Bairros querem mudar novo zoneamento

15/12/2015 07:40 - O Estado de SP

Leia: Moradores correm para vetar mudanças antes da votação do novo zoneamento - O Estado de SP

Um grupo de moradores da capital partiu para o ataque contra o novo zoneamento previsto para a cidade de São Paulo - o texto tramita na Câmara Municipal. Organizados em associações de bairro, eles lotam audiências públicas e colhem adesões em abaixo-assinados para barrar o que consideram inadequado no projeto de lei.

A lista é longa: vai da criação de corredores de comércio em bairros residenciais à liberação de torres sem limite de altura em ruas estreitas ou na várzea de rios, passando ainda pelo temor da instalação de uma nova estação de lixo.

O QUE OS MORADORES PEDEM?

Veja os principais pleitos apresentados pela sociedade

- Preservação das ZERs

- Redução dos perímetros de ZEUs

- Alteração na classificação das ZCORs

- Eliminação de ZCORs em bairros residenciais

- Proibição de qualquer atividade comercial ou de serviços em ZERs

- Definição, no texto da lei, das atividades que serão permitidas em cada tipo de ZCOR

DICIONÁRIO

ZERs

São as Zonas Estritamente Residenciais da cidade, bairros como os Jardins, o Planalto Paulista e o Parque das Bandeiras.

ZCORs

São as Zonas Corredor localizadas dentro ou ao redor dos bairros residenciais. Estão espalhadas pela cidade, em bairros como Alto de Pinheiros, Parque Previdência e Morumbi

ZEUs

Sãs as Zonas de Estruturação Urbana, que permitem a construção de espigões nas proximidades de estações de metrô e corredores de ônibus, conforme diretriz do Plano Diretor. Estão em toda a cidade, como Moema, Vila Madalena e Sacomã

ZPIs

São as Zonas Predominantemente Industriais, onde é permitido atividades desse setor. Algumas delas, no entanto, ficam próximas de bairros formados só por casas, como a Vila Jaguara

ZEIs

São as Zonas de Interesse Social, demarcadas para receberem Habitações de Interesse Social, prédios destinados à população de baixa renda.

Vereador entra na Justiça contra votação do novo zoneamento

SÃO PAULO - O vereador Gilberto Natalini (PV) entrou com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça de São Paulo contra a votação da nova lei de zoneamento. Em trâmite na Câmara Municipal, o projeto de lei estabelece as regras para o uso e ocupação do solo de São Paulo.

Define, por exemplo, onde terá comércio e indústria, onde o mercado imobiliário poderá erguer torres sem limite de altura ou mesmo quais região deverão ser preservadas. Mas, segundo o parlamentar, o texto é ilegal, pois não descreve, com clareza e precisão, os perímetros e os limites de cada zona".

Natalini argumenta que todas as leis de zoneamento aprovadas até agora para a cidade contêm, no texto, a descrição dos perímetros que estipulam os limites das zonas. O projeto em trâmite na Casa não segue essa tradição. Segundo o vereador, não basta publicar mapas.

"Ainda mais esses mapas apresentados, que são genéricos e permitem diversas interpretações. Por isso, estamos pedindo ao juiz que suste a tramitação do projeto, enquanto esse vício grave não seja sanado". E completa: "No Brasil, a primazia é da lei escrita no ordenamento jurídico, com as disposições claramente explicitadas para que o cidadão possa ter acesso à informação a que tem direito."

Elaborada pela gestão Fernando Haddad (PT), a proposta está na pauta de amanhã, dia 15, podendo ser votada em plenário a partir das 15h. Para virar lei será preciso o aval de 37 dos 55 parlamentares.

A posição de Natalini é defendida por ao menos 25 associações de bairro, como o Estado mostrou hoje. A lista inclui moradores dos Jardins, Alto da Boa Vista, Pacaembu, Chácara Santo Antônio, Planalto Paulista, Parque Previdência e Jardim das Bandeiras, por exemplo. Apesar de distintos, os grupos têm demandas semelhantes, especialmente no que diz respeito à necessidade de mais debate antes da votação final.

Líder da gestão Haddad na Câmara, o vereador Arselino Tatto (PT) afirmou na tarde desta segunda, dia 14, que a orientação do prefeito continua sendo a de votar o projeto ainda neste ano. Na semana passada, no entanto, a base governista não obteve apoio nem sequer para manter a sessão aberta.  

Editorial

Zoneamento às pressas

Mais uma vez a pressa do prefeito Fernando Haddad, sempre de olho no possível ganho eleitoral de suas iniciativas, pode acarretar sérios prejuízos à cidade. Foi e está sendo assim com as faixas exclusivas para ônibus e as ciclovias, implantadas improvisadamente, sem estudos técnicos que atestem se elas são realmente úteis e, em caso positivo, na medida suficiente para justificar seu impacto sobre o sistema viário. O mesmo ocorre agora com o projeto da nova Lei do Zoneamento, que se quer aprovar às carreiras, de olho na eleição municipal.

Os paulistanos afetados pelas mudanças propostas no zoneamento fazem o que podem para apresentar seus pontos de vista e defender legitimamente seus interesses. Mas sua capacidade de atingir esse objetivo, convencendo os vereadores, é limitada pelo pouco tempo de que dispõem para isso – tendo em vista a complexidade da matéria –, desde que ela foi colocada em discussão em outubro do ano passado. Pelo menos 25 grupos de moradores de regiões que sofrerão mudanças importantes, a maioria membros de associações de bairros, além de participar de audiências públicas na Câmara, resolveram promover manifestações, para conquistar o apoio da opinião pública.

