Em SP, transporte individual cresce mais que o coletivo

11/03/2014 08:00 - Folha de SP / O Estado de SP / G1

 Veja na íntegra a Pesquisa de Mobilidade da Região Metropolitana de SP

Leia: ‘A São Paulo dos trilhos’ – Jurandir Fernandes, Folha de SP

Viagens de Metrô entre passageiros da região aumenta 68% e de trem 54% - Diário de Suzano

  • Deslocamentos de carro, táxi e moto subiram 21% entre 2007 e 2012; viagens de trem, metrô e ônibus aumentaram 16%
  • Apesar de aumento em sistema sobre trilhos de 2007 a 2012, continua dependência excessiva de veículos sobre pneus

Os deslocamentos por transporte individual na região metropolitana de São Paulo cresceram mais do que os do transporte coletivo.

Entre 2007 e 2012, as viagens feitas com carros, motos e táxis aumentaram 21% --enquanto as por ônibus, trens e metrô subiram 16%.

O resultado integra pesquisa divulgada ontem pela Secretaria de Transportes Metropolitanos de São Paulo.

Na prática, a metrópole seguiu, com isso, na contramão do que seria desejável do ponto de vista urbanístico.

O levantamento mostra que a população continua com dependência excessiva de ônibus e automóveis para se locomover. Juntas, as duas modalidades representavam 57,4% de todas as viagens.

Simbolicamente, os deslocamentos com carros (12,6 milhões) chegaram até a ultrapassar os realizados de ônibus (12,5 milhões) --embora dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais.

"É fruto das políticas públicas que foram implementadas sempre a favor do carro. Tanto no caso da redução de impostos quanto na construção de obras viárias", diz Ailton Brasiliense, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos.

O estudo apresentando ontem é uma amostragem intermediária entre duas pesquisas "Origem e Destino" (OD), a mais abrangente do setor, realizada de dez em dez anos.

Ele se baseia em 8.115 entrevistas domiciliares, contra as 30 mil da OD de 2007.

Em 2012, as viagens de transporte coletivo somavam 54,3%, contra 45,7% das por transporte individual. Em 2007, as cifras eram 55,3% e 44,7%, respectivamente.

INCENTIVO

As viagens de ônibus tiveram aumento menor (13%) que as de automóvel (19%) e abaixo da média geral (15%). Houve também um acréscimo acentuado da utilização de motocicletas (44%).

De um lado, ganha peso a opção individual --que reflete, ao menos em parte, a política de incentivos fiscais para a compra de autos e motos mantida pelo governo federal.

O aumento é puxado pelas classes mais baixas e incentivado pela questionável qualidade de ônibus, metrô e trens.

De outro lado, os crescentes congestionamentos empurram parte da classe média para o transporte coletivo.

O problema é que permanece a predominância de veículos de capacidade mais limitada e mais poluentes que os deslocamentos sobre trilhos, cuja rede é muito pequena.

Diante da supremacia dos ônibus, a notável alta do número de viagens de metrô e trens --respectivamente 45% e 62%-- acaba tendo efeito limitado. Não é à toa que elas somam só 12,4% do total.

A pesquisa se refere a 2012, antes da criação de 291 km de faixas exclusivas de ônibus na capital e da prometida expansão de linhas de metrô e monotrilho --78 km-- para os próximos anos da década.

Por outro lado, só em 2013 a frota de carros e motos ganhou 130 mil unidades --ritmo que não deve diminuir.

Vou sem aperto, diz jovem que trocou ônibus por moto

O atendente Sandro Souza de Oliveira, 22, é um dos milhares de paulistanos de baixa renda que trocaram o transporte público pelo conforto do carro ou da moto nos últimos anos.

Para fugir do desconforto do ônibus lotado, o morador do bairro do Imirim, periferia da zona norte, passou a ir trabalhar de moto há dois anos. A troca também o fez economizar tempo e dinheiro.

Antes, ele demorava 1h30 de casa até a loja de motos onde trabalha em Santa Cecília, no centro da cidade. "Hoje gasto só 15 minutos. E sem aperto", afirma.

Com a motocicleta, Souza gasta R$ 75 a menos por mês com gasolina do que desembolsava usando o Bilhete Único no transporte coletivo.

