27/09/2015 08:45 - Folha de Londrina
Adivinhar o modelo do ônibus só pelo barulho do motor é um
dos passatempos do auxiliar de escritório carioca André Luiz Gomes de Souza, de
33 anos. Ele é busólogo assumido. O termo que ainda não consta nos dicionários
se refere ao estudo dos ônibus. Ontem, o prédio do Museu de Artes de Londrina,
antiga rodoviária projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas, abrigou o 1º
Encontro Nacional de Busólogos (Enbus). Souza viajou – de ônibus – quase mil
quilômetros para participar do evento. "O contato com todos esses ônibus
aqui não tem preço", contou.
Enquanto o sonho de consumo da maioria são carros esportivos
como Ferrari ou Porsche, os busólogos idolatram mesmo os Busscar, Marcopolo,
Comil. A iniciativa partiu do casal Ricardo e Andrea Perrud. Ela, que é
jornalista e blogueira, conta que fez um serviço de resgate da memória para a
Viação Garcia. "Já gostava muito do tema, mas nesse tempo eu viajei por
várias rodoviárias do País, colhendo histórias de vida. Foi um trabalho muito
enriquecedor", lembrou.
A jardineira Catita, da Viação Garcia, primeiro ônibus do
Norte do Paraná, um Ford BB de 1933, foi a atração principal da exposição. O
veículo que desafiou os atoleiros na terra vermelha nos primeiros anos de
colonização atraiu olhares de curiosidade e admiração "É muito importante
preservar esta história. O ônibus faz parte da nossa vida", contou o
comerciante Sérgio Luiz Vocoli, de 62 anos, que desembarcou em Londrina na
rodoviária antiga em 1979.
Mas nem só de passado vive a busologia. O pequeno Arthur, de
8 anos, é um dos exemplos de que a cultura em torno dos ônibus ainda tem muito
o que render. O menino londrinense é fã dos coletivos e não sossegou enquanto
não conseguiu uma visita à garagem de uma empresa. "Eu gosto muito de
viajar de ônibus. Eles também são meus brinquedos favoritos", disse,
mostrando as miniaturas. Isadora Cunha, de 9 anos, não é busóloga como Arthur,
mas fez questão de conferir os ônibus de perto. Ela se encantou com a
diligência da Princesa dos Campos, que fazia a linha Ponta Grossa-Curitiba nos
anos 1940. "Não imaginava que o ônibus era assim antes", comentou.
Os visitantes puderam conferir cerca de 30 modelos
históricos e atuais com alta tecnologia de empresas de todo o Brasil. "É
muito bom relembrar a história e ver que as empresas estão acompanhando as
evoluções tecnológicas. Afinal, viajar de ônibus é uma experiência agradável,
pois você curte a viagem, admirando paisagens", ressaltou o tecnólogo em
mecânica Luiz Antônio Pigozzo. Ele vai lançar um livro ainda este ano sobre
dicas de otimização de rendimento para empresas. Pigozzo defende a valorização
da profissão do motorista. "Hoje existe uma vocação com forte restrição familiar,
mas no geral não há muitos interessados em ser motorista de ônibus. As empresas
precisam criar miniclubes, incentivar essa paixão", defendeu.