadora. Como
economizar tempo passou a ser o trunfo da atualidade, a Americanas já está
oferecendo entregas no mesmo dia para pedidos feitos até 14 horas, de produtos
específicos. Por enquanto, a iniciativa é restrita a São Paulo. A Giuliana Flores
conta com os serviços de três transportadoras para suportar entregas expressas
em até três horas, como se propõe. Os nomes dos fornecedores ficam em segredo
para garantir o diferencial competitivo, diz o diretor de e-commerce Juliano
Souza.
Outras iniciativas levam o serviço para mais perto do
cliente. A Total Express, especializada em entregas de encomendas fracionadas
de até 30 quilos principalmente para o e-commerce, está testando o serviço
Entrega Fácil com um piloto em Campinas (SP) em parceria com a rede de
conveniência am/pm, dos postos de gasolina Ipiranga, que enviam e recebem as
encomendas.
A empresa foi adquirida em 2011 pela DGB, holding logística
do grupo Abril, e busca criar uma alternativa aos Correios, explica seu
presidente Vito Chiarella. "Estamos apurando os resultados e discutindo a
continuidade do projeto", explica. A ideia da vizinhança também é
explorada pela rede de franquias Cartório Postal, que tem cerca de 300
franqueados espalhados pelo país para agilizar serviços como levantamento e
entrega de documentos. "Vendemos soluções e prazos", resume o
presidente Flávio Lopes da Costa.
Bicicletas avançam em
cidades com trânsito caótico
Nas médias e grandes cidades brasileiras, o trânsito intenso
impõe desafios ao transporte de documentos e pequenas encomendas, fundamental
no dia a dia das atividades de escritórios, indústrias e comércio. Os
congestionamentos também impactam negativamente o meio ambiente por conta da
emissão crescente de gases causadores do efeito estufa. Nesse cenário, os
serviços de entrega expressa de bicicleta avançam como solução.
De acordo com empresários do setor, a bicicleta, em um raio
de dez quilômetros, é mais rápida do que qualquer outro tipo de veículo quando
o tráfego é intenso. A vantagem sobre a moto é superior a dois minutos e o
preço do serviço é mais em conta. Entre outros benefícios, é fácil estacionar a
bicicleta, basta prendê-la em qualquer poste, e o ciclista vira pedestre com
agilidade, a qualquer momento. E, claro, não é preciso parar para abastecer. O
fato de ser um meio de transporte sustentável é outro atributo. A bicicleta, no
lugar de uma moto, evita que cerca de 170 quilos de gás carbônico sejam
lançados na atmosfera em apenas um mês.
Em operação desde 2011, a EcoBike Courier, após o sucesso
alcançado na sua sede, em Curitiba, adotou o modelo de franquias para expansão.
"Para este ano, a nossa previsão de faturamento da rede é R$ 1
milhão", afirma Cristian Trentin, sócio da EcoBike, especialista em
tecnologia da informação, que decidiu partir para o empreendedorismo ao
vislumbrar o potencial do mercado. Em 2013, a companhia faturou R$ 420 mil. Em
apenas três anos da empresa, mais de 10 toneladas de CO2 deixaram de ser
emitidas, calcula Trentin. A inspiração veio de Nova York, mas lá os
entregadores são autônomos e aqui optou-se pela atuação profissionalizada, na
qual os ciclistas são registrados, contam com plano de saúde e seguro de vida.
A EcoBike conta com 18 ciclistas capazes de atender todos os
bairros da capital paranaense e outros sete na cidade de São Paulo, a primeira
franquia inaugurada no final de 2013, com foco na Zona Sul. Porto Alegre e
Cascavel (PR) estão iniciando os trabalhos, com 5 e 4 bikers. A taxa de
franquia varia de acordo com o tamanho do município, mas a média é de R$ 60
mil. Os royalties cobrados somam R$ 1,5 mil e a taxa de publicidade, R$ 500, em
média, a cada mês. Fazem parte do pacote, o uso da marca, o know-how do negócio,
treinamentos, uniformes e mochilas, assim como sistema de telefonia e
rastreamento das entregas. A empresa envia sempre um link aos clientes para que
eles possam monitorar onde está a encomenda. Não é preciso ter um ponto
comercial, a franquia pode funcionar em espaços compartilhados, onde os
coordenadores recebem as solicitações e encaminham aos entregadores,
posicionados em diversos pontos da área de atuação.