Ele aproveita as duas horas a mais no dia para ficar com a família e praticar esportes. "Agora, ainda consigo ir para a academia e jantar mais cedo", conta.

Na outra ponta --pessoas com renda familiar superior a R$ 4.976-- o auditor contábil Nilson de Lima Barboza largou o carro e encarrou trem e metrô. Ganhou o tempo que perdia no trânsito, diz ele. "Com o tempo extra, comecei a fazer inglês e consigo ler até dois livros por mês."

O empresário Gustavo Carvalho, 52, morador da Lapa (zona oeste), também desistiu do automóvel. Em seu caso, a decisão foi ideológica.

Há oito anos, sua Land Rover foi roubada. "A minha família decidiu que não valia mais a pena usar carro em São Paulo", conta.

Agora anda de bicicleta, ônibus e metrô. Como viaja bastante, também abandonou o táxi para ir até o aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, após descobrir um ônibus que o liga ao Tatuapé. "Agora só uso o metrô e esse ônibus", diz.

Seus três filhos, na casa dos 20 anos, também preferem o transporte público para ir ao trabalho e à faculdade. Nenhum deles tem carro nem carteira de motorista.

Há quem ainda prefira o carro. O contador Moaci Alves de Sousa Junior, 35, que usa o carro para trabalhar há oito anos, afirma que não pensa em voltar à vida das catracas. 

"Troquei por causa do conforto. Prefiro pegar trânsito a esperar ônibus e voltar para casa apertado depois."

Horário do almoço vira novo pico dos deslocamentos na Grande SP

Viagens no meio do dia cresceram e superam as realizadas no começo da manhã e fim de tarde

  • Educação é principal fator de deslocamentos nesse período; viagens a pé e de bicicleta são as que mais aumentaram

O horário do almoço passou a concentrar a maior quantidade de deslocamentos de moradores da região metropolitana de São Paulo --mais do que no começo da manhã e final da tarde, tradicionais períodos de rush e de congestionamentos.

O número de viagens disparou entre as 11h e as 13h, segundo pesquisa de mobilidade divulgada pelo Estado.

Se em 2007 a quantidade de deslocamentos nesse período estava na casa dos 4 milhões, em 2012 ela pulou para mais de 5 milhões.

Das 6h às 7h e das 17h às 18h, por exemplo, a quantidade de viagens por todos os tipos de transporte era próxima de 4,5 milhões por período.

Esses deslocamentos vão desde trajetos curtos (como almoçar ou fazer compras) até longos, tanto de carro, ônibus ou metrô como na condição de pedestre (para ir ao trabalho/escola ou quando a distância supera 500 metros).

Aliás, as viagens não motorizadas, a pé ou de bicicleta, são as que mais cresceram nesse horário do almoço.

EDUCAÇÃO

Quando os dados da pesquisa são separados pelos motivos que levam as pessoas a fazerem seus deslocamento no horário do almoço, a principal explicação está nos deslocamentos realizados por motivo de educação.

Por volta de 3 milhões de viagens são bem no meio do dia tendo como finalidade a ida à escola, à faculdade ou a algum curso, por exemplo.

"Esse pico significativo no horário do almoço está relacionado principalmente ao bilhete único, que permitiu a inclusão de muitos usuários no transporte público", afirma Peter Alouche, engenheiro de transportes.

O bilhete único dos ônibus foi lançado na capital paulista ainda na primeira metade da década passada, mas seu uso na região metropolitana de São Paulo ganhou força no decorrer dos anos devido à integração com a rede de metrô e de trens.

Deslocamentos gerados essencialmente por motivo de trabalho aparecem atrás, com menos de 2 milhões.

As demais finalidades aparecem espalhadas pelo dia.

De acordo com Alouche, a gratuidade das viagens de transporte coletivo para aposentados e idosos também é um incentivo para que essas pessoas usem mais transporte público fora dos horários convencionais de maior movimentação de pessoas.

"Há o fato também de as empresas modernas terem flexibilizado seu horário de trabalho, permitindo aos seus funcionários terem maior tempo livre na hora do almoço", afirma o engenheiro de transportes.

