21/09/2013 06:40 - Folha de SP
A linha 4-amarela, a primeira de operação privada do metrô
de São Paulo, teve um aumento de 14% no número de passageiros transportados no
primeiro semestre. A remuneração da concessionária ViaQuatro, porém, cresceu
26% no mesmo período.
A empresa recebe do governo estadual por passageiro
transportado, segundo uma tarifa definida no contrato.
Secretaria diz que considera tarifa média para pagar
concessionária
Para quem só usa a linha, o valor repassado é integral.
Quando o passageiro faz integração com outras linhas da rede, o valor é a
metade.
Hoje, o governo tem que desembolsar R$ 3,13 por passageiro
que usa exclusivamente a linha amarela --gastando mais do que os R$ 3 que cobra
de passagem.
A passagem chegou a subir para R$ 3,20 em junho, mas o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltou atrás após a onda de protestos.
No primeiro semestre, o número dos passageiros exclusivos
dobrou em relação ao ano passado. Já o de passageiros que fazem integração
subiu apenas 8%.
O aumento dos repasses também ocorreu porque a tarifa de
remuneração, que não é vinculada à tarifa pública, teve em fevereiro o reajuste
anual previsto em contrato.
O valor passou de R$ 2,93 para os R$ 3,13, aumento de 7%.
Foi a primeira vez, desde que o contrato foi assinado, em 2006, que a tarifa de
remuneração superou a passagem cobrada dos usuários.
PPP
A linha amarela foi a primeira PPP (Parceria Público
Privada) do país. O governo ficou responsável pela construção dos túneis e
estações, e a ViaQuatro comprou trens e implantou os sistemas de operação em
troca do direito de operar a linha por 30 anos.
Segundo pesquisa da ANTP (Associação Nacional de Transportes
Públicos), os usuários consideram a linha a melhor da rede paulistana.
Na linha 6-laranja, que será a primeira PPP em que a
construção também será feita por uma concessionária, o critério de remuneração
aboliu a divisão por tipo de passageiro e adotou tarifa única.
As últimas estações da linha amarela a serem inauguradas
foram República e Luz, em setembro de 2011.
No mês seguinte, a linha começou a operar em horário
integral.
Em quase dois anos de operação plena, a ViaAmarela foi
multada apenas uma vez por problemas no serviço. A multa foi de R$ 140 mil,
aplicada devido a falha que atrasou o início da operação em 10 de março de
2012.
A empresa contesta a multa e entrou na Justiça para tentar
uma anulação.
Na segunda fase, prevista para 2014, serão abertas mais cinco estações. Mas as obras na última estação, na Vila Sônia, atrasaram e ela será inaugurada apenas em 2015. Também há dúvidas sobre a abertura da estação São Paulo-Morumbi no ano que vem.
Secretaria diz que
considera tarifa média
A Secretaria dos Transportes Metropolitanos afirma que a
comparação entre o crescimento da remuneração da concessionária ViaQuatro e o
aumento do número de passageiros é "equivocada".
A pasta diz que os pagamentos respeitam a combinação de três
fatores: reajuste anual da tarifa de remuneração, variação da demanda de passageiros
e distribuição da demanda entre passageiros exclusivos e integrados.
"Não é correto, portanto, deduzir que a remuneração da
ViaQuatro é bem superior ao crescimento dos usuários transportados pela linha.
A tarifa média atual paga é de R$ 1,72 e, em que pese ela não ter qualquer
relação com a tarifa pública do sistema metroviário, seu valor é bem abaixo dos
R$ 3 que são pagos pelos passageiros do Metrô e da CPTM", diz, em nota.
A pasta afirma que o crescimento dos passageiros exclusivos
"reflete unicamente os desejos e necessidades de deslocamentos dos
usuários" e que ele "demonstra que a linha tem atendido às
expectativas de grande parte da população, que consegue realizar seu trajeto
sem precisar fazer transferências".
Os passageiros exclusivos representam hoje 10% do total
transportado na linha 4.
A remuneração da ViaQuatro também leva em conta a qualidade
do serviço prestado. Uma equipe faz inspeções mensais e checa, por exemplo, a
manutenção dos trens. O resultado gera um índice que pode reduzir a
remuneração. A secretaria, no entanto, não informou os índices.
Sobre a mudança da regra adotada na tarifa de remuneração da
linha 6-laranja, que aboliu a divisão por tipo de passageiro, o governo diz que
o modelo de PPP é "completamente diferente".
BARÃO DO ÔNIBUS
A família Ruas, do maior empresário de ônibus de São Paulo,
tem participação de 30% na ViaQuatro, por meio da empresa Montgomery.
A concessionária é controlada pela CCR, dona de 58% do negócio. Outros sócios são a Mitsui, empresa de trens japonesa (10% de participação), RATP, responsável pelo metrô de Paris (1%), e o grupo argentino Benito Roggio (1%).