23/01/2014 08:52 - O Globo
RIO - O alemão Thomas Bach, de 60 anos, foi eleito
presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) em setembro de 2013. Ao
chegar para a entrevista no Copacabana Palace, após testemunhar o caos
decorrente da pane na SuperVia, foi ele quem disparou a primeira pergunta: "O
que está acontecendo no Rio?” Bach reconheceu que nenhuma cidade-sede ficou
pronta dois anos antes dos Jogos, mas ressaltou que não há um único dia a
perder. No COI desde 1991, Bach foi medalha de ouro em esgrima nos Jogos de
Montreal (1976).
O senhor deve saber que o serviço de trens no Rio foi interrompido
nesta quarta-feira, causando um nó no trânsito da cidade. O COI não teme que
algo semelhante ocorra durante as Olimpíadas? Afinal, os trens são cruciais
para se chegar ao Engenhão e ao Complexo de Deodoro. O senhor discutiu esses
problemas de transporte com as autoridades brasileiras?
Creio que o que aconteceu mostra que o Rio precisa de uma
transformação em todo o seu sistema de transporte. E os Jogos podem funcionar
como um excelente catalisador para essa transformação, para essa mudança. Esse
seria um dos maiores legados dos Jogos para os cariocas.
Mas o senhor está otimista de que o governo conseguirá resolver todos
esses problemas a tempo? Afinal, faltam pouco mais de dois anos para os
Jogos...
Estamos muito confiantes, porque estamos vendo um forte
comprometimento por parte de todos os níveis de governo. Ontem (terça-feira)
tive a oportunidade de me reunir com a presidente Dilma Rousseff. Ela ressaltou
sua determinação de que esses Jogos sejam um sucesso, porque eles deixarão um
legado não apenas para o Rio, mas para todo o país. Hoje (ontem) estive com o
governador e o prefeito do Rio, e também foi possível ver e sentir que há uma
grande união entre esses três diferentes níveis de governo, e é por isso que
estou certo de que nas próximas semanas, nos próximos meses, veremos um novo
dinamismo nos preparativos. E o que pode ser obtido com esse tipo dinamismo? Vimos
isso no trabalho do Comitê Organizador, que fez um ótimo trabalho nos últimos
meses, com progressos significativos.
O senhor disse na terça-feira em Brasília que o tempo é crucial para os
Jogos no Rio. Há várias instalações em atraso, inclusive para a Copa do Mundo,
como a Arena da Baixada. No caso das Olimpíadas, em março fará um ano que o
Estádio João Havelange, o Engenhão, que vai sediar o atletismo, principal
esporte olímpico, está fechado. O COI não está preocupado com isso?
Repito que estamos confiantes, porque todos os envolvidos —
as três esferas de governo, o Comitê Organizador — sabem muito bem que não há
tempo a perder, que é preciso manter o ritmo observado nos últimos dois meses.
E isso é o mais importante: que todos estejam cientes da pressão do tempo e, ao
mesmo tempo, determinados a resolver os problemas. Nenhuma cidade-sede ficou
pronta dois anos e meio antes dos Jogos. Ainda temos dois anos e meio pela
frente. Se cada dia for utilizado adequadamente — e não temos dúvida de que
eles o serão —, então tudo estará pronto.
Para a Copa do Mundo, já há o risco de que um ou dois estádios não
fiquem prontos. O COI não teme que algo semelhante ocorra com os Jogos?
Não estamos nos comparando com a Copa. Junto a nossos
parceiros, estamos nos concentrando na preparação dos Jogos Olímpicos. Com o
comprometimento de todos, estamos confiantes de que tudo vá funcionar.
Mesmo com relação ao sistema de transportes, o COI está confiante de
que o Rio terá um legado?
Tanto o Rio como o Brasil terão um grande legado das
Olimpíadas. Para o Rio, obviamente, haverá a melhoria do sistema de transporte,
a construção de unidades habitacionais, os hotéis e a infraestrutura, que
atrairão mais turistas, gerando mais empregos. Há ainda o impulso à economia do
Rio, que se refletirá em todo o país. Além disso, os Jogos são o único evento
que reúne pessoas de todo o mundo, não apenas competindo, mas vivendo sob um
mesmo teto na Vila Olímpica. Estaremos transmitindo uma forte mensagem de
respeito e contra a discriminação, contra qualquer tipo de racismo. Esse também
é um grande legado. Além disso, os Jogos deixarão os brasileiros orgulhosos,
porque será uma excelente maneira de mostrar o que o país pode fazer em um
projeto tão complexo, com respeito a tecnologia, infraestrutura e organização,
bem como em respeito à hospitalidade e ao entusiasmo dos brasileiros.
Durante a Copa das Confederações, o país enfrentou muitos protestos,
que criticavam os gastos com estádios. O COI não teme que haja novas
manifestações de rua na ocasião dos Jogos?
Não creio que haverá protestos, mas precisamos, tanto nós
como o Comitê Organizador, passar a mensagem de que haverá esse legado. A
população precisa saber o quanto vai se beneficiar dos Jogos. Estou certo de
que, se os Jogos de 2016 forem bem-sucedidos, o Rio ficará em situação
semelhante à de Barcelona: as pessoas, mesmo passadas muitas gerações, vão
falar de um Rio de antes e de depois das Olimpíadas, um Rio muito melhor.
Então, a mensagem tem de ser transmitida, para mostrar às pessoas que elas não
apenas se beneficiam dos Jogos Olímpicos, mas, a longo prazo, dessas melhorias
de infraestrutura.
Caberia ao governo brasileiro passar essa mensagem?
Isso não é responsabilidade apenas do governo, mas de todos:
do Comitê Organizador, da cidade, do governador. Esta manhã tive uma reunião
com os patrocinadores, e foi muito encorajador ver que eles também pensam dessa
maneira. Eles querem contribuir para espalhar essa mensagem.
O senhor acha que o sucesso dos Jogos depende do desempenho do país
anfitrião? O máximo de medalhas que o Brasil conquistou em uma Olimpíada foram
17. O objetivo é chegar a 27, 28 medalhas em 2016...
É claro que o sucesso do país anfitrião contribui para o sucesso dos Jogos. Se você olha para os atletas brasileiros, houve uma grande melhora nos últimos anos. É claro que ainda é necessário apoio, principalmente nos esportes em que o Brasil não tem forte tradição. Mas estou certo de que os brasileiros vão receber calorosamente atletas de todo o mundo.