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O Estado de SP

Em SP, transporte coletivo recua e uso de carros e motos volta a subir em 5 anos

Pesquisa de Mobilidade do Metrô na Região Metropolitana mostra que, entre 2007 e 2012, das 29,7 milhões de viagens motorizadas, 45,7% eram individuais e 54,3%, coletivas; entre 2002 e 2007, taxas eram de 44,7% e 55,3%, respectivamente

 

 

 

 

Os carros e as motos voltaram a ter crescimento no total de viagens realizadas na Região Metropolitana de São Paulo, em detrimento do transporte público, entre 2007 e 2012. Embora o aumento seja pequeno, de apenas 1% em relação ao período de 2002 a 2007, ele mostra que as pessoas ainda têm trocado o ônibus por carro, apesar dos congestionamentos.

Os dados estão na Pesquisa de Mobilidade da Região Metropolitana do Metrô de 2012, cujos números foram divulgados nesta segunda-feira, 10. O total de viagens da região, incluindo a pé e de bicicleta, cresceu 15% entre 2007 e 2012, totalizando 43 milhões por dia. Nesse universo, o transporte coletivo cresceu 16%, de 13,9 milhões para 16,1 milhões de viagens por dia, enquanto o transporte individual cresceu 21%, de 11,2 milhões para 13,6 milhões de viagens por dia – um total de 29,7 milhões de viagens motorizadas.

Segundo a pesquisa, em 2007, 44,7% das viagens eram de modo individual. O porcentual passou para 45,7%. O inverso aconteceu com o transporte público. Em 2007, 55,3% das pessoas usavam transporte coletivo. Agora, são 54,3% da população da Região Metropolitana.

Segundo o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o aumento de 8% na taxa de emprego no período e o aumento demográfico da região de 2% são os principais fatores responsáveis pelo aumento de viagens de forma geral.

Embora não tenha sido mensurado, o aumento da renda também contribui. "A política pública de incentivo à compra de carros, acrescido da grande taxa de pessoas empregadas, é o fator que explica a preferência pelo carro", disse Fernandes.

A frentista Hilma Alves, de 47 anos, comprou o primeiro carro há um ano e meio. "Antes, só andava de transporte público. Andava não, sofria", afirmou. Agora, ela divide o carro com o marido. "Não me importo de pegar ônibus, que até acho bom, mas o problema era que eu esperava às vezes uma hora até ele chegar. Não dá para esperar todo esse tempo", disse.

Desde que compraram o veículo, ela e o marido têm ido à praia no fim de semana, o que não faziam nunca, além de visitar os parentes. "Mudou a nossa vida." Nem os custos para manter o carro assustam a frentista: "É caro, mas não tem como ficar sem. Tudo parece mais fácil e rápido", afirma.

As entrevistas da pesquisa foram feitas entre novembro e dezembro de 2012 e entre março e abril de 2013, antes dos protestos de junho e antes da instalação das faixas exclusivas de ônibus da Prefeitura de São Paulo.

Histórico. O conceito de "viagem" é qualquer deslocamento feito por uma pessoa entre dois pontos específicos, usando para isso um ou mais modos de transporte. A primeira Pesquisa Origem-Destino, feita em 1967, apontou que 70% das pessoas usavam transporte público. Dali em diante, o porcentual só caiu. Em 2007, depois da adoção do bilhete único, que barateou o custo das passagens, o porcentual de viagens de carros começou a cair – até a divulgação dos resultados de ontem.

Ricos estão usando mais ônibus e metrô

Faixa que ganha mais de R$ 9 mil teve alta de 6%

O que mais chamou a atenção do governo do Estado na divulgação dos resultados da Pesquisa de Mobilidade 2012 foi uma "distribuição de renda" no uso transporte coletivo. Enquanto houve uma diminuição de 2% nas viagens por modo coletivo entre as pessoas que ganham até R$ 1.244 e entre R$ 1.244 e R$ 2.488 por mês, a pesquisa mostrou crescimento de 6% nas viagens por transporte público feitas por quem ganha mais de R$ 9.330 por mês - e 1% de aumento entre quem ganha entre R$ 4.976 e 9.330.

Houve aumento de 44% no uso de metrô no centro expandido da capital (onde a renda média é maior) contra crescimento no uso do transporte no norte, noroeste e oeste da Região Metropolita (que cresceu, em média, 22%).