Agora, a EcoBike Courier está selecionando ciclistas para
formar uma rede de microfranquias. Neste caso, os próprios empresários são
responsáveis por realizar entregas pedalando. "Em cinco anos, pretendemos
ter 1.200 microfranquias", diz Trentin. Segundo ele, a EcoBike lançará, em
breve, um aplicativo para chamadas rápidas de ciclistas utilizando smartphones.
A empresa quer oferecer soluções, além das entregas de papéis e pacotes. Em uma
frente ainda mais inovadora, a EcoBike está testando um drone em Curitiba. O
programa piloto está sendo feito no atendimento a uma empresa especializada em cartões
de visitas.
Nova e bem sucedida no mercado, a Courrieros começou as
atividades em São Paulo, em outubro de 2012. No decorrer de 2013, o faturamento
avançou 450%. Para 2014, o resultado deve ser três vezes superior ao registrado
no ano passado. "Desde que abrimos, crescemos todos os meses. A demanda
pelo serviço é grande, temos conseguido superar metas", diz André Monteiro
de Barros Biselli, sócio da Courrieros.
A empresa foi criada por três amigos de infância. Biselli,
advogado, trabalhava em um escritório especializado em fusões e aquisições,
Stefano Cappanari, economista, e Victor Castello Branco, administrador de
empresas. Eles têm em comum a paixão por pedalar. "Antes de montar a
empresa, fizemos estudos de mercado e pedalamos pela cidade para fazer o
mapeamento do relevo", comenta Biselli. A Courrieros conta com uma equipe
de 25 funcionários e atende em um raio de 9 quilômetros saindo da sua central,
no bairro de Cerqueira César, entre grandes polos de escritórios das avenidas
Faria Lima e Paulista. Há casos em que os ciclistas ficam alocados diretamente
nos contratos.
A carteira de clientes da Courrieros é diversificada.
Figuram a construtora Odebrecht, o escritório de publicidade Young &
Rubicam, a loja Trousseau e as famosas do e-commerce Netshoes e Flores Online.
A Courrieros oferece o serviço de rastreamento aos clientes. O preço das
entregas é calculado pela distância e sai de R$ 20 a R$ 26 por viagem. Para o
transporte de itens diferenciados, a Courrieros conta com bagageiros, caixas,
cestas e mochilas. Os ciclistas já transportaram cupcakes, livros, flores,
chocolates e vasos, entre outros. No ano passado, a Courrieros conquistou o
prêmio TIC Americas & Eco Challenge, na categoria Empreendedorismo Social.
A premiação faz parte de um programa do Young Americas Business Trust (YABT),
entidade internacional que trabalha em cooperação com a Organização dos Estados
Americanos (OEA). A empresa foi selecionada entre 1.700.
Também no município de São Paulo, a Carbono Zero Courier
iniciou as entregas no final de 2010. Os irmãos e sócios Rafael e Danilo
Mambretti, respectivamente engenheiro elétrico e administrador de empresas,
passaram um ano preparando o plano de negócio. "Percebemos que havia
necessidade de uma alternativa sustentável no serviço de entregas na
cidade", destaca Rafael. Conforme ele, vem aumentando a preocupação
ecológica das companhias. A sede fica em Pinheiros, na zona oeste, mas o
atendimento é feito em toda a cidade. A evolução da empresa é demonstrada pelo
número de ciclistas. No início eram somente dez e, atualmente, são 50. A
Carbono Zero Courier tem sido procurada por escritórios de advocacia, agências
de publicidade e empresas de tecnologia especializadas no conserto de pequenos
aparelhos. O preço cobrado é de R$ 25, em média, por transporte.
Leandro avalia que a bicicleta tende a ser cada vez mais
utilizada, puxando melhorias na infraestrutura e segurança para esse tipo de
locomoção. "Isso acontece mais para lazer, no entanto, há cada vez mais
pessoas indo ao trabalho de bicicleta. Há grandes bancos oferecendo bikes para
aluguel nas grandes cidades", afirma o empreendedor.