A lista do que consideram equivocado no projeto inclui, entre outros itens, a criação de corredores comerciais em bairros residenciais e a liberação da construção de torres sem limite de altura em ruas estreitas, que alteram profundamente suas características e podem prejudicar seus moradores. O que inquieta essa parcela da população é que ela nem ao menos sabe o exato alcance das medidas propostas.

O presidente da Associação AME Jardins, João Maradei, resume bem esse aspecto da questão: "Não sabemos até agora o que será permitido nas zonas de comércio. Não basta apresentar as exceções”. O grande temor dos moradores é que essa falta de clareza permita que bares, restaurantes, supermercados e até mesmo casas noturnas se instalem em vias como a Avenida Europa e a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins, que são lindeiras de ruas estritamente residenciais.

Associações do Alto de Pinheiros, Morumbi, Brooklin Velho, Alto da Boa Vista e Planalto Paulista pensam da mesma forma. Alguns, como Nancy Cardia, da associação que reúne moradores do Alto da Boa Vista, parecem já não ter muita esperança de conseguir a anulação dos corredores comerciais e querem apenas evitar o pior: "O ideal seria a retirada das Zonas de Corredor (ZCor), mas, já que o governo não aceita fazer isso, pedimos que ao menos sejam limitadas as atividades permitidas (nelas) para reduzir o impacto”.

A própria Associação Comercial de São Paulo, diretamente interessada na criação das ZCor, defende a clara definição do que poderá ser explorado nelas. "Isso facilitaria a convivência com os moradores. Nossa intenção não é degradar os bairros”, diz seu vice-presidente, Antônio Carlos Pela. Mas o relator do projeto, vereador Paulo Frange (PTB), rejeita fazer constar dele uma lista detalhada dessas atividades. E o prefeito Fernando Haddad finge que não tem mais nada a ver com a questão, limitando-se a dizer que 60% das reivindicações da população foram aproveitadas, como se essa fosse uma questão apenas aritmética. Se coisas importantes, como tudo indica, estiverem nos 40% restantes, que se danem os afetados por elas.

 

Uma das principais razões pelas quais tudo isso está acontecendo é apontada por Sergio Reze, membro do Conselho Municipal de Política Urbana, em artigo publicado ontem no Estado: a impossibilidade, por causa do pouco tempo que o poder público lhe oferece para isso, de efetiva participação da população em assuntos importantes como esse. Cita ele o exemplo de várias cidades dos Estados Unidos nas quais o zoneamento foi discutido com a população de três a cinco anos, ao contrário de São Paulo, apenas um ano e meio. As cidades sofrem mudanças e precisam, sim, adaptar-se a elas. Mas com o indispensável cuidado.

Emenda altera zoneamento de terreno de Haddad

São Paulo - Emenda apresentada ao projeto de revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo altera as funções de um terreno da família do prefeito Fernando Haddad (PT) no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo, transformando seu lote de "Zona Exclusivamente Residencial (ZER)" para "Zona Corredor 1 (ZCOR-1)", o que libera certas atividades econômicas no terreno, mas sem mexer nos limites de metragem do imóvel.

A informação foi divulgada pelo próprio prefeito, que publicou nota no site da Prefeitura de São Paulo nessa segunda, 14, informando a mudança. "Em nome da transparência, que tem pautado minhas ações à frente da Prefeitura, informo, a quem possa interessar, que tomei conhecimento de uma emenda ao projeto de Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, em tramitação, que altera trecho da Avenida Afonso Mariano Fagundes, afetando diretamente imóvel de propriedade da minha família desde os anos 1960. Pelo interesse público, não me manifestarei sobre o mérito da proposta, defendida em audiências públicas do processo participativo por cidadãos da região e acolhida por vereadores. Mas não tenho como não comunicar o ocorrido para que não paire dúvidas sobre a lisura do processo, antes do início das votações em plenário", diz o comunicado.

Nas ZCORs, que não existiam na cidade até agora, será permitido comércio dentro de áreas residenciais. Moradores de bairros como os Jardins, na zona sul, têm se manifestado contra a novidade, por entender que trazem perturbação para áreas residenciais.

Segundo o relator do projeto de lei na Câmara, vereador Paulo Frange (PTB), autor da emenda, os comerciantes da avenida onde o prefeito tem casa "foram os que mais fizeram pressão nas 46 audiências públicas" do projeto, a fim de que o local virasse zona corredor. Moradores do bairro, entretanto, são contrários à mudança. "É um dos poucos locais verdes que ainda restam na cidade. A chegada de comércio na região vai trazer degradação", disse o líder comunitário Carlos Cruzelhes.

"Soube só na manhã de hoje (ontem) que o prefeito tinha um imóvel nessa rua", continuou o vereador. "O prefeito conversou comigo duas vezes. Quando apresentou o projeto e depois da aprovação na comissão (de urbanismo), para parabenizar. No mais, não fez nenhuma interferência", diz Frange.

Mudanças

A Avenida Afonso Mariano Fagundes foi apresentada como uma das novas zonas corredores na primeira prévia da nova lei de zoneamento, no começo do ano. Diante da resistência de moradores, a mudança foi retirada do projeto enviado ao Legislativo. Na Câmara, entretanto, ela voltou a ser zona corredor. O texto ainda precisa ser votado pelos vereadores.