"Esse aumento nas classes mais altas, no entanto, não foi suficiente para fazer o porcentual do transporte coletivo crescer mais, porque as classes menos favorecidas usaram mais o transporte individual", disse o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. "É um indicativo importante para nós porque mostra que, se o transporte for acessível e melhorar, as pessoas migram para o transporte coletivo", ressaltou o secretário.

  G1 SP

Congestionamentos de SP causaram prejuízo de R$ 40 bilhões em 2012

Número de pessoas que se deslocam de carro e de moto cresceu muito mais do que o de passageiros do transporte público nos últimos cinco anos.

Ao todo, R$ 40 bilhões foram jogados fora no trânsito da maior cidade do país em 2012. O cálculo é da Fundação Getúlio Vargas, que mostra o prejuízo que o congestionamento causa em São Paulo.

Nos últimos cinco anos, o número de pessoas que se deslocam de carro e de moto cresceu muito mais do que o de passageiros do transporte público, e o resultado é cada vez mais congestionamento.

Até em horários em que não costumava ter trânsito, como o do almoço, por exemplo, já concentra mais viagens do que pela manhã e à noite por causa da saída das empresas e das escolas.

Em cinco anos, os deslocamentos pela cidade - inclusive a pé - cresceram 15%. No mesmo período, a população aumentou apenas 2%.

Está cada vez mais difícil falar em horário de pico. O estudo de mobilidade divulgado na segunda-feira (10) pelo governo paulista mostra que, muitas vezes, o congestionamento ao meio dia é maior do que de manhã ou no fim da tarde.

Quem pode, abre mão do carro. Os números mostraram que as pessoas com renda alta estão aderindo ao uso do transporte coletivo, que aumentou 16%. Mas as pessoas de renda baixa estão usando mais os carros e este tipo de deslocamento subiu 21%. A frota de veículos particulares cresceu 18%.

"Passo muito tempo no carro”.

"Mais ou menos umas duas, três horas”.

"Tem alternativa, mas é complicada. Também pega trânsito ou lotação, no transporte público”.

Sabe aquela história que tempo é dinheiro? Pois é mesmo. Todo o tempo perdido nos congestionamentos pode ser convertido em prejuízo financeiro. Entram nessa conta o aumento do consumo de combustível, o custo do transporte de carga, os danos causados pela poluição e, claro, todas as horas de trabalho desperdiçadas.

A Fundação Getúlio Vargas fez o cálculo: os gastos gerados pelo trânsito em São Paulo passaram de R$ 17 bilhões, em 2002, para R$ 40 bilhões, em 2012. A maior parte foi perdida em horas produtivas. Em dez anos, só este gasto subiu de R$ 10 bilhões para mais de R$ 30 bilhões.

Sem ter para onde correr, algumas empresas adotaram soluções caseiras. A prática do home office, ou trabalho em casa, tem descido dos altos escalões e tomado todos os departamentos.

Em uma multinacional de eletrônicos, os funcionários podem escolher um dia da semana para trabalhar de casa. O diretor de RH diz que o rendimento aumentou e as despesas diminuíram. "Se 20% da população é flutuante, ao longo da semana, você pode trabalhar com espaço menor. Muitas vezes a comunicação acaba acontecendo praticamente via internet, onde a gente sabe que os custos são muito menores”, afirma Eduardo Martins.

Guilherme Pesinato foi para o escritório. "Dormi menos e perdi uma hora no trânsito”, conta o analista de marketing.

Em casa ele fica mais descansado, mais concentrado, mas também não tem moleza não. "Trabalho de igual para mais. A cobrança é sempre a mesma, independente se eu tiver no escritório, na rua ou em casa”, afirma.

Adriana Cataplano só não trabalha em casa em dia de reunião. A empresa ajuda a pagar as contas de energia e internet, e ela diz que consegue entregar um trabalho melhor. "Trabalhar em casa tem o benefício de você começa a trabalhar descansado, isso traz qualidade para o trabalho com certeza”, afirma a gerente de negócios.

A pesquisa de mobilidade indicou os três tipos de deslocamento que mais aumentaram, na Região Metropolitana: o transporte escolar subiu 51;, o uso dos táxis, 50%; e as viagens de trem foram as que mais cresceram: 62%.